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Vitória republicana ameaça levar Washington à paralisa política

Gero Schliess, de Washington (nm)6 de novembro de 2014

Domínio opositor no Congresso é recebido como "terremoto político" por democratas, que terão dois anos turbulentos para superar desconfiança de parte do eleitorado e tentar seguir na Casa Branca nas próximas eleições.

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Kongresswahlen in den USA
Foto: Reuters/S. Audette

“Aconteceu bem do jeito que eu esperava”, diz um taxista, enquanto apanha convidados em um evento democrata na Virginia, durante as eleições. Com o resultado da votação de terça-feira (06/11), porém, ele diz que não se importa

O taxista faz parte do grande grupo de americanos que, segundo pesquisas, tem pouca confiança nos políticos, independentemente do partido. E que viram com certa indiferença a esmagadora vitória republicana nas eleições legislativas.

Entretanto, analistas políticos e imprensa reagiram de forma bem diferente em Washington. Para eles, o sucesso dos republicanos é um sinal claro de que o cenário político dos Estados Unidos mudou drasticamente.

"É um terremoto político", opina o especialista Michael Werz, do instituto Center for American Progress.

Derrota surpreendente

O presidente do American Council na Alemanha, William Drozdiak, classificou o resultado como uma "vitória poderosa" para os republicanos, destacando que eles não só conquistaram o Senado e expandiram a maioria que já tinham na Câmara, como também elegeram governadores nos estados-chave da Flórida, Michigan e Wisconsin.

Como se isso não bastasse, o novo domínio republicano enfraqueceu significativamente a chance de os democratas ganharem a Presidência em 2016. Para Hillary Clinton, caso ela realmente decida se candidatar, a eleição pode estar próxima demais, diz Drozdiak.

Kongresswahlen in den USA (Jubelnde Republikaner)
Republicanos celebram o que eles chamaram de uma vitória históricaFoto: Reuters/M. Kauzlarich

O Partido Democrata estava esperando um momento difícil nas eleições legislativas, já que há semanas as pesquisas apontavam para essa direção. Mas o resultado terrível surpreendeu não só a legenda do presidente Barack Obama, como também a cena política em Washington.

Voto anti-Obama

No entanto, segundo Werz, uma votação tão expressiva contra um presidente em exercício não é incomum nas eleições legislativas, especialmente no segundo mandato. Para analitas, o resultado seria um claro voto contra Obama, com os republicanos culpando-o por tudo o que há de errado nos EUA.

“Os republicanos foram muito eficazes em levar essa mensagem aos eleitores”, diz Drozdiak. “Em vez de deixá-los pensarem o que o Congresso vem fazendo de errado, os republicanos insistiam em dizer que é tudo culpa de Obama, e essa mensagem muito simples apareceu de forma clara."

Na quarta-feira, o jornal New York Times chegou a sugerir que o baixo índice de aprovação de Obama em pesquisas nacionais e a derrota completa de seu partido significavam uma rejeição geral ao presidente e às suas políticas.

Uma análise feita pelo Washington Post atribuiu a vitória republicana a uma onda de raiva e frustração com o presidente: "As pesquisas preliminares da eleição revelaram um eleitorado que ficou em grande parte frustrado devido ao impasse político em Washington, depois de dois anos em que o Legislativo fez muito pouco”.

Para Werz, os republicanos encontraram o sucesso com sua estratégia de invocar o terror na mente dos eleitores, concentrando-se no conflito na Síria, na ameaça do ebola e nos perigos da fronteira entre Estados Unidos e México.

Entre o confronto e a cooperação

Os republicanos têm chamado essa de uma vitória histórica na eleição e tomaram isso como um desafio para moldar o futuro rumo da política americana, mais ainda do que em épocas passadas. "Os eleitores estão famintos por uma nova liderança", disse o senador Mitch Mcconnell, líder da maioria republicana no Senado.

Para Drozdiak, parece que um confronto com Obama é inevitável. "A probabilidade é de haver mais estagnação em Washington nos próximos dois anos", afirma.

Já Werz, por outro lado, ressalta que o presidente ainda tem seus poderes executivos, com os quais ele pode promulgar ações relacionadas à mudança climática e política externa sem a aprovação do Congresso. Ele lembra que os republicanos, mesmo com uma minoria no Senado até então, usaram uma tática de bloqueio que levou a uma "polarização nunca vista antes".

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Acordo comercial com a Europa, o TTIP, não deve ser ameaçado pelo resultadoFoto: Reuters/M. Rehle

Isso é o que deve acontecer em Washington. Como exemplo, Drozdiak cita o senador Ted Cruz, que já pediu um embate contra a reforma na saúde feita pelo presidente, apelidada de Obamacare. Os republicanos também podem fazer o governo sofrer financeiramente, forçando uma redução na administração.

Drozdiak não descarta uma paralisação, semelhante ao impasse que ocorreu no ano passado com o Obamacare. As negociações sobre o aumento do limite da dívida estão por vir, e os republicanos poderiam usá-las para iniciar o bloqueio.

Política externa estável

Apesar do conflito, é possível perceber gestos conciliatórios dos dois lados. Na sexta-feira (31/10), Obama convidou representantes republicanos à Casa Branca para conversações.

E nas entrevistas que antecederam a eleição, o senador McConnell havia indicado a vontade de cooperar – uma aproximação que poderia funcionar em assuntos como imigração ou política econômica.

Até que ponto a linha dura dos republicanos – como vinda do movimento ultraconservador Tea Party – permitirá McConnell fazer seus gestos cooperativos é algo que vem sendo observado.

“Será difícil conseguir um progresso no Congresso com dois partidos e meio”, diz Werz, se referindo ao papel independente desempenhado pelo Tea Party.

Tanto Drozdiak quanto Werz, entretanto, veem um bom futuro para o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), negociado entre Europa e Estados Unidos. Os dois especialistas apontam que o paco tem muitos defensores poderosos, mesmo entre os republicanos.

Além disso, Drozdiak acredita que a política externa e de segurança americana permanecerá estável, pois Obama tem forte poder quando se trata dessa área. Para Drozdiak, o presidente provavelmente vai optar por concentrar a atenção sobre isso, em vez de focar nas questões internas. Diante das muitas crises internacionais urgentes, ele pode não ter outra escolha.