Vila Olímpica em Berlim será transformada em museu ao ar livre
3 de maio de 2012Os nazistas queriam mostrar algo que o mundo ainda não tivesse visto. E isso se aplicou também aos atletas. A Vila Olímpica, a 14 quilômetros de Berlim, levou dois anos para ficar pronta. O arquiteto foi Werner March, que também projetou o Estádio Olímpico. A intenção era criar uma Vila Olímpica que aliasse um conforto até então pouco conhecido a uma ideia de mundo aparentemente perfeito para os propósitos da propaganda nazista.
Percursos pedestres terminavam num lago artificial, para onde tinham sido trazidas aves aquáticas do Zoológico de Berlim. Numa colina, também artificial, havia uma esplanada de café. A frente do edifício onde ficava a piscina aquecida tinha um vidro que descia automaticamente, uma sensação para a época.
Havia 140 casas de um andar e cinco prédios de dois andares. O prédio do refeitório era dividido em 40 salas. O local onde funcionava a recepção abrigava também um banco e os correios. Havia ainda um centro cultural, onde aconteciam espetáculos de dança e a exibição de filmes de propaganda.
De ruínas a museu
"O esforço para a construção foi enorme", diz Siegfried Schreiner. "Foram plantadas centenas de árvores – e, a pedido da Finlândia, construiu-se até um prédio para saunas". Schreiner parece conhecer tudo: os números e a história da Vila Olímpica – quantos metros cúbicos de terra foram movimentados ou qual era o cardápio oferecido aos atletas. Ele é um dos guias turísticos que informam os visitantes entre abril e outubro, em alemão e em inglês.
Até pouco tempo, a Vila Olímpica de 1936 era apenas ruínas. Nos tempos da República Democrática Alemã (a Alemanha de regime comunista), o terreno foi utilizado pelo exército soviético. Posteriormente, ficou ao abandono.
Os diversos planos de investimento falharam, até que a Fundação alemã DKB assumiu o terreno, em 2006 e o progressivo declínio da área foi interrompido. Nos 540 hectares do local, será construído agora um museu ao ar livre. Também já foram removidos os animais selvagens que haviam tomado conta dos espaços reservados aos treinos dos atletas. Painéis informativos orientam agora os visitantes e as construções tiveram telhados e janelas consertados.
O terreno ainda mantém uma certa beleza, apesar de há muito tempo o lago artificial ter secado e de a sauna e o café serem hoje apenas ruínas. Os visitantes ainda são poucos. A Vila Olímpica ainda não faz parte do programa habitual dos turistas que vão a Berlim.
O percurso guiado pela antiga Vila Olímpica dura 90 minutos. Sem os guias, o passeio assemelha-se a uma caminhada entre ruínas. Graças a Schreiner, aprende-se muito sobre a encenação nazista nos Jogos de 1936, pensada em todos os detalhes.
A "Vila da Paz" – uma mentira
Nos Jogos, Adolf Hitler queria mostrar ao mundo uma Alemanha favorável à paz. A Vila Olímpica fazia parte desta encenação: A propaganda nazista a chamou de Vila da Paz – uma mentira. "Já estava decidido desde o início que, depois dos Jogos, o exército alemão iria utilizar o terreno", diz Schreiner. Bem ao lado ficava o campo de treinamento militar.
Os 4 mil atletas de 49 nações sabiam pouco sobre isso. Eles aproveitaram um nível de conforto pouco comum na época. Cada uma das acomodações dispunha de um terraço e até de um telefone. Havia água quente e aquecimento central. Diariamente, tocava uma banda militar. Até a Filarmônica da cidade e a companhia de balé da Ópera de Berlim chegaram a se apresentar. A partir do centro cultural aconteceu a primeira transmissão televisiva ao vivo em nível mundial.
Onde ficou Jesse Owens
O ponto alto da visita é a acomodação de um andar da estrela absoluta dos Jogos Olímpicos de 1936, Jesse Owens. Numa pequena mesa de madeira em um quarto renovado, fiel ao original, está a sua fotografia e, em redor, uma coroa de louros dourada. Uma pequena exposição conta a vida do atleta norte-americano, que em Berlim conquistou quatro medalhas de ouro e se tornou o maior atleta do seu tempo – e que, entretanto, os nazistas desprezavam por ser negro.
Não muito longe fica a "cantina das nações", em forma de elipse, que, apesar da sua grande dimensão, se encaixa de forma harmoniosa na paisagem. Mais tarde, o edifício serviu como um hospital para o exército. Há muitas janelas bloqueadas, o revestimento da parede está caindo. Ainda há muito a ser feito até que este local se torne verdadeiramente um museu ao ar livre.
Autor: Oliver Samson (gcs)
Revisão: Roselaine Wandscheer