1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Venezuela aguarda apreensiva por chavismo pós-Chávez

11 de dezembro de 2012

Antes de ser operado de câncer, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou seu candidato favorito à sucessão – o que lembra uma transferência ordenada de poder. Ainda assim, muitos temem o caos após a era Chávez.

https://p.dw.com/p/1704d

Até sua conta no Twitter silenciou-se. Contrariando seu costume, há mais de um mês, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, não escreve no microblog. Também na televisão, outro meio de comunicação predileto do presidente, ele deixou de aparecer nas últimas três semanas – assim como na campanha eleitoral para as eleições regionais, que acontecem no próximo fim de semana.

Ainda mais surpreendente para os venezuelanos foi a notícia breve e sensacional, anunciada no último sábado em cadeia nacional de rádio e televisão pelo seu presidente, que sofre de câncer: caso ele não possa mais ficar à frente de seu cargo, Chávez disse que deseja ter o vice-presidente e ministro do Exterior, Nicolás Maduro, como seu sucessor.

Transição e incerteza

Dessa forma, Hugo Chávez, que acabou de ser reeleito para um quarto mandato, admitiu pela primeira vez que talvez não poderá continuar no cargo. Nesta terça-feira (11/12), o presidente venezuelano se submeteu a uma operação em Cuba, mas o resultado e as chances de recuperação ainda são incertos – ainda que deles dependa o destino da Venezuela.

O anúncio de um sucessor é "uma grande entrega de bastão", disse Javier Corrales, professor de política no Amherst College, universidade de excelência norte-americana. "É bastante claro que a transição já começou, e é algo sempre caracterizado por uma incerteza acentuada." Mesmo que Chávez tenha sugerido a seu partido e apoiadores Nicolás Maduro como candidato ideal, isso não significa que eles irão seguir seu conselho.

Hugo Chávez e seu candidato ideal Nicolás Maduro
Hugo Chávez e o sucessor de sua preferência, Nicolás MaduroFoto: Reuters

Ninguém é como Chávez

Nicolás Maduro, ex-motorista de ônibus e ex-líder sindical, é amigo próximo do presidente e um dos poucos que conhecem todos os detalhes sobre a saúde de Chávez. Como ministro do Exterior, ele agiu com prudência e habilidade. Em círculos chavistas, Maduro é popular e visto como reservado, mas tem expandido consistentemente sua influência nos últimos anos.

"Maduro é claramente um homem de esquerda, ele vem da Liga Socialista, é um civil e goza da afeição do governo cubano – mas ele pode ter dificuldades com os militares", disse a historiadora social venezuelana Margarita López Maya.

Oficialmente, ninguém se rebelou contra a nomeação de Maduro no Partido Socialista Unido da Venezuela. No entanto, além do ex-ministro do Exterior, há um segundo homem forte – o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.

"Cabello realmente tem poder, ele controla o partido e a Assembleia Nacional venezuelana, ele vem do Exército e é também amigo de Chávez", disse Maya. "Apesar disso, nem ele nem Maduro têm as habilidades de liderança para controlar o partido e a base como Chávez o faz."

Continuidade ou caos?

Nesse ponto, a sucessão ganha também considerável importância internacional: apesar de todas as excentricidades de Chávez; de sua atitude revolucionária, principalmente diante dos Estados Unidos; e de seus flertes diplomáticos com Irã, Síria, Belarus ou China, sua política externa é previsível.

Para países latino-americanos como Bolívia, Cuba, Equador ou Nicarágua, que o presidente venezuelano apoia não só ideologicamente, mas também com seus bilhões provenientes do petróleo, a questão de quem herdará o legado de Chávez é crucial. E investidores internacionais têm mais medo de uma transição caótica de poder do que do previsível intervencionismo socialista atual.

Diosdado Cabello Venezuela Parlamentspräsident
Diosdado Cabello preside Assembleia Nacional da VenezuelaFoto: AFP/Getty Images

Sua última aparição no fim de semana mostrou que Chávez está ciente disso. Mais do que claramente, ele exortou por diversas vezes o partido e seus simpatizantes à unidade e ao patriotismo, pedindo-lhes que "continuem seguindo o caminho venezuelano rumo ao socialismo". Isso irá acontecer somente se a habilidade do sucessor de Chávez conseguir manter unidas as várias facções dentro do chavismo.

Uma possível luta de poder desestabilizaria sensivelmente não somente o país, mas também sua base econômica, a indústria do petróleo. "Eu não vislumbro nenhuma crise política imediata nas próximas semanas e meses", analisou Maya. "Ainda reinarão a simpatia e a solidariedade com o presidente. Mas, no médio prazo, haverá insegurança, pois o chavismo é heterogêneo demais, com muitas tensões internas, com um estilo de liderança muito personalizado."

Antes de voar para Cuba, Chávez disse que a república e a revolução estariam em boas mãos. Mas ele não falou por quanto tempo.

Autor: Marc Koch (ca)
Revisão: Francis França