Átomos e moléculas em versão 'pop'
14 de março de 2005O centenário da Teoria da Relatividade, comemorado em 2005, servirá de pano de fundo para uma meta bastante prática da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): reacender o interesse dos jovens pela pesquisa científica, especialmente em Física.
Brasil, França e Portugal apresentaram à Unesco a idéia de usar a imagem do cientista alemão Albert Einstein – Prêmio Nobel de Física em 1921 e autor da Teoria da Relatividade Espacial, que está completando cem anos, mas também uma referência pop e exemplo de luta pela paz – como símbolo de uma campanha que quer convencer crianças e adolescentes de que o trabalho em laboratório também pode ser cool.
Na Alemanha, terra natal do criador da Teoria da Relatividade, e em alguns países da Europa – como Inglaterra e Irlanda –, o Ano Mundial da Física será conhecido como o "Ano de Einstein".
Física agora rima com rap
Na intenção de despertar o interesse do jovem para a Física, todas as armas estão sendo usadas. No lançamento do Ano Mundial da Física em Londres, segundo reportagem do jornal The Guardian, o rapper DJ Vader, usando o uniforme gangsta básico – calças largas, correntes de ouro, boné de beisebol e jaqueta camuflada – foi o responsável pela apresentação do professor septuagenário Sir John Enderby, membro da Sociedade Real Britânica e presidente do Instituto Nacional de Física da Inglaterra, a uma platéia de adolescentes barulhentos.
Sinal dos tempos? Talvez, mas para deixar bem claro que para gostar de Física (ou Matemática, ou Química, ou Biologia) não é necessário ser um completo geek, os ingleses foram além: após uma apresentação de vários minutos de yos e yas, cortesia de DJ Vader, foi realizada uma performance radical de um biker, batizada de "o rodopio para Einstein", em uma pista especialmente construída para o evento.
Detalhe importante: a bicicleta, um modelo que não pode ser encontrado nas lojas, foi desenhada pela física Helen Czerski, da Universidade de Cambridge. "Nós usamos a Física para expandir as fronteiras do que é humanamente possível fazer sobre duas rodas", explicou a cientista ao jornal inglês.
Um "empurrãozinho" em boa hora
Em todo o mundo, o estudo da Física está precisando de uma "injeção de ânimo". Por isso, de forma paralela ao ano mundial da Unesco, está programada uma série de iniciativas de promoção à pesquisa neste ramo da ciência. No Brasil, por exemplo, o Ministério da Ciência e Tecnologia vai dedicar R$ 1 milhão (cerca de 280 mil euros) ao financiamento de atividades relacionadas ao Ano Mundial da Física – incluindo até uma Olimpíada de projetos de estudantes do ensino médio.
De acordo com fontes do Ministério, é importante deixar claro para crianças e adolescentes que a Física é a base de muitos dos avanços tecnológicos alcançados no século 20. Além disso, o governo brasileiro acredita que a pesquisa em Física pode contribuir para a solução de um dos principais problemas enfrentados por governos de países em desenvolvimento: a produção de energia limpa.
Tanto no Brasil quanto no mundo, a quantidade de estudantes dispostos a seguir uma carreira em Física é bastante reduzida, na comparação com outras profissões. Um dos indicativos desta falta de interesse é a relação entre candidato e vaga nas universidades públicas brasileiras. No Vestibular da Fuvest 2005, por exemplo, enquanto o curso de Publicidade atraiu 52 vestibulandos para cada vaga e 31 estudantes disputaram um assento nas salas de aula de Medicina, o interessado em seguir carreira em Física enfrentou uma concorrência bem mais branda, de 8 por 1.
Convencimento que começa cedo
O Ano Mundial vai tentar fazer um trabalho de base, com crianças entre 11 e 14 anos – no Brasil, é nessa faixa etária que as crianças geralmente estão entre a 5ª e a 8ª séries do ensino fundamental –, que vai mostrar as aplicações práticas da pesquisa em Física. Na Inglaterra, por exemplo, três laboratórios itinerantes vão ter a missão de mostrar que a Física pode ser tão estimulante, lucrativa e até mesmo tão sexy quanto outras profissões que "estão na moda".
O centenário da Teoria da Relatividade está sendo visto por alguns especialistas como a tábua da salvação da pesquisa em Física nas próximas décadas. "A Física está sem dúvida sob pressão e o maior problema é o restrito número de estudantes interessados na matéria. Ao redor da Inglaterra, eu diria que 90% dos departamentos de universidades do país estão sofrendo com essa falta de interesse", afirmou Paul Danielsen, do Instituto Britânico de Física, ao jornal The Guardian.