1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Entrevista exclusiva

20 de julho de 2009

Em entrevista à Deutsche Welle, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, comenta os perigos que o fracasso das negociações implicam e o que o leva a ignorar os riscos que corre ao insistir em retornar ao país.

https://p.dw.com/p/ItDo
Presidente de Honduras tentará retornar pela segunda vez no final de semanaFoto: AP

Após dois dias de negociações, representantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e do regime instaurado pelos golpistas declararam encerradas as tentativas de aproximação. Para o mediador da crise, o Nobel da Paz Oscar Arias, presidente da Costa Rica, a grande decepção dá espaço ao medo de que a crise se torne sangrenta.

"Que alternativas há para o diálogo? O povo hondurenho tem armas e sabe disso. O que acontece se as apontarem para um soldado? Ou se um soldado atirar num cidadão comum? Pode haver uma guerra civil com derramamento de sangue, o que a população de Honduras não merece", lamenta.

Arias havia apresentado uma proposta de sete pontos para restabelecer a unidade nacional, com Zelaya como presidente. No entanto, ele teria que renunciar à pretensão de realizar uma consulta popular não autorizada – o que levou ao golpe que o derrubou três semanas atrás.

Também segundo a proposta de Arias, os golpistas teriam que aceitar uma anistia geral para delitos políticos ocasionados pelo conflito, podendo integrar inclusive o novo governo de reconciliação a ser formado. As eleições presidenciais de novembro seriam adiadas em quatro semanas e uma comissão internacional supervisionaria o retorno à ordem constitucional.

Embora a delegação de Zelaya estivesse de acordo com a proposta de Arias, representantes do regime instaurado após o golpe não a aceitaram, principalmente devido ao primeiro ponto, que previa o retorno de Zelaya ao poder.

Marcha de protesto e greves

Ainda é incerto se as negociações, realizadas na Costa Rica, terão prosseguimento. Um representante da delegação de Zelaya as deu por encerradas devido à irredutibilidade dos golpistas, mas reiterou que se mantém à disposição de Arias. Também a oposição se mostrou disposta a dialogar. Arias deverá estender a negociação por mais 72 horas.

Enquanto isso, em Honduras, os protestos prosseguem. Partidários de Zelaya planejam uma marcha de protesto pelas ruas da capital Tegucigalpa, além de convocar uma greve geral de dois dias mais para o fim da semana. O novo regime, não reconhecido pela comunidade internacional, já advertiu que adotará a linha dura contra agitadores.

Zelaya anunciou que, por uma segunda vez, tentará retornar a Honduras no final de semana. Em entrevista por telefone à Deutsche Welle, direto de Manágua, Nicarágua, ele comentou os riscos que o fracasso das negociações implica.

Manuel Zelaya / Honduras
Foto: AP

Deutsche Welle: Senhor Presidente, que perigos traz consigo o fracasso das negociações na Costa Rica?

Manuel Zelaya: Atos e acordos diplomáticos devem sempre ser um campo aberto da civilização e da paz. Nós nunca vamos renunciar a manter esse espaço permanente de diálogo com as diferentes partes da sociedade. Sem abrir mão de valores, sem abrir mão de princípios, sem fazer concessões aos que deram este golpe de Estado. Eles têm que ser castigados para que nunca voltem a repetir tais feitos sob os olhos do mundo.

O senhor insiste em regressar a Honduras. Com que objetivo? O senhor busca a reconciliação com os hondurenhos?

À defesa dos princípios, damos logicamente o nome de luta, não de confrontação. À defesa dos valores da sociedade, damos o nome de consciência, não de confrontação. Estamos dispostos, é lógico, ninguém pode negar nosso direito de voltar a nossa casa, a nossa família e a nossa terra. A interrupção por um golpe de Estado militar nunca vai ser aceita, nem por nós, nem por nosso povo, nem pelos povos do mundo.

Não são poucos os que acreditam que o senhor corre risco de vida por esse empenho. Por que o senhor está disposto a assumir tal risco?

Nenhuma luta ou conquista social se fez sem esforços e sacrifícios. Nós estamos conscientes de que a vida humana só adquire valor quando damos a ela um sentido. Nesse caso específico, em que buscamos uma sociedade melhor, um destino melhor para o povo, melhores condições de vida, estamos dispostos a fazer qualquer esforço e qualquer sacrifício.

RR/dw
Revisão: Augusto Valente