Vitória ampla consolida poder de Morales
13 de outubro de 2014Não havia resultados oficiais quando o presidente Evo Morales foi a público, na madrugada desta segunda-feira (13/10), comemorar mais um mandato – o seu terceiro consecutivo na presidência da Bolívia. Com o reconhecimento da imprensa, da oposição, das pesquisas de boca de urna e de líderes internacionais, ele chamou seu triunfo de uma "porretada" e o dedicou a Fidel Castro e Hugo Chávez.
A "porretada" se explica pela amplitude de sua vitória. As previsões são de que Morales tenha vencido em oito das nove regiões bolivianas, inclusive em Santa Cruz de la Sierra, tradicional reduto opositor. No Congresso, ele deve manter a maioria de dois terços conquistada em 2009, suficientes para realizar reformas legais e constitucionais.
"Ele parece ter encontrado uma fórmula de vencer, e vai ver até que ponto ele conseguirá mantê-la em seu terceiro mandato", diz o analista político Michael Shifter, presidente do instituto americano IAD, em entrevista à agência de notícias AP.
Para a oposição, uma disputa injusta
Se cumprir seu mandato até o fim, Morales completará 14 anos no poder, feito que nenhum outro presidente conseguiu desde o restabelecimento da democracia na Bolívia, em 1982. Sua continuação no poder só foi possível porque, em 2009, ele conseguiu, em referendo popular, mudar a lei que permitia apenas uma reeleição no país.
Morales nega que tentará um quarto mandato, mas o temor da oposição é de que, com a ampla maioria no Congresso, ele mude a Constituição novamente para estabelecer a reeleição ilimitada na Bolívia.
"Vamos assegurar que não haja mais reeleições, que as leis e a Constituição sejam respeitadas", disse Doria Medina, segundo colocado na disputa presidencial com cerca de 25% dos votos. "Com um centésimo dos recursos do governo mais poderoso da história e do empresário mais poderoso da Bolívia, meu projeto mostrou que é uma alternativa clara."
A oposição acusa Morales de ter criado uma disputa injusta ao usar milhões do dinheiro público em sua campanha. E ativistas de direitos civis atribuem a ele um silenciamento gradual da mídia opositora. O presidente não compareceu ao único debate na TV realizado, e a emissora estatal não o transmitiu.
"Não há uma oposição funcional, de esquerda, direita ou do que seja", diz Jim Shultz, diretor executivo do Democracy Central, instituto independente baseado em Cochabamba.
"Triunfo para Fidel e Chávez"
Morales tem como principal bandeira de seu governo as conquistas sociais. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), em nenhum país latino-americano a renda dos 40% mais pobres cresceu mais do que na Bolívia entre 2002 e 2012. Em nove anos no poder, Morales diz ter erradicado o analfabetismo.
Para manter seus programas sociais, o primeiro presidente de origem indígena da Bolívia nacionalizou indústrias-chave, como a do gás e do petróleo. Em seus dois mandatos, a dívida boliviana caiu, as reservas internacionais subiram, e o crescimento econômico pode ser, neste ano, o maior da América do Sul.
"Essa vitória é dedicada a Fidel Castro, a Hugo Chávez – que descanse em paz – e a todos os presidentes e governos anti-imperialistas e anticapitalistas", disse Morales. "Pátria, sim! Colônia, não!
Os resultados são comemorados com base em pesquisas de boca de urna e em análises de institutos independentes. Ainda que demandem a confirmação do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), eles não devem diferir muito das previsões, que apontam mais de 60% dos votos para Morales.
O TSE atribui a demora na apuração a ameaças de hackers e a problemas de logística. A legislação eleitoral boliviana dá aos departamentos (estados) até sete dias para que transmitam seus relatórios ao tribunal superior, que tem outros cinco dias para divulgar os dados finais oficialmente.
A ausência de resultados oficiais não evitou que países como Espanha, Venezuela, Equador, Cuba, Colômbia e El Salvador, além organismos como a Comunidade Andina, enviassem suas felicitações a Morales pela vitória.
RPR/rtr/ap/dpa