Violência no Egito
2 de fevereiro de 2011Mesmo após o anúncio do presidente Hosni Mubarak de que não se irá se candidatar à reeleição, o Egito vivenciou uma nova escalada de violência nesta quarta-feira (02/02). Apoiadores e opositores do presidente egípcio se enfrentaram em sangrentas batalhas nas ruas do Cairo. Segundo a emissora árabe Al Jazeera, centenas de pessoas saíram feridas nos confrontos.
Na tarde desta quarta-feira, cerca de 4 mil apoiadores do Partido Nacional Democrata (PND), de Mubarak, se dirigiram à praça central Tahrir para expulsar os opositores do regime ali instalados. Eles furaram a barreira humana formada para proteger os manifestantes na praça e rasgaram cartazes críticos a Mubarak.
Pedras e garrafas
Supostamente pagos pelo regime de Mubarak, seus partidários adentraram a praça montados em camelos e cavalos, batendo na multidão de 10 mil pessoas com cassetetes, chicotes e barras de ferro. Vários agressores foram presos e entregues aos soldados estacionados junto à praça.
Os opositores do presidente egípcio acusaram o PND de enviar hooligans e policiais em civil pagos. Próximo dali, opositores e apoiadores lançaram pedras e garrafas uns contra os outros.
Testemunhas afirmam que o Exército, que inicialmente não interveio, disparou tiros de advertência após os partidários de Mubarak terem jogado uma bomba incendiária. Depois da intervenção do Exército, a situação se acalmou.
Pressão das Forças Armadas
Após Mubarak ter anunciado na terça-feira que não pretende se reeleger em setembro, as Forças Armas já haviam conclamado os manifestantes a encerrarem os protestos e irem para casa. Um porta-voz militar disse que o recado dos manifestantes já fora escutado, que suas exigências eram conhecidas e que, agora, era a hora de reinstalar a normalidade. As Forças Armadas exigiram que os manifestantes devessem se retirar por "amor ao Egito".
As declarações das Forças Armadas egípcias foram um sinal de que os manifestantes poderiam perder o apoio dos militares. Ainda na segunda-feira, as lideranças militares sinalizaram um apoio cauteloso e afirmaram que não iriam usar violência contra os participantes das ações de protesto.
Como sinal de normalização, após dias de bloqueio, a internet voltou a funcionar no Egito nesta quarta-feira. O toque de recolher entre 15h e 8h foi encurtado para entre 17h e 7h.
Reação do exterior
Os Estados Unidos condenaram a violência no Egito. O porta-voz Robert Gibbs declarou que a Casa Branca estaria muito preocupada com as agressões contra manifestantes e jornalistas no Cairo. Ao mesmo tempo, o governo dos EUA apelou para que ambas as partes ajam com moderação.
Em telefonema com Mubarak na terça-feira, o presidente norte-americano, Barack Obama, havia pressionado o colega de pasta egípcio para que abrisse imediatamente o caminho para a construção da democracia. "Uma transição ordenada deve ser significativa, pacífica e deve começar agora", disse Obama em Washington.
Nesta quarta-feira, em Londres, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, também exigiu uma aceleração das reformas políticas no Egito. Segundo Cameron, o cenário violento no Cairo seria prova de que o governo do presidente Mubarak não teria correspondido às exigências dos manifestantes. Tanto Cameron quanto o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenaram a escalada da violência no Cairo como inaceitável.
O governo alemão defendeu um recomeço político imediato no Egito. Não se pode aceitar que a mudança no país seja adiada, afirmou o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, em Berlim.
No Iêmen
Em discurso na televisão, Mubarak anunciara na terça-feira que não iria concorrer a um novo mandato nas eleições presidenciais marcadas para setembro. Essa concessão não é suficiente para a oposição, que afirmou que irá continuar com os protestos até que o presidente renuncie.
Além do Egito, os efeitos da Revolução de Jasmim na Tunísia também se espalharam para outros países árabes. Nesta quarta-feira, o presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, declarou perante as duas câmaras do Parlamento que pretende abdicar de um novo mandato após 32 anos no poder. Além disso, ele adiou a eleição parlamentar marcada para abril próximo e formar um governo de unidade nacional.
CA/dpa/afp/dapd
Revisão: Roselaine Wandscheer