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Sociedade

Oliver Samson (ca)3 de junho de 2008

Violência juvenil é doença que afeta toda a Europa. No Reino Unido, ela já se transformou em epidemia. Dezenas de adolescentes foram esfaqueados. Para o problema, o país ainda procura saídas – e também causas.

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Enterro de Kodjo Yenga em Londres: negros são os mais envolvidos em ataquesFoto: picture-alliance/dpa

De um lado, uma chave de fenda, do outro, uma pessoa com uma faca enfiada no peito. Tudo está cheio de sangue. Na semana passada, o governo britânico iniciou uma campanha de choque por todo o país para chamar atenção para o problema da violência entre os jovens.

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Robert Knox e sua mãeFoto: AP

De forma dramática, as implicações do uso de facas são mostradas em outdoors através de fotos de casos verdadeiros. Casos que se tornaram fatalidade, como o do ator de 18 anos Rob Knox, que atuou no último filme de Harry Potter. Knox foi esfaqueado, durante uma briga, em frente a um bar em Kent. Cinco outros adolescentes ficaram feridos por golpes de facas. A Inglaterra ficou, mais uma vez, apavorada.

O problema é bastante conhecido no Reino Unido. Notícias de assassinatos de jovens por jovens se escutam praticamente todos os dias. Somente em Londres, morreram em 2007 27 adolescentes, vítimas de ataques. A maioria foi esfaqueada, nove deles foram baleados.

Principalmente o caso do tiro mortal no garoto de 11 anos Rhys Jones, em Liverpool, causou consternação entre a população. Neste ano, já 14 adolescentes morreram devido a ataques. "Crianças matam crianças", escreveu o diário Sun. A mídia fala de uma "guerra de adolescentes" e de uma "epidemia mortal de violência juvenil".

"Grandes preocupações"

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Facas são armas mais usadas por jovens britânicosFoto: AP

Brigas de faca na Inglaterra, subúrbios incendiados na França, violência juvenil também é um problema europeu. Até mesmo a supostamente idílica Suécia apresenta, em cidades como Malmö, elevado índice de criminalidade juvenil. Na Alemanha, por ocasião das estatísticas criminais de 2007, em maio último, o ministro do Interior Wolfgang Schäuble assinalou como uma das "grandes preocupações" o fato de a criminalidade entre adolescentes ter aumentado em 4,9%.

Há anos que Jochen Kersten, professor na Escola Superior da Polícia em Münster, se ocupa da violência juvenil. Ele não detecta um aumento generalizado do fenômeno. Um aumento, como na Alemanha, poderia ser explicado através da crescente disposição de se apresentar queixas. "Nós vemos, no entanto, num grupo problemático, coisas que nos preocupam", disse Kersten.

"Este é o problema europeu: este grupo é ocupado, desproporcionalmente, por filhos de imigrantes estrangeiros", acresceu. Da pobreza à discriminação, existiria todo um leque de causas para a disposição à violência existente nesse grupo.

No entanto, também se observa uma "compreensão de honra e respeito que se desligou completamente dos conceitos da sociedade. A falta de respeito é respondida então com a violência", afirmou o professor de Münster.

Negros contra negros

Em nenhum outro país da União Européia, o perigo de ser vítima de um ataque a mão armada é tão grande como no Reino Unido, divulgou o Centro de Estudos de Criminalidade e Justiça de Londres. Em brigas de faca, estão envolvidos, como criminosos ou vítimas, principalmente jovens negros das minorias africanas e caribenhas.

Muitas vezes, trata-se de disputas de territórios dos bandos. "Temos aqui um problema étnico claro", afirma Jürgen Kroenig. O jornalista vive há anos em Londres e é considerado especialista em criminalidade juvenil – não somente desde que teve, ele mesmo, uma faca no pescoço.

O colapso familiar é considerado um dos principais motivos. A proporção de jovens negros que crescem sem o pai é superior a 50% no Reino Unido. A cultura machista dos bandos parece oferecer uma compensação dos exemplos masculinos para estes jovens.

Jack Straw, ministro da Justiça no gabinete de Gordon Brown, falou de uma "crise da ausência paterna" e conclamou a "comunidade" negra a fazer mais para controlar o problema.

O que fazer?

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Reclusão de adolescentes trouxe resultados modestosFoto: AP

As mortes de adolescentes deslancharam um debate nacional no Reino Unido. A Scotland Yard afirma que os ataques cada vez mais brutais em jovens não podem ser contidos pelos policiais sozinhos.

Governo e oposição se recriminam mutuamente por enfrentarem o problema com conceitos errados. A oposição conservadora exige o que conservadores sempre reivindicam: mais polícia, mais prisões, lei e ordem.

A adoção de medidas mais rigorosas, como a reclusão de adolescentes, já foi exercitada no governo de Tony Blair. Os sucessos foram modestos. O atual governo trabalhista aposta, agora, mais fortemente na prevenção. Ed Ball, ministro britânico da Educação, liberou 100 milhões de euros adicionais para projetos de prevenção.

Os britânicos são os adolescentes mais infelizes

Talvez o Reino Unido consiga se tornar novamente um país digno de viver para os adolescentes. No momento, este não é o caso. Segundo um estudo de 2007 da Unicef, crianças e adolescentes britânicos são os mais infelizes entre os países industrializados.

Eles são os que mais bebem álcool, os que têm sexo mais cedo, e os que mais odeiam a escola – além de ser, no geral, os que mais se sentem infelizes com suas vidas.