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A medição da fé

Katja Lückert (av)15 de outubro de 2008

Livro de jornalista científico examina aspectos da pesquisa sobre a fé, da antropologia à neuroteologia. Para que ela serve? Provado está seu aspecto genético. E que os religiosos se reproduzem mais.

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Videoinstalação 'Volto Santo'Foto: AP
Kalenderblatt Höhlenmalerei in Lascaux
Cavernas de Lascaux, no sudoeste da FrançaFoto: AP

O ser humano é religioso e as provas disto se encontram espalhadas por todo o mundo: das pinturas rupestres em Lascaux, passando pela arte dos xamãs san nos rochedos da África do Sul (que, apesar de muito mais recente do que as obras das cavernas européias, apresenta motivos pictóricos semelhantes), seguindo pelo budismo e o hinduísmo até as modernas "religiões patchwork" (cujo edifício espiritual é composto de elementos de diferentes tendências teístas).

Toda cultura conhece formas de concepção religiosa, por mais distintas que sejam daquilo que o Ocidente considera religião. O jornalista Ulrich Schnabel, redator de ciência do semanário Die Zeit, defende a tese que a religião é uma predisposição humana original. Em seu livro Die Vermessung des Glaubens (A medição da fé), lançado recentemente, ele tenta compilar tudo o que se sabe sobre o tema, do ponto de vista científico. Entre outras tendências, ocupa-se do ramo da neuroteologia.

"Segundo todos os dados de que se dispõe, a crença religiosa tem acompanhado a humanidade desde o princípio. Certos biólogos evolucionistas afirmam ser a fé a única característica que realmente nos distingue dos animais. Pois todas as habilidades, como linguagem, cultura e emprego de ferramentas, se encontram também em forma rudimentar entre os animais. Apenas a fé religiosa não é observada em nenhuma outra espécie, é exclusiva do homem."

Como no futebol

Buchtitel Die Vermessung des Glaubens
Capa do livro de Ulrich SchnabelFoto: Verlag Blessing

O homem é, portanto, religioso por natureza. Entenda-se aqui "por natureza" realmente no sentido antropológico, e não genético. Schnabel considera total disparate o "gene de Deus", que o biólogo molecular norte-americano Dean Hamer pretende haver descoberto já há alguns anos. "Entretanto está provado existir uma bem definida disposição genética geral para a fé. Simplificando bastante: quem tem pai pastor tenderá antes a procurar um sistema religioso do que alguém em cujo lar a religião não representa qualquer papel."

Se a fé é humana, de uma maneira ou de outra, não há realmente como se decidir contra ou a favor; a questão é apenas como esta predisposição se expressa em cada indivíduo. Schnabel encontra resquícios dela mesmo nos mais ferrenhos críticos da religião, como Christopher Hitchens ou Richard Dawkins.

Para ele, a grande discussão sobre o assunto em todos os níveis, até o da "luta das culturas", fundamenta-se justamente em crenças, ou seja, em posições pessoais, defendidas com veemência mas sem base real em dados empíricos. "E tenho a sensação de que esta discussão tem se realizado num nível bem baixo", recrimina o jornalista.

Fußball, Hooligans, Rostock
Hooligans em DresdenFoto: picture-alliance/dpa

O sentimento religioso certamente traz sempre consigo a ameaça da mentalidade tacanha, a qual pode levar ao fundamentalismo. Mas aqui Schnabel traça um paralelo com outro fenômeno, bastante determinante em nossa época. "No futebol, dá-se exatamente o mesmo. Ele é também forte amalgamador em nossa sociedade, e também aqui há o perigo de a coisa desandar, ou dos hooligans, que abusam dessa qualidade. Creio que forças tão poderosas, que tocam as pessoas tão fundo, jamais são apenas positivas, mas sempre as duas coisas, e é preciso ter isso em mente."

Fé e reprodução

Pilger in Litauen
Peregrinos na LituâniaFoto: picture-alliance / KNA-Bild

Em sua "Medição da fé", o jornalista científico traça um quadro bem completo das descobertas da pesquisa teológica, e inquire quanto à sua plausibilidade. Além disso, ele reúne respostas bastante contraditórias sobre o efeito medicinal da fé, ou se ela é capaz de tornar os seres humanos mais felizes.

Schnabel menciona ainda as incertas constatações da neurociência em relação à meditação, e busca a influência da fé nos campos social e demográfico. E aqui se registra um efeito pouco espetacular, porém mensurável, da religião: em todo o mundo, as pessoas religiosas têm, em média, mais filhos do que as que não se consideram religiosas.