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SaúdeÍndia

Índia exclui Brasil do início das exportações de vacina

19 de janeiro de 2021

Governo indiano anuncia que começará a entregar doses do imunizante de Oxford para seis países. Brasil sequer é mencionado em nota, apesar de governo Bolsonaro alegar que receberá vacina nos próximos dias.

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Caixa com doses da vacina da AstraZeneca-Oxford contra covid-19
Maior produtor de vacinas do mundo, Instituto Serum fabrica imunizante da AstraZeneca-Oxford na ÍndiaFoto: Leon Neal/Getty Images

O governo da Índia anunciou nesta terça-feira (19/01) que iniciará a exportação de vacinas contra a covid-19 nesta quarta-feira. O Brasil não aparece na lista dos seis países que receberão os primeiros lotes.

Em comunicado, o Ministério do Exterior indiano afirma que recebeu muitos pedidos para o fornecimento das doses produzidas em seu território, que são da vacina desenvolvida pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e a Universidade de Oxford. 

"Em resposta a esses pedidos, e mantendo o comprometimento de usar a produção de vacinas da Índia e capacidade de entrega para ajudar a humanidade a combater a pandemia de covid-19, os fornecimentos da concessão de ajuda para o Butão, Ilhas Maldivas, Bangladesh, Nepal, Myanmar e Ilhas Seychelles começarão em 20 de janeiro", diz o texto.

A nota cita ainda que aguarda confirmações de autoridades regulatórias do Sri Lanka, Afeganistão e Ilhas Maurício para a exportação das doses. Apesar de o governo de Jair Bolsonaro afirmar há mais de uma semana que deve receber em breve o imunizante da Índia, o Brasil sequer é mencionado no comunicado.

O texto também diz que os países deverão receber o imunizante em etapas nas próximas semanas e meses, mas ressalta que será garantido o fornecimento interno antes da exportação.

Anúncio causa preocupação

De acordo com a agência de notícias Reuters, o primeiro lote exportado da vacina irá para o Butão. Outros 2 milhões de doses serão enviados para Bangladesh. Na Índia, o imunizante da AstraZeneca-Oxford está sendo produzido pelo Instituto Serum, maior fabricante de vacinas do mundo.

A vacina, inicialmente a única aposta do governo Bolsonaro, requer duas doses para atingir sua eficácia máxima de proteção contra a covid-19, e pode ser armazenada em temperatura de geladeira, o que facilita a logística de distribuição.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o anúncio da Índia causou preocupação no governo brasileiro, que acreditava que poderia receber em breve as doses da vacina. Fontes ouvidas pelo jornal disseram que trabalham com a expectativa de que a carga chegue até o final do mês. Após falhas de comunicação, o governo indiano teria pedido ainda a autoridades brasileiras mais discrição nas negociações.

Apelos do Brasil

A Índia recebeu dezenas de pedidos de várias nações, inclusive apelos urgentes do Brasil, para o início da exportação da vacina. O país asiático, no entanto, aguardava o começo de sua campanha de vacinação interna, que ocorreu no último sábado, para enviar as doses.

Diante da iminência da aprovação de uma vacina contra a covid-19 no Brasil e sem ter nenhuma dose em mãos para o início da campanha de vacinação, em 8 de janeiro Bolsonaro enviou uma carta ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, pedindo urgência no envio ao Brasil, para, assim, tentar garantir o protagonismo da imunização.

O pedido de urgência para a importação das doses ocorreu após a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entidade do governo federal, ter informado que ocorreria um atraso na chegada ao país do insumo necessário para a produção local do inoculante da AstraZeneca. Até o fim do ano, o governo brasileiro espera contar com mais de 200 milhões de doses do imunizante produzidos pela Fiocruz.

Pouco depois, o Ministério das Relações Exteriores afirmou em nota que o Brasil adquiriu as doses do Instituto Serum e que a embaixada brasileira teria feito os preparativos junto às autoridades indianas para receber os lotes. Na semana passada, um avião chegou a iniciar viagem para buscar a vacina no país asiático. Tanto Bolsonaro quanto o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometiam a chegada do imunizante em dois dias.

O voo, porém, acabou sendo adiado depois que o governo indiano declarou que não poderia ainda dar uma data para a exportação de doses produzidas no país. "Parece que o Brasil queimou a largada ao anunciar oficialmente o envio de uma aeronave para transportar 2 milhões de doses de vacina", afirmou uma reportagem do jornal indiano Hindustan Times.

Apesar da aparente falta de confirmação do governo indiano, Pazuello continuou insistindo que a vacina deve ser exportada em breve. Numa coletiva de imprensa no final da tarde desta segunda-feira, o ministro havia afirmado que a Índia sinalizou que deve liberar as doses nos próximos dias, além de alegar que a negociação com o país é difícil devido ao fuso horário.

Campanha de vacinação

A campanha de vacinação no Brasil começou nesta segunda-feira com a Coronavac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, aposta do governo paulista, após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter dado autorização ao uso emergencial dos dois imunizantes.

Ao longo do ano passado, a Coronavac foi constantemente desprezada pelo presidente, que chegou a comemorar a morte de um voluntário na fase de testes – num caso sem relação com o estudo – e a suspensão temporária do estudo. "Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", afirmou na época.

Em testes realizados no Brasil, a Coronavac obteve uma eficácia geral de 50,38%. O índice indica a capacidade da vacina de proteger contra todos os casos da doença, independente da gravidade.

Já testes preliminares realizados com o imunizante da AstraZeneca-Oxford apontaram eficácia média de 70,4%. Especialistas afirmam, contudo, que os resultados das duas vacinas não podem ser comparados, já que os estudos foram realizados em público diferente e usando métodos e cálculos distintos.

CN/rtr/ots