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"É improvável que peça resolva mistério do MH370"

Gabriel Dominguez (fca)6 de agosto de 2015

Um pedaço de asa encontrado semana passada na ilha de Reunião foi confirmado pelo governo da Malásia como parte do avião desaparecido. Especialista John Goglia explica à DW que indícios o destroço pode revelar.

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Wrackteil Malaysia Airlines Flug MH370
Foto: picture-alliance/dpa/Zinfos974

O primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, foi a público na última quarta-feira (06/08) confirmar que os destroços achados perto da ilha de Reunião faziam parte do voo MH370, que sumiu dos radares em 14 de março de 2014 com 239 pessoas a bordo.

A peça de dois metros de comprimento se trata de um flaperon, parte da asa do avião. Encontrada em uma praia no departamento francês no Oceano Índico, no dia 29 de julho, o fragmento foi levado à França para ser examinado por especialistas. De acordo com autoridades malaias, pedaços de cadeiras e janelas do Boeing 777 também foram encontrados na região.

Em entrevista à DW, o americano John Goglia, ex-membro do conselho do Departamento Nacional de Segurança dos Transportes dos Estados Unidos, afirma haver muitos detalhes que podem ser descobertos a partir da peça achada, mas é pouco provável que ela revele a causa do acidente ou a localização exata do avião.

Deutsche Welle:O primeiro-ministro da Malásia confirmou que a peça encontrada na ilha de Reunião era do MH370. Como as autoridades chegaram a essa conclusão?

John Goglia:Havia muita discussão sobre o número impresso no flaperon, mas o registro sozinho não solucionou a questão. Os investigadores devem ter comparado a peça encontrada com o projeto do avião para determinar se ela era ou não do avião desaparecido.

Tenho certeza que a Boeing enviou, há alguns dias, as informações do modelo daquela peça do avião aos especialistas franceses.

Depois de ter confirmado que o pedaço era de um Boeing 777, aumentaram as chances de que pudesse ter pertencido ao MH370, já que houve bem poucos acidentes envolvendo esse modelo de avião. Inclusive, todos esses acidentes foram identificados e nenhum deles aconteceu sobre o Índico ou perto dele.

Malaysia Airline / MH 370 / Plakat
Segundo o especialista em aviação, as famílias ainda terão de suportar o sofrimento de não saber onde estão as vítimasFoto: Reuters

O que essa peça pode nos dizer sobre o que realmente aconteceu com o avião – e onde podem estar os outros destroços?

Só o flaperon não vai nos informar exatamente onde estão as outras partes do avião. Porém, as cracas encontradas incrustradas na peça podem nos dar pistas sobre isso. Além disso, os danos causados no flaperon e nos pontos de parafusagem podem nos dizer algo sobre a altitude e a direção que o avião voava no momento da colisão com o mar.

Um pouco mais à frente, os investigadores vão examinar os pontos de parafusagem do flaperon com um microscópio eletrônico e determinar como o metal foi rompido. Existem muitos detalhes que podem ser descobertos a partir disso, mas é pouco provável que eles revelem a causa do acidente ou a localização exata do avião.

O ministro dos Transportes da Malásia disse nesta quinta-feira (06/08) que pedaços de assentos e de janelas também foram encontrados na ilha de Reunião. Qual a importância dessas partes e o que será preciso para que possamos saber a causa exata do acidente?

Existe uma chance remota de determinar se essas partes também pertenciam ao MH370. No caso das poltronas, por exemplo, o tipo de tecido e espuma encontrado dentro do assento pode ajudar a indicar uma ligação com o avião desaparecido. Com as janelas, porém, não há nada de específico. O que esses destroços podem definir é se o avião realmente se desintregou ao colidir com a água.

Os investigadores vão examinar o material para descobrir se houve ou não incêndio a bordo, por exemplo. Entretanto, para que as causas do acidente sejam esclarecidas, a caixa-preta tem que ser encontrada.

Mesmo que o primeiro-ministro da Malásia tenha confirmado que os destroços são do MH370, as autoridades francesas estão hesitando em afirmar o mesmo. Para você, qual é a razão por trás disso?

Acho que as autoridades que estão investigando o caso não vão confirmar publicamente isso até que tenham total certeza que a peça pertencia ao MH370. Eles não podem simplesmente fazer suposições e estão agindo com cautela.

Uma coisa que os investigadores não gostam de fazer é dar informações falsas, principalmente para as famílias das vítimas. Eles sabem que cada palavra dita é muito dolorosa e agem assim em consideração com as pessoas que morreram.

Por isso, falta lógica às atitudes tomadas pelo governo da Malásia – não só agora, mas no decorrer de toda a investigação. É simplesmente difícil de entendê-las.

Malaysia PK Trümmerteil MH370 Najib Razak
Para Goglia, falta lógica às declarações do governo malaicoFoto: Reuters/O. Harris

Quando você acredita que os resultados de toda a investigação serão anunciados publicamente?

Isso depende da França e da Malásia. Acho que eles podem nos dar algumas informações, mas acredito que vão fazer tudo com discrição durante algum tempo.

De acordo com as regras da Organização da Aviação Civil Internacional, o governo da Malásia é quem é responsável pelas investigações. Não importa que a França tenha um pedaço do avião ou que os Estados Unidos também estejam envolvidos. O processo é, em última instância, controlado pelas autoridades malaias. Logo, eles quem vão definir a maior parte dessas resoluções.

Qual é a importância dessa investigação não só para as vítimas, mas para a indústria da aviação como um todo?

A indústria da aviação sempre analisa eventos assim e tenta aprender com eles. Com relação às famílias, não acho que isso vá ajudá-los muito, pois o que eles querem é que o avião seja encontrado.

Porém, a investigação ajuda por um lado. A confirmação de que a peça pertence ao MH370 acabará de uma vez por todas com o rumor de que o avião está em alguma ilha perdida, com os passageiros sendo feitos de reféns. Nesse sentido, isso pode dar algum alívio, mas não ajuda muito com o esclarecimento do caso. As famílias das continuarão tendo que suportar o sofrimento de não saber onde estão as vítimas.