África volta à agenda dos alemães
16 de novembro de 2003Lula, que retornou com uma numerosa comitiva há poucos dias de uma viagem por cinco países africanos, não é o único governante a dedicar atenção ao "continente esquecido". A África parece haver se tornado novamente interessante para a Alemanha, a medir pelo grande número de políticos alemães que também lá estiveram recentemente ou preparam uma visita oficial.
O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, planeja uma viagem em janeiro e, logo a seguir, será a vez do presidente Johannes Rau. A ministra da Cooperação Econômica, Haidemarie Wieczorek-Zeul esteve no Quênia em outubro e o ministro do Exterior, Joschka Fischer, encerrou dia 1º de novembro uma viagem a três países: África do Sul, Mali e Namíbia. E não esqueçamos o ministro da Defesa, Peter Struck, que esteve no Marrocos, com o intuito de aproximar mais alguns países do norte do continente à Europa e à Otan, o que seria importante no combate ao terrorismo internacional.
Não excluir a África
De onde vem esse interesse repentino? Em termos econômicos, a África continua perdendo significado. O comércio exterior da Alemanha com os países africanos diminuiu bastante. A Nigéria e a África do Sul são os únicos com significado econômico, enquanto a balança comercial tende para zero com a grande maioria. Não obstante, o continente é importante para Joschka Fischer:
"Os africanos vão desempenhar seu papel no mundo globalizado do século 21. Não podemos admitir que esse continente vizinho, de grandes dimensões, seja desacoplado da economia mundial e excluído da globalização. Isso exige esforços conjuntos." O mercado mundial finalmente deve se abrir para os países africanos, para que eles tenham pelo menos uma chance.
Valores ocidentais
Para Andreas Mehler, diretor do Instituto de Estudos Africanos em Hamburgo, também há outras razões que justificam o interesse: "Nós queremos que os nossos valores, fixados na constituição, também sejam respeitados na África." Entre estes, os direitos humanos e a democracia. O mais tardar a partir dos atentados de 11 de setembro de 2001 ficou claro que esses valores estão relacionados com a segurança do mundo ocidental.
A pobreza, a falta de escolas e de perspectivas instigam o ódio e o terrorismo, segundo Andreas Mehler: "Não queremos provocar pânico, mas se surgirem espaços sem Estado na África - e é isso o que acontece atualmente - eles servirão de refúgio para terroristas internacionais. A médio prazo talvez isso seja problemático para nós. Se ignorarmos esses problemas, um dia poderemos pagar caro por isso."
Ajuda vale a pena a longo prazo
Depois que o Ministério de Relações Exteriores ordenou o fechamento de várias embaixadas e consulados na África, na década de 1990, a Alemanha volta a fortalecer sua presença na região. A ajuda ao desenvolvimento também foi reduzida no mesmo período, embora países africanos continuem sendo os destinatários da maior parte da ajuda estatal alemã.
O exemplo de Mali demonstrou que os investimentos e o interesse pelo continente negro também têm retorno. Sem o apoio do presidente do Mali, os 14 reféns alemães seqüestrados no deserto do Saara no início do ano possivelmente não teriam sido libertados até hoje. A Alemanha sempre está prestando auxílio, disse o presidente Amadou Toumani Touré na entrega dos turistas, por isso seria para ele uma honra ajudar a Alemanha. O bem que se faz, tem um bom retorno, parece ser a moral da história.
Cantor à frente de campanha pela África
A situação da África parece haver tocado também outras pessoas, como o popular cantor e compositor Herbert Grönemeyer. Ele não somente deu um concerto em benefício de projetos, como colocou-se à frente da campanha Juntos pela África. Ela reuniu 26 organizações alemãs que prestam ajuda humanitária no continente africano.
"A África precisa da nossa curiosidade, e não da nossa piedade", disse o cantor para a multidão que compareceu para ouvi-lo em 7 de novembro. Os africanos querem tomar o destino em suas mãos e desenvolver seus países, sem a tutela do Ocidente, que "acha saber tudo melhor que os outros", segundo o cantor.
Após visitar alguns projetos, Grönemeyer mostrou-se impressionado com a alegria e a hospitalidade dos africanos, mesmo os que não têm quase nada. Eles teriam muito a ensinar aos alemães, que choram de barriga cheia, comentou em um programa de tevê de grande audiência. Além disso, o roqueiro se disse preocupado com o desvio das atenções internacionais para o Iraque, enquanto a África carece mais de ajuda. Em três dias, a campanha conseguiu arrecadar cerca de 500 mil euros.