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Violência e boicotes marcam dia a dia na Cisjordânia

Kate Shuttleworth (md)11 de agosto de 2014

Hebron e arredores foram epicentro de ações militares de Israel há pouco mais de um mês, após o assassinato de três jovens israelenses. Área continua tensa, embora conflito seja mais acirrado na Faixa de Gaza.

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Militante cola adesivo convocando a boicote contra mercadorias israelensesFoto: DW/K. Shuttleworth

Em meio a sons de disparos rápidos, granadas de efeito moral e gás lacrimogêneo, ouvem-se gritos de "ha'ai, ha'ai, ha'ai", numa confusão frenética. Eu sigo a multidão, que corre para se proteger em uma loja de esquina.

Os manifestantes palestinos, muitos deles mascarados, fogem em massa, carregando estilingues e pedras, abaixando-se para se proteger e, literalmente, correndo para salvar a vida.

Dentro da loja que vende pão sírio fresco e bebidas geladas, logo fico sabendo pelo dono do estabelecimento, Mohammed, que os gritos de alerta em árabe avisavam que as balas disparadas não eram de borracha, mas munição de verdade.

"Eles têm usado silenciadores nas últimas semanas. Por isso é ainda mais difícil saber quando eles estão vindo", relata. "Na semana passada, cem pessoas foram feridas por diversos tipos de balas."

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Jovens palestinos buscam proteção em tiroteio durante protesto em HebronFoto: DW/K. Shuttleworth

As multidões pouco a pouco voltam a arremessar pedras. Homens sentados em caixas de papelão achatadas continuam a assistir, em relativa segurança, do lado de fora das lojas situadas depois de uma rotunda. Na véspera, num cruzamento próximo, foi morto a tiros o palestino Nader Muhammed Idris, pai de sete filhos.

Badia Dwaik, que o conhecia desde 1988, conta que Idris foi baleado no peito por munição de verdade, disparada pelas Forças de Defesa de Israel. "Ele era um apoiador da Fatah e um verdadeiro ativista, mas não violento", enfatiza. "Ele só ajudava transportando feridos. Um dia antes de morrer, havia ajudado a arrecadar doações para as pessoas em Gaza."

Dwaik conta que seu amigo não ganhava muito dinheiro como sapateiro e que só poderia doar um saco de farinha, por isso, em vez disso, oferecia seu tempo como voluntário.

Onde tudo começou

Os protestos mais recentes focaram a resistência à ocupação israelense, mas estão relacionados à oposição às ações de Israel em Gaza, sublinha o ativista de direitos humanos Jamal Fakore.

É difícil de acreditar que Hebron e seus arredores foram o epicentro da ação israelense pouco mais de um mês atrás. O Estado judeu concentrou todos os seus recursos na área, quando três adolescentes israelenses – Naftali Frankel, Gilad Shaer e Eyal Yifrach – desapareceram nas proximidades de um assentamento israelense na Cisjordânia.

As forças israelenses focaram sua busca em Hebron, invadindo e revistando 3.200 casas e prendendo 900 pessoas. Os corpos dos três jovens foram encontrados no final de junho, enterrados numa cova rasa coberta por pedras, num vale perto de Hebron.

Benjamin Netanjahu
Premiê israelense, Benjamin NetanyahuFoto: picture-alliance/dpa

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rapidamente colocou a culpa no Hamas, dizendo que o grupo militante iria pagar um preço pesado pela morte dos adolescentes israelenses. "O Hamas é responsável, e o Hamas vai pagar. Eles foram sequestrados e assassinados a sangue frio por animais selvagens", declarou num comunicado.

Os palestinos em Hebron sentiram-se como vítimas da punição coletiva por Israel. Eles foram presos, baleados, viram suas casas danificadas ou destruídas e em alguns casos, como o de Idris, foram mortos.

"Israel tem impedido os palestinos de Hebron de viajarem para a Jordânia. Uns 20 mil trabalhadores com autorização para trabalhar em Israel foram barrados, simplesmente por serem de Hebron", reclama Badia Dwaik.

O fuzilamento de Nader Muhammed Idris elevou para 17 o total de palestinos mortos pelas forças israelenses em protestos na Cisjordânia, desde que Israel lançou sua campanha em Gaza.

Boicote a produtos de Israel

No mesmo dia em que balas e pedras eram atiradas em Hebron, representantes do movimento palestino Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) se reuniram em Belém, no sul da Cisjordânia, para protestar contra a venda de produtos fabricados em Israel.

Os manifestantes entraram em lojas na Praça da Manjedoura, no centro de Belém, para aplicar adesivos de boicote em mercadorias que iam de doces e água engarrafada até produtos para tratamento de cabelos.

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Ativistas do movimento BDS marcam sorvete fabricado em IsraelFoto: DW/K. Shuttleworth

Segundo o organizador da ação, Munther Amira, a intenção é que os protestos fossem vistos pelas muitas agências que levam grupos turísticos de cristãos a Israel, para uma breve visita a pontos como a Igreja da Natividade. "Também vamos ter reuniões com a prefeitura e a câmara de comércio para ajudá-los a promover a ideia da solidariedade com as pessoas mortas em Gaza."

Com numerosos adesivos colados em sua vitrine frontal e em produtos dentro da loja, o dono da Farmácia Nabil, diz que apoia o protesto. "Isso é uma coisa boa. Apoia as pessoas em Gaza, e eu diria que só uns 20% dos meus produtos vêm de Israel."

Novo cessar-fogo

Na sexta-feira, o Hamas se recusou a estender o cessar-fogo de 72 horas que terminava naquela manhã e imediatamente reiniciou o disparo de foguetes contra Israel. O Hamas exigira uma suspensão completa do bloqueio à Faixa de Gaza e a construção de um porto marítimo, ambas reivindicações recusadas por Israel.

Numa entrevista coletiva em Jerusalém, a ministra da Justiça de Israel, Tzipi Livni disse a repórteres que tem esperanças de "uma nova ordem em Gaza".

Mas a esperança de paz teve um novo impulso no domingo (10/08), quando o Egito apelou para que Israel e os palestinos aceitassem outro cessar-fogo de 72 horas, e os dois lados concordaram. A trégua começou um minuto após a meia-noite da segunda-feira.