Venezuela já planeja segunda moeda virtual
23 de fevereiro de 2018Nesta semana, os entusiastas de moedas digitais chegaram mais perto do "ouro negro": a Venezuela cumpriu a promessa que fez em dezembro último e lançou a sua própria criptomoeda, o petro, cujo valor é fixado em relação a um barril de petróleo.
Em outras palavras: se o dinheiro perde em confiança e valor, resta ao proprietário do petro, ao menos teoricamente, o direito a um barril de petróleo. No entanto, ainda não está claro como isso deve funcionar na realidade.
De qualquer forma, o próximo passo já foi anunciado: depois do petro para o petróleo, planeja-se uma moeda digital fixada em relação ao ouro – o petro-ouro, como antecipou o presidente Nicolás Maduro.
Para o Petro, a Venezuela reservou um campo de petróleo na região do Orinoco, que deve assegurar até 100 milhões de tokens, unidades da moeda virtual. Esse é o total que se planeja emitir da criptomoeda.
Inicialmente, serão vendidos 38 milhões de tokens do petro, posteriormente, outras 44 milhões. O restante ficará com o Estado. O início da pré-venda foi um sucesso, anunciou Maduro: nas primeiras 20 horas, intenções de compra no montante de 735 milhões de dólares foram registradas. Isso, no entanto, ainda não pôde ser verificado.
O preço inicial do token da criptomoeda foi fixado em 60 dólares americanos por unidade – o que reflete o preço do barril de petróleo em meados de janeiro. "Acho que essa é uma abordagem interessante", comenta Philipp Sandner, da Escola de Finanças e Gestão de Frankfurt.
Sandner é especialista em moedas digitais e tecnologia blockchain – uma espécie de livro contável que armazena o envio e recebimento de valores a partir de transações com moedas virtuais. Para ele, junto à introdução da criptomoeda venezuelana, está a esperança de que, dentro do sistema monetário virtual, haja moedas que sejam mais estáveis que, por exemplo, o bitcoin.
Luta contra a hiperinflação
As demais moedas digitais não têm cobertura. O seu valor é determinado apenas pela confiança nas criptomoedas. Se essa certeza aumenta, cresce também a sua valorização, se ela diminui, o seu curso despenca. Como resultado, os mercados de divisas digitais experimentam fortes variações de preços.
Aparentemente, o polêmico presidente venezuelano está tentando tirar proveito do atual momento – ou seja, o hype em torno de bitcoin e outras moedas virtuais – para tentar sair do sufoco político e econômico: a inflação gira em torno de 4.000% ao ano.
"O petro fortalece a nossa independência e a nossa soberania econômica", diz Maduro, num recado a outros países, especialmente aos EUA, que impuseram sanções econômicas à Venezuela.
Com as moedas virtuais, o governo em Caracas quer restabelecer a sua ligação com os mercados internacionais de capitais. Pois, se a venda do petro for realmente bem-sucedida, o país voltaria a receber, direta ou indiretamente, divisas fortes.
Já há vários anos, se desencadeia uma amarga luta de poder entre o governo Maduro e a oposição. Embates às vezes sangrentos mergulharam a Venezuela numa profunda crise política e econômica. A oposição acusa o presidente de querer calar os críticos e transformar o país numa ditadura. Maduro denuncia que os líderes da oposição estão tentando planejar um golpe de Estado com a ajuda americana.
Os Estados Unidos já advertiram que os cidadãos americanos não podem comprar o petro. Já que, assim, ignorariam as sanções, praticando, portanto, algo ilegal. O Departamento de Finanças em Washington considera a compra de petro como um empréstimo ao governo venezuelano.
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