Vôo gratuito para passageiros da concorrência
28 de outubro de 2002A estréia da mais nova empresa aérea alemã de baixo preço transformou-se numa bem sucedida ação promocional de uma das suas principais concorrentes. Tão logo o primeiro vôo da Germanwings, entre Colônia/Bonn e Viena, atingiu a altitude de dez mil metros, um grupo de passageiros deu-se a conhecer: vestiu apressadamente camisetas verdes da empresa Deutsche BA e começou a distribuir brindes entre os clientes da concorrente – uma passagem aérea gratuita da DBA. À tripulação da Germanwings foi entregue o prêmio fictício de "melhor imitadora da DBA entre as empresas aéreas de baixo preço".
A Germanwings – empresa pertencente à Eurowings, uma subsidiária da Lufthansa – reagiu com humor ao golpe promocional da DBA, uma subsidiária alemã da British Airways, que se considera a pioneira na venda de passagens aéreas de baixo custo. As duas empresas foram criadas para garantir às respectivas matrizes (Lufthansa e BA) um quinhão do mercado de vôos baratos. Mas elas enfrentam, da sua parte, uma pressão crescente de concorrentes menores, como Hapag-Lloyd Express ou Ryanair, com ofertas às vezes inacreditáveis.
Mais barato que trem
O vôo de estréia da Germanwings foi precedido de enorme campanha publicitária, oferecendo vôos de conexão entre várias metrópoles européias com preços a partir de 29 euros (o equivalente a cerca de 107 reais). As passagens ferroviárias entre as cidades servidas pela Germanwings custam, no mínimo, três vezes mais.
A reação das concorrentes não se fez esperar: a Deutsche BA lançou a venda pela internet de 25 mil passagens aéreas das conexões entre Berlim, Düsseldorf, Colônia/Bonn, Munique e Stuttgart, a partir de fevereiro próximo, pelo preço de 5 euros (18,42 reais). Uma passagem de trem de segunda classe, entre Colônia e Berlim, por exemplo, custa 97,60 euros (cerca de 359 reais).
Outra concorrente, a Hapag-Lloyd Express, anunciou o lançamento em dezembro próximo da sua nova rota européia – entre Colônia/Bonn e Pisa ou Bergamo, na Itália – com passagens ao preço de 19,90 euros (73,30 reais).
O segredo do baixo custo
Segundo Jürgen Ringbeck, vice-presidente da empresa de consultoria Booz Allen Hamilton e especialista no setor do transporte aéreo, as companhias de low fares podem vender suas passagens a baixo preço, porque têm um custo operacional 60% menor que o das empresas tradicionais. Entre outras coisas, elas optam por um único tipo de aeronave, o que lhes garante uma manutenção de baixo custo.
Além disto, as empresas trabalham com um mínimo de burocracia: as passagens são reservadas pela internet ou através de call centers, eliminando as despesas intermediárias (comissões às agências de viagens, custos de escritórios próprios de representação). O cliente paga o vôo antecipadamente, através de transferência bancária ou cartão de crédito. Não é emitida nenhuma passagem. O cliente recebe apenas uma confirmação da reserva por e-mail ou fax. No dia da viagem, esta confirmação é apresentada ao funcionário no balcão da companhia, recebendo então o cartão de embarque.
Também o serviço gratuito de bordo foi inteiramente eliminado nos vôos de baixo preço. Mas isto não significa que os passageiros estejam fadados a passar sede ou fome: eles se deparam com uma oferta variada de produtos, que podem ser solicitados às aeromoças – desde, naturalmente, que estejam dispostos a pagar por isto. Desta maneira, o serviço de bordo não gera custos adicionais às empresas aéreas e sim, um pequeno lucro.
Na opinião de Jürgen Ringbeck, as empresas de baixo preço deverão ocupar duradouramente um quinhão de 20 até 30% do mercado aéreo europeu. O perito vê a empresa nova-iorquina JetBlue como o futuro modelo para a Europa: a tendência deverá ser, cada vez mais, a criação de uma espécie de "clube" de cada empresa, cujos associados – os clientes – poderão usufruir de ofertas sensacionais. /am