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África tem as 10 crises de refugiados mais negligenciadas

2 de junho de 2022

Crises mais ignoradas do mundo são no continente africano. Estudo denuncia "ciclo vicioso de negligência política, cobertura limitada da mídia, cansaço dos doadores e necessidades humanitárias cada vez mais profundas".

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Refugiados africanos
Africanos que sofrem deslocamentos raramente aparecem nas manchetes internacionaisFoto: Emmanuel Lubega/DW

Dez nações africanas encabeçam uma lista de países onde o sofrimento humano devido a deslocamentos e conflitos é negligenciado internacionalmente, de acordo com uma classificação anual do Conselho Norueguês para Refugiados, divulgada nesta quarta-feira (01/06).

A República Democrática do Congo (RDC) é o país mais negligenciado da lista pelo segundo ano consecutivo, seguido por Burkina Faso, Camarões e Sudão do Sul.

"A RDC se tornou um exemplo de negligência", afirmou Jan Egeland, secretário-geral da organização assistencial, no lançamento do relatório. "É uma das piores crises humanitárias deste século, mas aqueles, dentro e fora da África, com poder para efetuar mudanças estão fechando os olhos para as ondas de ataques brutais e direcionados a civis e que destroem comunidades."

Cerca de 5,5 milhões foram deslocados internamente na RDC em 2021, devido a tensões e conflitos regionais, tendo mais de 1 milhão fugido para países vizinhos. Ter que abandonar suas casas deixa as populações em risco de fome, as crianças sem acesso educação e pode prolongar os conflitos e a violência que costumam ser os maiores responsáveis pelos deslocamentos.

Cerca de 27 milhões, ou um terço da população, passaram fome na República Democrática do Congo em 2021.

"Não posso planejar o futuro de meus filhos, não há nada além de buscar comida, a cada dia", disse ao conselho de refugiados uma mãe de 37 anos da província de Ituri, área de conflito no nordeste da RDC. Cinco de seus familiares foram mortos num massacre, e sua casa foi completamente queimada. "O mundo não sabe como sofremos aqui", queixou-se.

Críticas à imprensa

O ranking anual visa destacar a situação de quem não recebe assistência, ou apenas inadequada, e cujo sofrimento raramente faz manchetes internacionais.

O relatório critica que os meios de comunicação internacionais raramente cobrem os países da lista "a não ser reportagens concretas sobre novos surtos importantes de violência ou doenças". Além disso, as restrições à liberdade de imprensa em muitas das nações em questão tornam difícil para a mídia local cobrir os conflitos e os deslocamentos resultantes.

Além de integrar a lista dos dez países mais negligenciados, o Sudão e a Nigéria, por exemplo, estão no fundo do ranking da liberdade de imprensa internacional. Apesar de Burkina Faso ocupar uma posição relativamente alta em termos de liberdade de imprensa (número 41 na lista anual da Repórteres Sem Fronteiras), os jornalistas foram praticamente proibidos de acessar locais de deslocamento no país, de acordo com o relatório.

"Essa proibição contribuiu significativamente para uma cobertura insuficiente da mídia sobre questões humanitárias e uma falta de informações confiáveis e independentes sobre ataques e eventos relacionados à segurança", constatou o relatório.

A nação na África Ocidental enfrenta uma onda de violência ligada à jihad, que expulsou dezenas de milhares de suas casas. Apesar disso, o financiamento internacional para a resposta humanitária foi "menos da metade do total necessário" para 2021, aponta o documento.

Guerra na Ucrânia ofusca outras crises

A análise do Conselho Norueguês de Refugiados também cita a guerra na Ucrânia para destacar que é possível governos, empresas privadas e mídia internacional reagirem rapidamente a uma crise humanitária.

A invasão pela Rússia "demonstrou a imensa distância entre o que é possível quando a comunidade internacional se une contra uma crise e a realidade diária de milhões que sofrem em silêncio, dentro dessas crises no continente africano que o mundo escolheu ignorar", disse Egeland.

"Isso aponta para um ciclo vicioso de negligência política internacional, cobertura limitada da mídia, cansaço dos doadores e necessidades humanitárias cada vez mais profundas", concluiu o secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados.

rw/av (AFP, DPA)