União Europeia e EUA ampliam sanções contra Moscou
28 de abril de 2014Tanto a União Europeia quanto os Estados Unidos acirraram, nesta segunda-feira (28/04), suas sanções contra a Rússia, numa tentativa de forçar o país a contribuir para uma distensão da crise na Ucrânia.
A UE decidiu impor contra mais 15 indivíduos o bloqueio de contas bancárias e suspensão de vistos de ingresso no bloco europeu. Os nomes serão divulgados no Diário Oficial da UE desta terça-feira. A lista dos sancionados passará a contar, assim, com 48 personalidades públicas russas e ucranianas.
Washington igualmente estendeu suas medidas punitivas a mais sete representantes do governo russo, assim como a 17 companhias ligadas ao presidente Vladimir Putin. Além disso, não mais serão concedidas licenças para a exportação de determinados produtos de alta tecnologia passíveis de ser empregados pelas Forças Armadas da Rússia, e as licenças já emitidas ficam suspensas.
Entre os sancionados, listados no website da Secretaria de Defesa americana, está Igor Sechin, diretor executivo da operadora estatal de energia Rosneft. Ele declarou num comunicado que as relações da empresa com seus parceiros não serão afetadas. Assim como no caso da UE, as sanções pessoais consistem no congelamento de contas nos EUA e restrições de viagem.
O Kremlin classificou as medidas como "inaceitáveis", acusando a Casa Branca de alienação. O principal consultor econômico do Kremlin, Andrei Belusov, comentou que elas terão pouco impacto sobre a economia, e que só aumentarão a determinação da Rússia e de seus aliados. Por sua vez, deputados republicanos americanos criticaram a punição como "branda demais", pressionando o governo Barack Obama a adotar ações mais drásticas.
Jogo de interesses
A Casa Branca ameaçou, ainda, setores-chave inteiros da economia russa com embargos, caso se realizem na Ucrânia novas operações militares a mando do Kremlin. Segundo estimativas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Moscou já teria enviado cerca de 40 mil soldados para a fronteira ucraniana.
Na última semana, o G7 (grupo das maiores economias industrializadas do mundo – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) havia concordado quanto a um endurecimento das medidas contra a Rússia.
Como as relações comerciais das nações da UE com a Rússia são mais próximas do que as dos EUA, as medidas europeias teriam um efeito potencialmente maior do que as americanas. Contudo, devido aos abalos consequentes à economia europeia, há resistência na UE contra a aplicação de embargos econômicos – constituindo a "Fase 3" das sanções, a mais severa. A União Europeia é, por exemplo, dependente do abastecimento de gás russo, que cobre um terço da demanda do bloco.
O Ministério russo da Energia anunciou para a próxima sexta-feira, em Varsóvia, um encontro com a UE e a Ucrânia sobre a dívida de Kiev relativa ao fornecimento gás natural. O comissário europeu da Energia, Günther Oettinger, comunicou que participará, só faltando a confirmação da presença ucraniana.
Segundo Moscou, o Estado praticamente falido deveria à estatal Gazprom mais de 2,2 bilhões de dólares em pagamentos atrasados. O premiê interino ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, concorda em saldar a dívida, contanto que Moscou volte a baixar os preços do gás.
Presença militar ocidental na região
Jatos da Força Aérea britânica se encontram no espaço aéreo báltico para integrar uma missão de patrulha sobre a Estônia, Letônia e Lituânia, como parte da resposta da Otan à crise na Ucrânia.
"O Reino Unido deve continuar a desempenhar seu papel, respondendo às ações russas, pressionando Rússia a mudar de curso e ajudando o povo ucraniano nesta situação de necessidade", declarou o ministro britânico da Defesa, Philip Hammond.
Com a chegada de 150 soldados à Estônia, na tarde desta segunda-feira, encerrou-se também a primeira fase da mobilização de tropas americanas para os Países Bálticos e a Polônia. Nos próximos meses, os militares participarão de exercícios na região.
Sua permanência está prevista para até o fim do ano, mas políticos locais já se empenham por uma prorrogação dessa estada, que traz uma sensação de segurança adicional a esses quatro países do Leste Europeu. O envio de um total de 600 homens por Washington é interpretado na região como um gesto visível de solidariedade.
O primeiro-ministro da Estônia, Taavi Rõivas, comentou: "Juntos, somos fortes." O ministro polonês da Defesa, Tomasz Siemoniak, declarou à imprensa que o estacionamento permanente das tropas dos EUA é uma meta declarada. Para o comandante supremo das Forças Armadas letãs, tenente-general Raimonds Graube, a chegada dos militares americanos seria "um sinal claro de que a Otan está disposta a defender a Letônia, caso necessário".
Os acontecimentos das últimas semanas na península da Crimeia e na Ucrânia Oriental despertaram entre os vizinhos poloneses e bálticos (cuja população inclui minorias de idioma russo) velhos temores quanto às pretensões hegemônicas do Kremlin.
Impasse quanto a inspetores da OSCE
No leste da Ucrânia, em vez da redução da tensão almejada por Kiev e pelas potências ocidentais, a situação segue se agravando. Segundo uma porta-voz do governo, o prefeito da Carcóvia, Gennadi Kernes, recebeu tiros pelas costas. Após operação de emergência, seu estado é estável.
Em Konstantinovka, uma delegacia de polícia foi invadida, presumivelmente por ativistas pró-Moscou. No aeroporto aéreo de Kramatorsk, desconhecidos atiraram contra tropas governamentais, ferindo dois soldados.
Há semanas, líderes pró-russos exigem na região um referendo popular, a federalização abrangente e até mesmo o desligamento em relação a Kiev – como ocorrido no início de março com a Crimeia.
Desde a última sexta-feira, oito inspetores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), entre eles, quatro alemães, estão detidos na cidade de Slaviansk. O governo alemão exigiu que o autoproclamado "prefeito do povo" da cidade separatista, Vyacheslav Ponomaryov, os liberte "sem demora, incondicionalmente e incólumes".
Os militantes de Slaviansk acusam os observadores militares da OSCE de espionagem para a Otan, tratam-nos como "prisioneiros de guerra" e consideram só devolvê-los em troca da libertação de companheiros seus pelo governo pró-ocidental ucraniano – uma sugestão rechaçada por Kiev.
AV/dpa/rtr/afp