Vitória de britânicos no referendo sobre Malvinas é praticamente certa
9 de março de 2013"Você deseja que as Ilhas Falklands mantenham seu atual status político como um território ultramarino do Reino Unido?" Essa pergunta, de simples resposta "sim" ou "não", será proposta aos habitantes do arquipélago, denominado Malvinas pela Argentina, quando forem às urnas nestes 10 e 11 de março.
E desta comunidade de língua inglesa composta por 3 mil pessoas, espera-se somente um resultado: uma vitória esmagadora do status quo, quer dizer, da continuidade das ilhas como território ultramarino britânico e com governo autônomo.
"Não há absolutamente nenhuma vontade para qualquer mudança fundamental", afirmou Klaus Dodds, professor de Geopolítica da Universidade Royal Holloway, em Londres, que vai estar nas Ilhas Malvinas para votar. Ele acredita que os moradores do local irão usar o referendo para mandar uma mensagem para o resto do mundo e dizer "aqui estamos, somos uma pequena comunidade e não desejamos ser intimidados por um vizinho maior".
Esse vizinho maior é, naturalmente, a Argentina. Há alguns anos, o país vem adotando uma retórica cada vez mais agressiva contra o Reino Unido. Em janeiro, a presidente Cristina Kirchner publicou uma carta aberta ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, exigindo a devolução das ilhas.
No documento, ela afirma que "o Reino Unido arrancou com violência as Malvinas da Argentina, num ato de colonialismo ostensivo do século 19", ilhas que "estão localizadas a cerca de 14 mil quilômetros de distância de Londres". As relações entre a Argentina e o Reino Unido são "as piores desde 1982", de acordo com Dodds. Mas ele acrescenta que não existe chance de ocorrer mais uma guerra para decidir a soberania do local.
"Primeiramente, eu não acredito que a Argentina seria militarmente capaz e, segundo, não é politicamente conveniente por parte da Argentina ressuscitar qualquer tipo de estratégia de invasão militar", frisou o professor inglês. Entretanto, "a Argentina se esforça em usar todas as opções, com exceção da militar, para pressionar o Reino Unido a negociar a soberania das ilhas".
Dama de ferro?
Mas o Reino Unido, ao que parece, não vai ceder. Ao contrário do que foi descrito como uma atitude "mole" do governo Margaret Thatcher, nas vésperas da invasão argentina das Malvinas, em 1982, David Cameron não deixa espaço para dúvidas.
O premiê se mantém firme na decisão de não negociar a soberania das Malvinas. "Assim, embora se costume pensar em Margaret Thatcher como a Dama de Ferro em muitas áreas de sua administração, é bom lembrar que o governo David Cameron, na realidade, é o mais perseverante nos últimos 30 anos", explicou Dodds.
Laurence Allan, especialista do Instituto IHS Global Insight, concorda com Dodds. Nos últimos 12 meses, teria ficado claro que o governo Cameron vem praticando uma política mais pró-ativa. Os britânicos, de acordo com Allan, "têm se empenhado muito mais na América Latina e tentam reforçar sua posição com os vizinhos da Argentina, por meios diplomáticos".
Atitudes britânicas
Trinta anos atrás, o Reino Unido aproveitou o apoio dos seus aliados, principalmente dos Estados Unidos. Mas hoje o governo britânico tem menos apoio da comunidade internacional para seus "atos coloniais". A maioria dos governos é relutante em apoiar qualquer indício de colonialismo e a recusa britânica em devolver os territórios para a Argentina é controversa.
Alguns pensam ser mesmo a hora de devolver as Ilhas Malvinas. Simon Winchester é um autor britânico que mora nos Estados Unidos. Em 1982, ele foi um dos primeiros jornalistas a chegar ao arquipélago, após a invasão. Ele foi acusado de "espionagem" pelos argentinos e ficou preso por três meses.
"Se hoje houvesse uma invasão argentina às Ilhas Malvinas, seria uma decisão difícil para o Reino Unido lutar contra os invasores", disse Winchester à DW. Os britânicos iriam colocar em jogo a boa vontade dos outros países latino-americanos e "todos iriam repudiar, também os Estados Unidos".
"Não vale a pena morrer por isso"
Segundo Winchester, não vale a pena morrer por tal causa: na verdade, é ridículo. Trata-se de um dos lugares mais pobres do planeta, onde só moram umas poucas pessoas, "e duas grandes potências têm certamente melhores coisas a fazer do que brigar, fazer gente morrer e derramar sangue". A maioria das pessoas iria reconhecer: isso é loucura e não pode acontecer uma segunda vez, afirma o jornalista.
Durante o conflito que durou 72 dias, 649 argentinos, 255 britânicos e três nativos das Malvinas perderam a vida. Mas, apesar disso, Klaus Dodds afirma que o atual governo do Reino Unido tem um apoio considerável da opinião pública para prosseguir com sua política sobre as Malvinas.
No entanto, não se deve subestimar o poder extraordinário das memórias de guerra, ressalva Dodds. Os veteranos das Malvinas e o jeito como os britânicos comemoram esta campanha, simplesmente fazem parte da vida pública do Reino Unido. "Quando por exemplo, celebramos o Dia da Lembrança, em novembro, a campanha das Malvinas é parte das memórias oficiais britânicas de guerra, ao lado da Primeira e da Segunda Guerra Mundial."
Autora: Joanna Impey (fc)
Revisão: Augusto Valente