1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Índice de corrupção aponta Brasil como país que mais piorou

Marina Estarque, de São Paulo27 de janeiro de 2016

País perde sete posições e aparece em 76º no ranking da Transparência Internacional, que atribui resultado a escândalo da Petrobras. Para ONG, corrupção é hoje mais visível e mais debatida entre brasileiros.

https://p.dw.com/p/1HkTh
Manifestante com cartaz contra corrupção em protesto em Porto Alegre, em 2013: tema mais presente na sociedadeFoto: Reuters

Dentre todos os países do mundo, o Brasil teve a maior queda de desempenho no Índice de Percepção da Corrupção 2015 da Transparência Internacional. O país perdeu cinco pontos e caiu sete posições, ficando em 76º lugar no ranking, que avalia a corrupção no setor público em 168 países e foi divulgado nesta quarta-feira (27/01).

No relatório, a ONG atribui os resultados negativos aos escândalos na Petrobras. Segundo o economista e coordenador do Programa Brasil da Transparência Internacional, Bruno Brandão, a pesquisa é realizada com especialistas nacionais e internacionais e, por isso, costuma ser pouco afetada por questões conjunturais ou escândalos isolados.

“O índice mede a percepção de um público que acompanha a questão de forma sistêmica. Mas, mesmo assim, a Petrobras e a Lava Jato foram tão impactantes, que o desempenho sofreu uma piora significativa”, afirma Brandão.

De acordo com ele, o resultado não significa necessariamente que mais crimes estão ocorrendo, mas é um indicador importante sobre o nível de corrupção do país.

“Não há parâmetros para medir empiricamente esse fenômeno, pois ele é, por essência, oculto. Só se pode medir empiricamente a corrupção que foi revelada e que, em geral, falhou”, aponta.

Apesar de destacar os valores exorbitantes, o número de criminosos envolvidos e as consequências negativas do escândalo da Petrobras, Brandão também classifica o momento como “extraordinário” na luta contra a corrupção no Brasil.

Para ele, é normal que, ao “encarar de frente o problema”, a corrupção se torne mais visível, mais debatida e também mais perceptível.

Como melhorar?

Para melhorar seu desempenho, Brandão sugere que o Brasil garanta avanços que, segundo ele, já foram conquistados. Por isso, afirma que os brasileiros e a imprensa devem cobrar e apoiar as investigações, além de debater propostas, como as chamadas Dez Medidas contra a Corrupção, do Ministério Público Federal.

“Muitos poderosos querem ver a Lava Jato enfraquecida, a nulidade dos processos e a impunidade. Claro que abusos, se existirem, devem ser corrigidos e, mesmo, punidos. Mas, como dizem os procuradores, não se deve derrubar um edifício para consertar um furo no encanamento”, diz.

O coordenador também alerta que a sociedade deve estar atenta às tentativas de flexibilizar ou abrandar leis importantes para o combate da corrupção.

Por fim, Brandão recomenda que o setor privado se envolva mais ativamente na causa, pressionando os sistemas jurídicos e políticos. Para o especialista, a corrupção “é péssima para o ambiente de negócios” e, portanto, os empresários brasileiros deveriam cobrar reformas profundas.

No relatório, a ONG ressalta os impactos negativos dos crimes para o Brasil. “Com a economia em crise, dezenas de milhares de brasileiros comuns perderam seus empregos. Eles não tomaram as decisões que levaram ao escândalo. Mas são eles que estão vivendo as consequências”, afirma o texto.

O diretor da Transparência Internacional para as Américas, Alejandro Salas, diz que, em 2015, houve tendências positivas na região: a descoberta e investigação de grandes redes criminosas e a mobilização em massa dos cidadãos contra a corrupção.

“Os escândalos da Petrobras e La Línea são provas dessas tendências nos dois atores regionais que declinaram no índice: Brasil e Guatemala. O desafio agora é atacar as causas subjacentes e reduzir a impunidade para os corruptos”, afirma Salas.

Países ricos

No índice, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Nova Zelândia e Holanda tiveram os melhores desempenhos. A ONG ressalta, entretanto, que nem sempre os países considerados “limpos” têm uma atuação correta no exterior.

Eles dão o exemplo da Suécia, cuja empresa TeliaSonera, parcialmente controlada pelo Estado, é acusada de ter pago milhões de dólares em suborno no Uzbequistão.

Para Brandão, nenhum país tem a “corrupção em seu DNA”, e a diminuição destes crimes está ligada a uma série de fatores, como a redução da impunidade. “A corrupção não é privilégio de rico ou pobre. E a solução nunca passa por medidas isoladas ou por salvadores da pátria”, afirma.

De acordo com a ONG, os países no topo da lista compartilham aspectos importantes: alto nível de liberdade de imprensa, acesso a informação sobre o orçamento público, integridade dos que detêm cargos de poder, e sistemas judiciários igualitários e independentes do governo.

Do outro lado, no final do ranking, aparecem Somália, Coreia do Norte, Afeganistão, Sudão e Sudão do Sul. Além dos conflitos e guerras, a fraca governança, instituições públicas débeis – como a polícia e o judiciário – e a falta de independência da imprensa são características comuns dos países nas ultimas posições do índice.

Austrália, Líbia e Turquia também tiveram uma queda importante de desempenho nos últimos quatro anos. Por outro lado, Grécia, Senegal e Reino Unido tiveram avanços significativos desde 2012. Segundo a ONG, em 2015, o número de países que melhoraram suas pontuações superou o de nações que retrocederam.