Venezuela inicia oficialmente primeira campanha eleitoral pós-Chávez
2 de abril de 2013A primeira campanha eleitoral pós-Hugo Chávez foi iniciada oficialmente nesta terça-feira (02/04) na Venezuela, e espera-se que os 12 dias que antecederão a votação nacional sejam marcados por hostilidades entre Nicolas Maduro, candidato do chavismo e favorito na corrida, e o opositor Henrique Capriles.
Herdeiro político de Chávez e presidente interino, Maduro leva consigo a missão de manter em andamento a "revolução socialista" proclamada por seu antecessor. "Não sou Chávez, sou o filho de Chávez", vem repetindo ele, que garante que os chavistas estão unido para mantê-lo no poder.
"Confio que a população irá às urnas para votar em mim, porque somos como uma família que perdeu o pai", diz Maduro.
Dar continuidade ao legado de Chávez, afirma o presidente interino, é "responsabilidade de todos". E para convencer os venezuelanos disso, sua campanha vem sendo marcada, mesmo antes da abertura oficial, pelo uso incansável da imagem de Chávez.
"Peço a Deus e ao nosso comandante Hugo Chávez, onde quer que esteja, que me acompanhe, me abençoe, me ilumine e não me deixe só nessa luta dura, difícil", disse recentemente.
Já Capriles deixou de lado a moderação com a qual competiu – e perdeu – contra Chávez na eleição de outubro de 2012. Na ocasião, o governador de 40 anos preferiu não reagir aos ataques, evitando um combate direto com Chávez.
"Fantasma" de Chávez
A estratégia moderada de Capriles o levou à derrota nas eleições, com 11 pontos de diferença para Chávez. Ainda assim, a oposição conseguiu seu melhor resultado em anos, com o apoio de 6,6 milhões de eleitores nas urnas. Agora, porém, Capriles optou por uma postura mais agressiva.
O tom utilizado contra Maduro é bem mais combativo. Consciente de que tem em mãos uma oportunidade única de chegar ao poder, Capriles não economiza nas agressões contra o candidato chavista e faz críticas pesadas.
Uma pesquisa realizada pelo instituto Hinterlaces divulgada na última segunda-feira (01/03) indica que Maduro ganharia as eleições com 55% dos votos, contra 35% para Capriles. Outra sondagem, de 19 de março, dava uma margem de 19 pontos para o candidato chavista.
Superar esses números será uma tarefa difícil para a oposição, que dois meses após perder para Hugo Chávez sofreu derrotas arrasadoras nas eleições regionais. Ainda assim, conseguiu uma vitória importante, no estado de Miranda, de importância estratégica no campo político nacional.
Analistas consideram que Maduro deverá se beneficiar do legado sentimental deixado pela morte de Chávez e também por estar exercendo o cargo de presidente interino do país, o que lhe permite – não em teoria, mas na prática – usar a máquina estatal para fazer campanha.
Capriles, por sua vez, além de enfrentar Maduro também contra o "fantasma" de Chávez, uma figura adorada com fervor religioso por milhões de venezuelanos. Ainda assim, muitos acreditam que a ausência do líder bolivariano deixa o partido em situação mais vulnerável aos ataques de seus opositores.
Golpes baixos
Capriles critica Maduro por politicamente ser demasiadamente semelhante a Chávez e de encabeçar, em sua palavras, um grupo "nefasto, incompetente e corrupto". "As imitações baratas não levam a lugar algum", afirmou recentemente o opositor, que se diz admirador do modelo brasileiro pró-mercado com inclusão social.
O candidato da oposição responsabiliza os chavistas pelo atual estado da economia venezuelana e centra seus ataques também na questão da violência. Além disso, ele acusa, como fez na última segunda-feira, o presidente interino de utilizar inapropriadamente os órgãos de comunicação estatais e recursos públicos em sua campanha.
"A mídia estatal se tornou um meio de propaganda de um partido político", denunciou Capriles, que pediu ao Conselho Eleitoral Nacional que se mantenha imparcial e observe as regras de campanha antes da votação do dia 14 de abril.
Em um combate marcado pelos golpes baixos, os governistas também não pouparam ataques, referindo-se a Capriles como "fascista", "miserável" e até classificando a oposição como "herdeiros de Hitler". Maduro chegou a questionar a orientação sexual do adversário: "Eu sim tenho a minha mulher, eu gosto é das mulheres."
RC/rtr/afp