Variante nas relações franco-alemãs
27 de outubro de 2003O ano de 2003 já pode ser declarado como o da redescoberta da amizade teuto-francesa. Com um encontro de cúpula de dois dias a partir desta segunda-feira, em Poitiers, Gerhard Schröder e Jean-Pierre Raffarin, dão início à cooperação regional entre Alemanha e França. O ano começou com um jubileu histórico em 22 de janeiro - o dos 40 anos da assinatura do acordo de amizade dos dois países após a Segunda Guerra Mundial, conhecido como Tratado Eliseu.
Na ocasião, a amizade ameaçava cair na rotina e, inesperadamente, o presidente francês, Jacques Chirac, assumiu publicamente posição contra a guerra dos Estados Unidos no Iraque. Assim ele salvou a política externa alemã da ameaça de isolamento internacional por causa do não categórico ao uso das armas dito por Schröder em campanha pela reeleição.
Representação mútua
- Alemanha e França surpreenderam com uma decisão nada convencional em 17 de outubro, quando o presidente francês representou o chanceler federal alemão na cúpula da União Européia para discutir o projeto de Constituição da comunidade. Schröder teve que permanecer em Berlim para participar da votação de um pacote de reformas importantes. Na realidade, Berlim e Paris partilham a mesma opinião sobre o projeto da Carta Magna, mas nunca tinham ido tão longe e muitos aguardam agora uma oportunidade para o chanceler representar o presidente francês.É diferente a questão em debate agora em Poitiers. Schröder tem pouco a dizer, pois a cooperação regional é uma questão para os governadores alemães. A França é favorável a uma regionalização do Estado e com isto quer dizer descentralização. Esta é uma palavra estranha na Alemanha, cujo governo está encaminhando uma reforma do federalismo.
Federalismos diferentes - Neste ponto há diferenças, pois o federalismo francês tem pouco a ver com o alemão. E as 22 regiões francesas têm pouco em comum com os 16 estados alemães. Por isto mesmo é muito difícil definir um modelo de cooperação regional enquanto franceses e alemães não puderem falar com uma língua, para não falar um idioma.
É bastante provável que, no final do encontro em Poitiers, as duas delegações tenham novamente que destacar a importância de os dois lados fomentarem o aprendizado do idioma um do outro, principalmente em nível regional, para que os dois povos saibam, finalmente, em que contexto podem cooperar sem correr riscos e cometer confusão comparando maçã alemã com pêssego francês.