Venezuela aguarda apreensiva por chavismo pós-Chávez
11 de dezembro de 2012Até sua conta no Twitter silenciou-se. Contrariando seu costume, há mais de um mês, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, não escreve no microblog. Também na televisão, outro meio de comunicação predileto do presidente, ele deixou de aparecer nas últimas três semanas – assim como na campanha eleitoral para as eleições regionais, que acontecem no próximo fim de semana.
Ainda mais surpreendente para os venezuelanos foi a notícia breve e sensacional, anunciada no último sábado em cadeia nacional de rádio e televisão pelo seu presidente, que sofre de câncer: caso ele não possa mais ficar à frente de seu cargo, Chávez disse que deseja ter o vice-presidente e ministro do Exterior, Nicolás Maduro, como seu sucessor.
Transição e incerteza
Dessa forma, Hugo Chávez, que acabou de ser reeleito para um quarto mandato, admitiu pela primeira vez que talvez não poderá continuar no cargo. Nesta terça-feira (11/12), o presidente venezuelano se submeteu a uma operação em Cuba, mas o resultado e as chances de recuperação ainda são incertos – ainda que deles dependa o destino da Venezuela.
O anúncio de um sucessor é "uma grande entrega de bastão", disse Javier Corrales, professor de política no Amherst College, universidade de excelência norte-americana. "É bastante claro que a transição já começou, e é algo sempre caracterizado por uma incerteza acentuada." Mesmo que Chávez tenha sugerido a seu partido e apoiadores Nicolás Maduro como candidato ideal, isso não significa que eles irão seguir seu conselho.
Ninguém é como Chávez
Nicolás Maduro, ex-motorista de ônibus e ex-líder sindical, é amigo próximo do presidente e um dos poucos que conhecem todos os detalhes sobre a saúde de Chávez. Como ministro do Exterior, ele agiu com prudência e habilidade. Em círculos chavistas, Maduro é popular e visto como reservado, mas tem expandido consistentemente sua influência nos últimos anos.
"Maduro é claramente um homem de esquerda, ele vem da Liga Socialista, é um civil e goza da afeição do governo cubano – mas ele pode ter dificuldades com os militares", disse a historiadora social venezuelana Margarita López Maya.
Oficialmente, ninguém se rebelou contra a nomeação de Maduro no Partido Socialista Unido da Venezuela. No entanto, além do ex-ministro do Exterior, há um segundo homem forte – o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.
"Cabello realmente tem poder, ele controla o partido e a Assembleia Nacional venezuelana, ele vem do Exército e é também amigo de Chávez", disse Maya. "Apesar disso, nem ele nem Maduro têm as habilidades de liderança para controlar o partido e a base como Chávez o faz."
Continuidade ou caos?
Nesse ponto, a sucessão ganha também considerável importância internacional: apesar de todas as excentricidades de Chávez; de sua atitude revolucionária, principalmente diante dos Estados Unidos; e de seus flertes diplomáticos com Irã, Síria, Belarus ou China, sua política externa é previsível.
Para países latino-americanos como Bolívia, Cuba, Equador ou Nicarágua, que o presidente venezuelano apoia não só ideologicamente, mas também com seus bilhões provenientes do petróleo, a questão de quem herdará o legado de Chávez é crucial. E investidores internacionais têm mais medo de uma transição caótica de poder do que do previsível intervencionismo socialista atual.
Sua última aparição no fim de semana mostrou que Chávez está ciente disso. Mais do que claramente, ele exortou por diversas vezes o partido e seus simpatizantes à unidade e ao patriotismo, pedindo-lhes que "continuem seguindo o caminho venezuelano rumo ao socialismo". Isso irá acontecer somente se a habilidade do sucessor de Chávez conseguir manter unidas as várias facções dentro do chavismo.
Uma possível luta de poder desestabilizaria sensivelmente não somente o país, mas também sua base econômica, a indústria do petróleo. "Eu não vislumbro nenhuma crise política imediata nas próximas semanas e meses", analisou Maya. "Ainda reinarão a simpatia e a solidariedade com o presidente. Mas, no médio prazo, haverá insegurança, pois o chavismo é heterogêneo demais, com muitas tensões internas, com um estilo de liderança muito personalizado."
Antes de voar para Cuba, Chávez disse que a república e a revolução estariam em boas mãos. Mas ele não falou por quanto tempo.
Autor: Marc Koch (ca)
Revisão: Francis França