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Questão ecumênica

Marcus Bösch (rr)14 de março de 2007

Em seu primeiro encontro desde a eleição papal, Bento 16 e o presidente russo mostram sinais de aproximação entre a Santa Sé e o Kremlin, o que poderia melhorar as tensas relações entre católicos e russos ortodoxos.

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Líderes abordaram também assuntos internacionais em encontro no VaticanoFoto: AP

A reconciliação das Igrejas é há tempos uma das principais preocupações do papa Bento 16. Segundo o Vaticano, as relações entre a Igrejas Ortodoxa (maioritária na Rússia) e Católica foram também um dos temas centrais da audiência privada de 25 minutos em alemão, na qual o papa recebeu o presidente russo Vladimir Putin nesta terça-feira (13).

Ainda segundo o Vaticano, em seu primeiro encontro desde a eleição papal os dois dirigentes trataram, além da delicada questão ecumênica, de problemas internacionais da atualidade como o extremismo religioso, a situação dos direitos humanos na Rússia e a estabilização do Oriente Médio.

Relação delicada


Ainda como cardeal, Joseph Ratzinger tentou organizar uma viagem de seu predecessor João Paulo 2º a Moscou, sem sucesso. Enquanto isso, as relações entre ortodoxos russos e a Igreja Católica permaneceram delicadas. "Não se tratava de uma guerra, mas as relações eram realmente muito tensas", conta o teólogo Thomas Bremer.

Segundo o docente de Ecumenismo Teológico na Universidade de Münster, que estudou detalhadamente as diferenças entre as duas religiões, a criação de bispados e províncias eclesiásticas pela Igreja Católica na Rússia foi vista como uma afronta pela Igreja Ortodoxa.

Diferentes interpretações

Ortodoxos acusaram a Igreja Católica de conquistar adeptos em território russo. Um problema fundamental, pois o que para os católicos é simplesmente liberdade de religião – por que não convencer alguém sem religião a adotar a sua? – esbarra, para os ortodoxos, no conceito mais intrínseco do território canônico. A Igreja Ortodoxa não quer que seus membros se convertam ao catolicismo.

Também é preciso levar em conta certas animosidades entre eslavos: um papa polonês e um patriarca russo não podiam se entender bem. Desde a nomeação de Bento 16, a coisa vem mudando de figura, admite o cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. "Nesse meio tempo, gerou-se grande confiança. E confiança e amizade são as condições para que se possa conversar sobre estas questões tão delicadas."

Alexeij II.
Patriarca de Moscou, Alexis 2ºFoto: AP

Ao que parece, há uma vontade recíproca de ambas as partes de melhorar as relações. Tanto o vice-diretor do Departamento de Assuntos Externos do Patriarcado de Moscou, Mark Iegorievski, quanto o núncio da Santa Sé na Federação Russa, o arcebispo Antonio Mennini, consideraram a audiência positiva.

Encontro em solo neutro

Mas, apesar das primeiras aproximações, um encontro de Bento 16 com o patriarca de Moscou Alexis 2º ainda parece estar longe de se concretizar. Mesmo que haja especulações em Roma sobre uma possível visita surpresa já no próximo outono europeu, Bremer permanece cético. "Ouve-se com freqüência boatos como esse, eu não daria atenção especial." Ele disse acreditar que um encontro dos líderes deverá acontecer em solo neutro.

Mas, em vez de apostar em encontros de grande apelo mediático, o trabalho a ser feito se acumula nas comissões ecumênicas. Após uma comissão de teólogos ortodoxos e católicos ter se reunido em outubro último pela primeira vez em seis anos, representantes de ambas as partes prometem dar continuidade ao trabalho – o que, em nível regional, ajudaria a solucionar problemas concretos.