Vício internet
13 de março de 2003Eles varam a noite, usam pseudônimos como "jocool", "kreec" ou "juliese", conhecem o pessoal com que se comunicam nos chats melhor do que os amigos, os próprios filhos, maridos ou mulheres. No final, acabam entrando em colapso, isolados de todos e perdendo o emprego. Estamos falando da internet como o novo vício.
Mais de um milhão de pessoas são dependentes da rede na Alemanha, segundo André Hahn, da agência de pesquisas de mercado Research International. O estudo que fez, há dois anos, para a Universidade Humboldt, de Berlim, detectou que 2,67% dos usuários alemães apresentam sintomas agudos de vício. "Essa porcentagem não se alterou até hoje, embora o número de usuários tenha saltado de 25 milhões para 30 milhões nesse período", informou André à DW-WORLD.
Mensalidades facilitaram o vício
Os sintomas são os mesmos em quase todos os casos: as pessoas passam cada vez mais tempo diante da tela surfando, não dão a devida atenção à família, aos amigos, à escola ou ao trabalho. Em conseqüência, acabam se divorciando, perdendo o namorado ou sendo despedidos. Até ser introduzido o sistema de flatrate (taxa fixa mensal para conexão) na Alemanha, enfrentavam mais um problema sério: contas telefônicas astronômicas, que representavam a ruína financeira.
"Com as taxas fixas diminuiu o risco financeiro dos afetados. Por outro lado, o que dificultava o vício foi varrido e, com isso, a droga tornou-se mais facilmente acessível", expõe André Hahn. Quando um viciado está sem acesso à rede, começa a apresentar as características psíquicas de quem fica sem a droga: torna-se nervoso, irritado, agressivo ou sem concentração.
Teclando no chat até de madrugada
Gabriele Farke afirma ter sido viciada em internet durante dois anos. Tudo começou no escritório, esporadicamente. Depois que comprou seu computador, surfava várias horas por dia após o trabalho. "A internet acabou ocupando um espaço maior do que a minha família", disse a industriária de 47 anos em entrevista à DW-WORLD. Ela passava horas nos chats, discutindo até de madrugada com desconhecidos, que pareciam compreendê-la melhor do que seus amigos.
Passado o pesadelo, Gabriele considera essas conversas "papo furado". O que aconteceu com ela, se passou assim ou de forma parecida com muitos viciados: ela foi perdendo todo e qualquer contato social, sua filha sentiu-se abandonada e saiu de casa com 18 anos, Gabriele perdeu o emprego e ainda hoje tem dívidas por causa das contas telefônicas. Em 1996, escreveu um livro sobre o vício e, em 1999, fundou uma ONG para ajudar os viciados em computador. Escrever o livro libertou-a do vício.
Um vício como o jogo
Psiquiatras e psicólogos continuam investigando causas e formas que assume a dependência da rede mundial. Werner Platz, psiquiatra da Universidade Livre de Berlim, atende vários viciados. Para ele, a internet é uma forma moderna de vício do jogo, embora por trás disso estejam desequilíbrios psíquicos como, por exemplo, a depressão.
Platz está convencido de que os viciados em internet têm uma inclinação a outros tipos de vícios. Esse potencial pode se manifestar principalmente se o paciente não fizer nenhuma terapia para curar o desequilíbrio que está por trás do comportamento. O tratamento é ir diminuindo, passo a passo, o número de horas na rede. Ao mesmo tempo, deve-se fazer uma terapia. Quem se curar, que se cuide, pois a era das tecnologias da informação reserva outras tentações, como as mensagens SMS. Consta que já há milhares de pessoas viciadas em mandar recadinhos via celular. (ns)