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'Wagner Goes Rap': juventude e música clássica

9 de fevereiro de 2013

Concurso sob a égide da bisneta do compositor é vista com otimismo, mas também criticada por personalidades da cultura. No fim das contas, nada como o contato direto com as "difíceis" óperas originais, afirmam.

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Foto: Fairplay Stiftung

Obras como Os Mestres-Cantores de Nurembergue, Lohengrin ou até mesmo O crepúsculo dos deuses em forma de canção-rap? Difícil imaginar que Richard Wagner (1813-1883) fosse gostar de coisa assim. E para os wagnerianos puristas, a simples menção de tal ideia possivelmente já constitui uma insuportável tortura psicológica.

Não importa, retruca Katharina Wagner, bisneta do compositor e codiretora do Festival de Bayreuth. Juntamente com a fundação Fairplay – cuja finalidade expressa é "comunicar valores e conteúdos culturais" –, ela lançou um concurso com o fim de aproximar jovens entre 11 e 20 anos da música de Wagner.

Wagner goes Rap
Katharina Wagner procura modernizar BayreuthFoto: Fairplay Stiftung

Os participantes são convidados a trabalhar um texto de uma das óperas no estilo de canto falado – à maneira de rappers como Bushido ou Kanye West – e apresentar o resultado em forma de videoclipe ou CD.

"O projeto faz uma bela ponte entre musicalidade, senso de ritmo e a obra de Richard Wagner", argumenta a bisneta, que se considera uma gestora dessa obra, na qualidade de herdeira do clã Wagner.

Apenas um começo

Há quem critique o projeto Wagner Goes Rap como "marketing wagneriano para crianças", acusando a diretora do festival de procurar um efeito publicitário rápido. Outros o consideram uma abordagem experimental perfeitamente válida, em se tratando de introduzir as gerações jovens a essa tão complexa obra operística.

Na visão da professora de música Friederike Fischer, de Berlim, este é um modo de fazer com que os adolescentes ao menos ousem se ocupar desses textos. Atuando há vários anos na Escola Birger Forell, no bairro de Schöneberg, ela tem apresentado Wagner e outros compositores eruditos a seus alunos.

No entanto, um concurso assim é apenas o começo, ressalva a professora. Se o projeto é para ser sustentável, não há como escapar de uma ida à ópera, pois "as crianças têm que conhecer o original".

Facilidade sedutora

Os promotores do concurso não veem a coisa de forma tão estrita assim. Pelo contrário: para eles, o rap é uma forma artística perfeita, um estilo musical ideal, que permite – sobretudo aos mais jovens – travar contato com os textos wagnerianos de maneira criativa e lúdica.

O diretor do projeto é o "cabaretista musical" Michael Sens. Ele, que estudou violino e canto na Escola de Música Hanns Eisler, em Berlim Oriental, acredita que todo o mundo é capaz de cantar rap, de uma forma ou de outra.

Wagner goes Rap
Michael Sens dirige o projetoFoto: Fairplay Stiftung

"Quem quer aprender o instrumento violino tem que começar com seis anos de idade e – exagerando um pouco – aos 60 anos ainda não está pronto", comenta. Por outro lado, um rapper pode simplesmente pegar uma música, superpor sua mensagem, e está pronta a canção. "Não se precisa de uma preparação tão longa, por isso o rap é tão apreciado entre os jovens."

Afinal de contas, a meta é interessá-los por uma música que, na maioria dos casos, lhes é estranha, prossegue Sens. Isso não se consegue nem com canções folclóricas, nem com acampamentos em torno de uma fogueira ou com a maçante insistência na "cultura dominante" germânica. Em vez disso, hoje em dia os rapazes e moças "cantam rap até não poder mais, de boné torto na cabeça e ao som de batidas de arrasar".

Para o iniciador Sens, também é positiva a possibilidade de, com essa ação, entusiasmar não só as crianças, mas também os seus pais. Pois para estes, a música de Richard Wagner é tão exótica quanto o som de um canto de pastores mongóis afirma Sens.

Expectativa de originalidade

Um concurso de rap pode ser um elemento importante na divulgação da música, um incentivo a aprender de forma criativa. Basta pensar no regente e compositor Leonard Bernstein, pioneiro na popularização da música clássica. Já nas décadas de 1970 e 1980, ele transformava seus ensaios gerais em pequenas festas, nas quais apresentava obras "difíceis" ao público, de maneira divertida.

O vencedor de Wagner Goes Rap terá direito a um workshop com o rapper Das Bo, de Hamburgo, que em seguida produzirá a canção em condições profissionais. Ao que tudo indica, os iniciadores não têm a menor ideia de como será esse rap wagneriano, em termos de som e imagem. Mas tudo é permitido.

Wagner goes Rap
Rapper Das Bo: workshop com vencedorFoto: Fairplay Stiftung

Michael Sens, que compõe o júri, ao lado de Katharina Wagner e do político liberal Wolfgang Kubicki, espera abordagens fora do comum. Não basta só recitar os textos de Wagner, sublinha o humorista. Acima de tudo, os vídeos submetidos serão julgados por sua riqueza de ideias e criatividade, e não pela qualidade técnica ou fidelidade ao original.

O mesmo de sempre?

Porém a música deverá estar em primeiro plano: não está prevista qualquer análise da figura de Richard Wagner, politicamente tão controvertida. Tal falta de incentivo ao senso crítico desperta o ceticismo de Achim Freyer, diretor teatral e discípulo de Bertolt Brecht (1898-1956).

No momento, Freyer está encenando o ciclo de quatro óperas O anel do Nibelungo na cidade de Mannheim, e duvida que o programa de entretenimento da bisneta do genial artista realmente chegue até a geração jovem. "Não acredito que um grande compositor precise que se faça um pot-pourri de sua obra. Somente pura qualidade e arte. Nada mais."

Parece estranho: hoje em dia, qualquer um que pretenda falar aos adolescentes e crianças, acaba organizando um concurso de rap. Em geral, os resultados beiram o vexame. Entretanto, neste caso pode realmente se tratar de uma abordagem experimental válida. Pois não se trata do resultado – o qual, na melhor das hipóteses, é inteiramente secundário – e sim de aproximar o jovem público da portentosa produção operística de Richard Wagner.

No fim das contas, porém, esse só pode ser um primeiro passo. Que jamais conseguirá substituir a vivência ao vivo, a penetração concentrada nessa obra. Para tornar isso possível, talvez a primeira medida seja as casas de ópera reduzirem os preços de seus ingressos, modificarem suas programações, abrirem os "templos do Graal" às famílias – como medida de educação, no sentido mais nobre do termo, e como melhor forma de propaganda da arte wagneriana.

Ausstellung Wagner 2013 Künstlerpositionen Linda Watson als Brünnhilde und John Treleaven als Titelheld in Achim Freyers Inszenierung von Wagners
Achim Freyer já encenou "Siegfried" em Los Angeles, 2009Foto: Monika Rittershaus

Autoria: Christoph Richter / Augusto Valente
Revisão: Francis França