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Brasil sim, imprensa não

12 de março de 2010

Numa viagem marcada por acusações de favorecimento pessoal, ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, encerra seu tour latino-americano num dia de muitos discursos, mas nada de respostas à imprensa.

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Relações Exteriores na América Latina: pouca disposição para ouvirFoto: picture alliance / dpa

O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, encerrou sua viagem à América Latina nesta sexta-feira (12/03) no Rio de Janeiro, última parada após São Paulo, Brasília, Argentina, Uruguai e Chile. Sua trajetória foi acompanhada de criticas por parte da imprensa alemã, de olho na delegação que o acompanhava. Westerwelle viajou com o parceiro, Michael Mronz, que atua na área de eventos esportivos, além de outros empresários, todos favoráveis a seu Partido Liberal Democrático (FDP).

A participação do empresariado alemão nos preparativos para os dois grandes eventos esportivos que o Brasil sedia em 2014 e 2016 era uma das missões de Westerwelle no Brasil, e a conveniência de seu parceiro estar presente nesses encontros levou publicações como Der Spiegel e Die Welt e políticos da oposição a fazer críticas pesadas ao ministro, indo de nepotismo até corrupção.

A sexta-feira foi produtiva nas conversas sobre as parcerias que a Copa e as Olimpíadas podem gerar. Westerwelle começou o dia num simpósio bilateral voltado para o tema, seguiu para um almoço com o governador do Rio, Sérgio Cabral, e de tarde ainda se dispôs a visitar o projeto Bola Pra Frente, no bairro carioca de Guadalupe. Criada pelos jogadores tetracampeões Jorginho e Bebeto, a iniciativa visa ajudar crianças e adolescentes carentes a alcançar um futuro melhor.

Coletiva sem perguntas

Mas o vice-chanceler não se dispôs a responder perguntas de jornalistas. A coletiva de imprensa ao lado de Sérgio Cabral, marcada para as 14h30m, foi antecipada sem aviso, e os jornalistas que chegaram esbaforidos às 14h20m se surpreenderam com a coletiva já começada, e, mais ainda, com uma coletiva sem perguntas, marcada apenas por declarações reiterando as boas relações entre ambas as partes. Westerwelle se disse impressionado com os preparativos com a Copa e afirmou querer voltar ao Rio muitas vezes -- o mais tardar em 2014.

Guido Westerwelle in Rio de Janeiro
Westerwelle (d) fala no Rio. A seu lado Ingo Plöger, presidente do IPDESFoto: picture alliance / dpa

No evento do qual participou pela manhã, Westerwelle tampouco falou à imprensa. Ele abriu o 1º Simpósio de Desenvolvimento Urbano, com o tema "Mega Eventos Esportivos e Desenvolvimento Urbano Sustentável", promovido pelo Consulado Geral da Alemanha e pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK-Rio). Ao lado do ministro brasileiro do Esporte, Orlando Silva, e de representantes do estado e da prefeitura do Rio, Westerwelle lembrou o "conto de verão" que foi a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, e reiterou o interesse do país em ajudar para que os eventos no Brasil sejam um grande sucesso. "Isso vale para a política, vale naturalmente para os esportes, mas vale também para os empresários, que em parte estão aqui presentes na delegação que me acompanha", ressaltou.

Para Westerwelle, o Brasil deve estar se fazendo as mesmas perguntas que a Alemanha se fez ao se preparar para o mundial: "As questões são: como os estádios serão usados depois que a final já tiver sido disputada e o troféu entregue? Como devem ser planejados os transportes, de forma que as linhas de trem, de metrô, de ônibus beneficiem a população local a longo prazo? Como os investimentos podem contribuir para tornar as cidades mais limpas, seguras e com melhor qualidade de vida? E como a população será envolvida no planejamento, de forma que também aceite as mudanças?", enumerou, frisando que planejamento está no cerne de todas essas questões.

Copa: Alemanha não só fez bonito, como registrou tudo passo a passo

O chefe da diplomacia alemã lembrou ainda que a distância entre Rio e São Paulo é só 50 quilômetros maior que a que separa Hamburgo e Berlim. "Assim como lá um trem de alta velocidade aproximou essas duas cidades, para vocês isso também é uma alternativa, principalmente quando se sabe o incrível número de pessoas que isso vai movimentar."

Segundo o ministro do Esporte, Orlando Silva, não é apenas a experiência da Alemanha que favorece as parcerias, como também a precisão com que o país documentou todas as etapas do processo. "Temos um relatório detalhado de todo o processo de preparação da Copa do Mundo na Alemanha, explicando todo o pré-, o durante e o pós-Copa em 2006", afirmou ele. Segundo o ministro, nenhum outro país tem isso, o que faz da Alemanha, hoje, o principal parceiro do Brasil nos preparativos para o mundial. Silva elogiou o simpósio: "Um evento como este permite a aproximação entre os empresários, entre quem realiza de fato. Os brasileiros ganham em se associar com empresas que têm tecnologia de ponta, experiência internacional. O Brasil ganha em incorporar essa experiência na preparação para o mundial", salientou.

A noção de que os dois lados vão sair ganhando com parcerias pré-Jogos motivou a Confederação Alemã da Indústria (BDI) a criar o projeto WinWin, um acordo de cooperação Brasil-Alemanha voltado especificamente para os preparativos para 2014 e 2016. Westerwelle chamou atenção para o projeto, que teve sua pedra fundamental lançada no Encontro Econômico Brasil-Alemanha de Vitória, no ano passado. Ele incentivou empresários a entrarem em contato com seu porta-voz, Stefan Zoller. Presidente do Brazil Board da BDI, este explicou que o projeto é uma plataforma onde empresas alemãs que desenvolveram tecnologias para a Copa de 2006 podem estabelecer uma ponte com empresas brasileiras e manter-se a par de possibilidades de negócios no Brasil.

"Criamos uma plataforma na internet onde as empresas alemãs podem encontrar informações sobre todas as licitações relativas à Copa e às Olimpíadas no Brasil. Lá, podem saber quem devem procurar e onde devem se candidatar", convidou Zoller.

O que todo mundo quer no fim de fato é sair ganhando – como confessou o próprio Westerwelle. "Na verdade o nosso engajamento na Copa e nas Olimpíadas é totalmente em interesse próprio. Afinal, queremos estar na final e ter condições ideais para que possamos vencer. Assim como deve ser", disse, provocando risos na platéia.

Autora: Júlia Dias Carneiro
Revisão: Augusto Valente