Venezuela vai às urnas em eleição contestada
20 de maio de 2018A Venezuela realizou neste domingo (20/05) uma controversa eleição presidencial, convocada de forma antecipada pela Assembleia Nacional Constituinte (um parlamento dominado pelo chavismo) e boicotada pela maioria da oposição, para quem o pleito não é nem livre nem independente.
A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) decidiu não participar das eleições e pediu à população que as boicote. Analistas afirmam que, diante disso, o índice de abstenção pode ser até maior do que o percentual de votos obtido pelo vencedor da disputa.
No centro da campanha eleitoral está a crise política, econômica e social que afeta o país, com todos os candidatos, inclusive o presidente Nicolás Maduro – que espera ser reeleito para o período 2019-2025 – prometendo melhorar a economia.
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A campanha e a eleição transcorreram em meio a um clima tenso, e milhares de militares foram destacados para vigiar os mais de 14 mil centros eleitorais. "As eleições foram convocadas pela Assembleia Nacional Constituinte, uma instituição que não tem poder para isso", afirma o cientista político Ivo Hernández, da Universidade de Münster.
União Europeia, EUA, Canadá e inúmeros países vizinhos, entre eles o Brasil, pediram a suspensão das eleições por considerarem que não há condições para a realização de uma votação livre na Venezuela. Os presidentes da Argentina, Mauricio Macri, e da Colômbia, Juan Manuel Santos, declararam que não reconhecerão o vencedor.
O candidato eleito tomará posse do cargo em janeiro de 2019, para um mandato de seis anos. Além do presidente da República, os venezuelanos elegeram também os membros dos conselhos legislativos em 23 estados.
Opositor é dissidente do chavismo
Os mais de 20,5 milhões de eleitores puderam escolher entre quatro candidatos. Além de Maduro, concorreram o dissidente do chavismo Henri Falcón, o pastor evangélico Javier Bertucci e o engenheiro Reinaldo Quijada, um ex-militante do chavismo.
Apesar de o país atravessar a pior crise econômica da sua história recente, Maduro lidera as pesquisas, entre outras razões pela decisão da Mesa da Unidade Democrática de não apresentar candidatos depois de seus principais líderes, como Henrique Capriles, terem sido inabilitados.
Maduro, que é o principal concorrente, prometeu convocar um grande diálogo nacional e fazer "uma revolução econômica dentro da revolução". Ele diz que vai se manter fiel ao legado do falecido presidente Hugo Chávez e prometeu grandes mudanças econômicas e manter os programas de assistência social.
O segundo mais bem cotado é Falcón, que pode obter votação mais expressiva (atualmente aparece com pouco mais de 20% dos votos) se houver uma participação maior do que a esperada, afirmam os institutos de pesquisas.
Falcón é um dissidente do chavismo que acusa Maduro de ter políticas econômicas erradas e promete dolarizar a economia para equilibrar os salários e combater a hiperinflação, bem como pedir ajuda ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional para revitalizar a economia.
O candidato espera que até mesmo os opositores mais ferrenhos acabassem por apoiá-lo na última hora. Já Maduro espera que a oposição se mantenha dividida e aposta no medo dos mais pobres de perder os poucos benefícios que recebem do seu governo.
"Falcón se apresenta como candidato opositor, mas tem vinculações com o regime chavista. Maduro não tem verdadeiros rivais. Essas eleições não passam de uma farsa, de puro teatro", afirma Hernández.
Votação em meio à crise
A Venezuela passa há meses por uma profunda crise, que levou centenas de milhares de pessoas a deixar o país. Analistas afirmam que a crise está associada à queda dos preços internacionais do petróleo, mas também a uma política econômica desastrada.
A queda da produção interna, as restrições cambiais, a escassez de produtos alimentares básicos e de medicamentos, os rendimentos familiares insuficientes, bem como a hiperinflação – que, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional, será de 14.000% em 2018 – evidenciam a situação do país.
A escassez de produtos básicos gerou denúncias de crise humanitária, e muitos venezuelanos dependem de uma bolsa com alguns produtos básicos que o governo distribui periodicamente a preços subsidiados.
Maduro não nega que haja uma crise econômica, mas a atribui à queda do preço do petróleo, às sanções econômicas dos Estados Unidos, à falta de crédito no mercado internacional e ao "boicote" das "máfias de empresários" e governos vizinhos à sua administração.
Analistas avaliam que a crise vai influenciar o resultado da eleição e pode até mesmo favorecer Maduro. "Apesar de as pesquisas sugerirem que muitas pessoas rejeitam o atual governo, estima-se que metade da população dependa dos alimentos subsidiados para ter o que comer", afirma o professor Márquez Velázquez, da Universidade Livre de Berlim.
"As pessoas que recebem alimentos subsidiados são pressionadas a ir às urnas, e há denúncias de que elas serão obrigadas a comprovar que votaram no governo quando deixarem os centros eleitorais", diz Velázquez.
Alguns analistas afirmam ainda que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), um órgão que não tem a confiança da oposição, pode anunciar Maduro vencedor independentemente dos votos que forem depositados nas urnas.
AS/dw/efe/lusa/dpa
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