Visita à herança da Bauhaus em Dessau
26 de junho de 2004Quem quer conhecer um pouco da herança deixada pela escola de design Bauhaus, não pode deixar de visitar Dessau. A cidade, que entre 1924 e 1932 serviu de sede para a escola, enfrenta hoje um problema comum no Leste europeu e alemão: o êxodo da população. Desde a reunificação alemã, Dessau perdeu cerca de 25% de seus habitantes.
Os que ficam, no entanto, não fazem disso um drama e acreditam que a situação pode até ser vantajosa para a cidade. A redução no número de habitantes é vista como oportunidade para eliminar espaços urbanos hoje dispensáveis, pois vazios, para criar aí, por exemplo, áreas verdes.
Futuro verde para "cidades atrofiadas"
Aos gritos histéricos de burocratas amedrontados, Dessau responde prontamente: "Nosso futuro é verde". Se prédios precisam ser implodidos, eliminando um total de 15 mil domicílios, os defensores da idéia de uma nova Dessau mais verde apostam no emagrecimento como saída para a cidade: menos casas, mais áreas de lazer e respeito à natureza.
A proposta é discutida pela sociedade e refletida, entre outros, pelo projeto de pesquisa e arquitetura Cidades Atrofiadas, coordenado pela Fundação Bauhaus Dessau – hoje reativada como centro acadêmico e científico voltado para questões urbanas. A Fundação oferece, inclusive, cursos e seminários a interessados de diversas áreas.
Concebido para ser desenvolvido entre 2002 e 2005, o Cidades Atrofiadas engloba 15 subprojetos, que abrangem temas como mobilidade e transformação social, espaços livres e lazer, (des)industrialização e pós-industrialização. Tudo na tentativa de descobrir as raízes do encolhimento das cidades e o efeito do fenômeno para a cultura urbana.
Ícones do modernismo
A antiga sede da Bauhaus em Dessau (aberta ao visitante) foi construída a partir de um projeto de Walter Gropius (1883-1969) em 1925-1926. A edificação é considerada um "ícone do modernismo", bem como um manifesto-síntese das idéias veiculadas pela Bauhaus na Alemanha dos anos 20. Erguida após a expulsão da escola de Weimar por razões políticas, a sede inclui uma marcenaria, uma tecelagem, uma oficina de pintura e uma tipografia.
Não apenas a antiga sede da escola, mas também o que sobrou das residências dos professores foi considerado patrimônio histórico da humanidade pela Unesco em 1996. Nessas edificações, viveram além do diretor da escola (inicialmente o próprio Gropius, autor do projeto) seis outros professores: László Moholy-Nagy, Lyonel Feininger, George Muche, Oskar Schlemmer, Wassily Kandinsky e Paul Klee.
"Casas de mestres"
Essas "casas de mestres", que pareciam intercaladas umas às outras arquitetonicamente, foram em parte destruídas durante a Segunda Guerra Mundial. Do domicílio do diretor, por exemplo, sobraram apenas a garagem e o porão, sobre os quais foi construída em 1956 uma residência tradicional. A antiga casa de Moholy-Nagy desapareceu por completo e a de Feininger serviu de policlínica durante o regime comunista.
Na tentativa de preservar os registros da história, a recuperação desses prédios é uma das prioridades da administração de Dessau, que pretende concluir os trabalhos de restauração em 2006. Além da reforma da infra-estrutura dessas edificações, há uma preocupação dos arquitetos envolvidos em recuperar a pintura original.
"Charme berlinense"
Mas nem só de Bauhaus vive Dessau. Alguns de seus "cantos", com imponentes edificações do início do século passado, lembram um pouco a paisagem do lado oriental de Berlim, que ainda conserva, em determinados pontos, o cinza ou o marrom nostálgicos de prédios não restaurados, ao lado de reluzentes e recém-reformadas fachadas em tom pastel.
A Bertold-Brecht-Strasse, por exemplo, é uma das ruas restauradas de forma exemplar. Entre suas atrações estão, por exemplo, o centro cultural Kiez e.V., um prédio laranja que serve ao mesmo tempo de cineclube e espaço para exposições.
Jardins Reais de Wörlitz
E para finalizar a visita a Dessau, nada mais agradável que conhecer os Jardins Reais de Wörlitz, um exemplar interessantíssimo de paisagismo planejado durante o Iluminismo no século 18. Em estilo inglês, o complexo foi construído com os propósitos de unir beleza e utilidade.
No projeto paisagístico dos jardins — hoje considerados patrimônio histórico da humanidade pela Unesco — foram levados em consideração aspectos não apenas econômicos ou estéticos, mas também e principalmente os ideais de formação que guiaram "o século das luzes".