Violência contra casal judeu reflete crescente antissemitismo na França
7 de dezembro de 2014Manifestantes ocuparam as ruas do subúrbio parisiense de Créteil, neste domingo (07/12), para protestar contra o antissemitismo na França. Na semana passada, o ataque a um jovem casal em Créteil, nos arredores de Paris, chocou o país. Ao invadir o apartamento das vítimas, os agressores afirmaram acreditar que, pelo fato de ser judeu, o casal supostamente teria bastante dinheiro. Eles roubaram os jovens, estupraram a mulher e fugiram, sendo posteriormente capturados pela polícia.
Ataques a judeus e instituições judaicas aumentaram consideravelmente na França. Até meados deste ano, o Ministério do Interior em Paris registrou mais de 500 incidentes antissemitas, mais do que em todo o ano passado. Sinagogas e lojas judaicas foram atacadas principalmente em julho, durante a guerra em Gaza.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, fala em uma "nova forma de antissemitismo". Usando palavras mais drásticas, ele comentou o recente crime contra o jovem casal judeu usando o termo "horror de Créteil".
Para o premiê francês, a luta contra o antissemitismo é uma batalha a ser travada diariamente. Durante a manifestação neste domingo em Créteil, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, chegou a chamar o antissemitismo de "uma doença social".
Judeus deixam a França
A França possui a terceira maior população judaica do mundo, atrás apenas de Israel e dos Estados Unidos. Cerca de 600 mil judeus vivem no país europeu.
No entanto, desde o ano passado, o país tornou-se pela primeira vez um local de emigração de judeus. Daniel Benhaim, representante da Agência Judaica para Israel na França, conta que mais de 6,2 mil judeus emigraram para Israel nos 10 primeiros meses deste ano, mais do que o dobro do ano passado.
Segundo o Conselho Representante de Instituições Judaicas da França (Crif) o cenário econômico desfavorável no país, somado ao ambiente de "antissemitismo desinibido", estão levando a essa onda migratória.
Falta de perspectiva e crise
Segundo Marie-Christin Lux, historiadora da Universidade Livre de Berlim, a nova onda de antissemitismo na França deve-se a diferentes fatores. E alguns deles ressurgem regularmente ao longo da história. "Após a crise econômica mundial de 1929 houve um aumento drástico do antissemitismo". Agora, a França tem enormes problemas sociais e a história parece se repetir, avalia a historiadora.
Tais questões manifestam-se particularmente na região metropolitana de Paris, com seus subúrbios urbanisticamente problemáticos, explicou Lux. "Ao mesmo tempo, muitos erros foram cometidos na educação escolar para prevenir esses estereótipos, e os respectivos projetos junto aos jovens não são executados em quantidade suficiente".
Alain Jakubowicz, presidente da Liga Internacional contra o Racismo e o Antissemitismo, concorda com a histpriadora. Em entrevista à emissora Europe 1, ele falou de promessas vagas de uma política que não faz o suficiente para combater tais preconceitos.
Marie-Christin Lux espera, por sua vez, que a solidariedade pública com os judeus e a vontade de combater os preconceitos perdurem. "Não se trata de um problema dos muçulmanos ou dos judeus, trata-se de um problema francês, que atinge a todos os franceses."
No entanto, extremistas islâmicos vêm apelando repetidamente a seus adeptos, nos últimos meses, para que pratiquem atentados na França. E a comunidade judaica teme ser o alvo principal.
Perigo de direita e de esquerda
Além do perigo dos islamistas, os judeus franceses também sofrem preconceito entre os radicais de direita do país. Uma pesquisa do think tank Fondapol constatou que 40% dos membros do partido de extrema direita Frente Nacional acreditam que os franceses de crença judaica não são iguais aos demais franceses.
O estudo confirmou também a disseminação dos preconceitos contra judeus na sociedade francesa. Um quinto dos entrevistados disse que os judeus teriam muito poder político, um quarto afirmou que a influência judia sobre o mundo das finanças seria exagerada e um décimo disse que não trabalharia para um empregador judeu.
Segundo a historiadora berlinense, tais preconceitos não estariam disseminados somente entre os franceses de extrema direita. Atualmente, os velhos estereótipos dos judeus economicamente poderosos se mesclam com uma imagem negativa de Israel, nutrida principalmente por franceses esquerdistas.