Venda de petróleo pelo EIIL ameaça aumentar tensão no Oriente Médio
7 de julho de 2014À medida que avança, o grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) contabiliza a conquista de campos de petróleo importantes da Síria, como Al-Omar e Al-Tanak. Juntamente com o campo iraquiano de Ajil, conquistado no final de junho, o grupo sunita dispõe de grandes áreas petrolíferas dos dois lados da fronteira sírio-iraquiana.
A imprensa internacional noticia que os radicais sunitas começaram no início de julho a vender petróleo do Iraque no mercado negro, já que não podem oferecê-lo no mercado regular. Segundo agências de notícias, o ministro francês do Exterior, Laurent Fabius, culpou a organização terrorista por vender petróleo ao regime do ditador sírio Bashar al-Assad.
As indicações são de que o objetivo principal do grupo seria reunir grandes somas, visando se armar para as próximas batalhas. "Os combatentes do EIIL vendem o petróleo a quem tiver interesse", afirmou à agência de notícias turca Anadolu o prefeito da cidade de Tuz Khurmatu, no norte do Iraque. "Eles precisam disso para obter armas e munição."
Essas vendas, porém, têm o potencial de aumentar o caos na região. Com o petróleo, Assad pode abastecer tanques a serem utilizados contra os grupos rebeldes. Em contrapartida, com os lucros angariados, o EIIL pode investir em seus próximos alvos de conquista na Síria e no Iraque.
Isso representa um grande risco para o regime em Damasco, pois, na luta contra os rebeldes seculares, os jihadistas são apenas um parceiro (comercial) temporário. Seu objetivo não é manter Assad no poder, mas sim ampliar a área de influência de seu recém-proclamado califado. Na Síria, ele se estende da fronteira com o Iraque até a com a Turquia, e no Iraque os terroristas continuam a expandir seu domínio em direção ao sul.
Impacto no mercado de petróleo
O campo de petróleo Al-Omar se encontra já desde novembro de 2013 nas mãos de jihadistas. Na época, ele foi conquistado pelos rebeldes da Frente Al Nusra, que o cederam então aos sunitas do EIIL. Desde então, produzem-se lá 10 mil barris de petróleo por dia.
As mais recentes conquistas não só estimulam a violência, como também geram insegurança no mercado internacional de petróleo. Ainda em maio, a Agência Internacional de Energia (AIE) estimou que o Iraque se tornaria um dos maiores exportadores de óleo. Até 2035, a agência avaliava uma produção anual iraquiana de 9 milhões de barris – portanto quase três vezes a atual, de 3,3 milhões de barris. Com isso, o país superaria a importância da Arábia Saudita como exportadora de petróleo. A marcha vitoriosa do EIIL, porém, frustrou essas expectativas.
No momento, os combatentes sunitas ainda se beneficiam das elevadas receitas do petróleo. Porém poucas empresas exploradoras estariam dispostas a investir num Iraque sob o domínio do Estado Islâmico. Em artigo publicado no Wall Street Journal, os cientistas políticos americanos Gal Luft e Robert McFarlane apontam que, devido ao conflito na região, somente 15% dos investimentos são direcionados para novos campos de petróleo no Oriente Médio.
"Caso o Iraque se afunde ainda mais numa guerra civil, os investimentos vão continuar a diminuir e conduzir a mais cortes de produção", preveem Luft e McFarlane. Atualmente, os grandes campos de petróleo no sul do Iraque – portanto em território xiita – ainda não estão sob risco agudo. Mesmo assim, o avanço do EIIL pode provocar novas alterações no mercado internacional de petróleo.
Vantagens de curto prazo
De acordo com o cientista político Paul Stevens, do think tank britânico Chatham House, a luta contra o EIIL só poderia ter sucesso se o Irã também se envolver. E é certo que Teerã tem grande interesse em impedir o nascimento de um califado radical sunita em sua fronteira noroeste. Ainda assim, pode estar esperando da comunidade internacional algum tipo de recompensa por seu engajamento.
Stevens avalia que o encaminhamento da situação no Iraque leva a ver como inevitável o fechamento de um acordo, o qual também poderia incluir a suspensão das sanções que pesam presentemente sobre o país asiático. "Isso colocaria o Irã em posição de abrir suas instalações de extração e produção aos investimentos urgentemente necessários."
A nova dedicação ao Irã, porém, poderá afastar os sauditas, atuais parceiros do Ocidente. Caso o primeiro-ministro iraquiano Nuri al-Maliki continue no poder e se oponha ao EIIL – também graças à ajuda iraniana –, a Arábia Saudita, maior potência dos muçulmanos sunitas, terá que se preparar para uma forte presença xiita em sua fronteira. Na falta de argumentos políticos dissuasivos, o país tem a possibilidade de baixar os preços do petróleo, o que prejudicaria o Iraque e o Irã, que dependem de lucros imediatos.
Assim, enquanto o Estado Islâmico do Iraque e do Levante espalha o medo e terror no Oriente Médio, os beneficiados podem ser os compradores no mercado internacional de petróleo – pelo menos por um breve prazo.