Vaticano afasta padre que declarou ser gay
3 de outubro de 2015Na véspera do Sínodo da Família no Vaticano, a Santa Sé afastou neste sábado (03/10) um padre polonês por ele ter revelado publicamente ser homossexual, em entrevista ao diário Corriere della Sera.
O padre Krzysztof Charamsa, oficial na Congregação para a Doutrina da Fé, assegurou ao jornal italiano de maior circulação que é gay, que tem um companheiro e que se sente orgulhoso disso. O prelado disse, ainda, à edição polonesa da revista Newsweek deste sábado que o clero é "preponderantemente homossexual e, infelizmente, também homofóbico".
O Vaticano anunciou que Charamsa será despojado de suas responsabilidades na hierarquia da Igreja. Segundo o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, as declarações de Krzysztof Charamsa são "muito graves e irresponsáveis", por terem sido divulgadas um dia antes do Sínodo da Família.
Quanto ao futuro de Charamsa no organismo da Cúria, no qual se encontra integrado desde 2003, Lombardi disse que o padre "certamente não poderá continuar a desempenhar suas funções na Congregação para a Doutrina da Fé e nas universidades pontifícias". Outros aspectos de sua situação serão decididos pelo bispo local, segundo o porta-voz.
Advogado de minorias
Na entrevista ao Corriere della Sera, Krzysztof Charamsa declarou que não se importa com as consequências da sua revelação.
"Quero que a Igreja e a minha comunidade saibam quem sou: um sacerdote homossexual, feliz e orgulhoso da minha identidade. Estou preparado para pagar as consequências, mas já é hora de a Igreja abrir os olhos e compreender que a solução que propõe, a abstinência total da vida do amor, é inumana."
Nas entrevistas concedidas, Charamsa admitiu que sua ação tornaria insustentável a sua permanência no clero. "Eu sei que vou ter que desistir do meu ministério, que é toda a minha vida", disse ao periódico.
O clérigo de 43 anos ressaltou, no entanto, que seu objetivo é desafiar o que designa de uma Igreja "paranoica e retrógrada" em relação às minorias sexuais.
Sínodo da Família
Durante entrevista coletiva em Roma, onde foi acompanhado por seu companheiro catalão, Eduardo, Charamsa disse estar feliz com o fato de ter assumido ser homossexual. Ele afirmou querer agora atuar como "advogado de todas as minorias sexuais e de suas famílias, que sofreram em silêncio".
Ao mesmo tempo, ele agradeceu ao "nosso Papa fantástico, que nos permitiu novamente acreditar no diálogo".
A sua entrevista surge um dia antes do início do Sínodo Ordinário de Bispos para a Família, que vai se estender até o próximo dia 25 de outubro. Na série de encontros, prelados de todo o mundo vão debater e rever a doutrina católica sobre a família, incluindo temas como divórcio e a posição da Igreja frente à homossexualidade e a fiéis gays e lésbicas.
CA/dpa/dw