Ensino da História de Angola "favorece" o MPLA
4 de fevereiro de 2019Pedro Gomes, da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), diz que a História do país tem sido mal contada e é preciso corrigir os manuais escolares - a começar pela data de 4 de fevereiro.
Segundo Gomes, este não foi o verdadeiro dia do início da Luta de Libertação Nacional, que culminou com a proclamação da independência, a 11 de novembro de 1975.
"O 4 de fevereiro não é a verdadeira data de início da luta armada em Angola. Para confirmar esse facto, há uma declaração do ex-Presidente da República Portuguesa, [Aníbal] Cavaco Silva, que diz que a data do início da luta armada em Angola foi 15 de março de 1961", afirma o também professor universitário.
"Foi com Portugal com quem nós lutamos. Não pode haver informações que não se compaginam com aquilo que foi a informação de Cavaco Silva", acrescenta.
O dia e o mês em que começou a luta pelo alcance da independência dividem há muito tempo as opiniões entre o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a FNLA. Enquanto o partido no poder fala em 4 de fevereiro, a formação política fundada por Holden Roberto aponta 15 de março como a real data do início da luta.
"É difícil para os estudantes conhecerem a História"
Mas, para Pedro Gomes, este não é o único erro histórico nos manuais escolares. O professor diz que "falta alguma seriedade" no ensino da História de Angola.
"O que se tem ensinado às nossas crianças é totalmente falso, não condiz com a verdade", comenta. "Esses manuais deviam ser corrigidos para, de facto, ensinar aos nossos jovens a verdadeira História de Angola, e essa História não se fará sem a participação da UPA [União dos Povos de Angola]/FNLA."
A forma como a História angolana tem sido contada impede que os estudantes a conheçam verdadeiramente, afirma Cláudio Fortuna, do Centro de Estudos Africanos da Universidade Católica de Angola.
"O MPLA impingiu-nos ao longo deste tempo que o 4 de fevereiro foi o dia do início da luta armada. Há um exercício de disputa da hegemonia histórica, que as duas [MPLA e FNLA] e outras forças políticas têm estado a desenvolver no sentido de se repor a verdade. O que é facto é que acreditamos que, perante esse ambiente nebuloso, é difícil para os estudantes conhecerem a História."
O investigador não tem dúvidas de que a História de Angola que tem sido ensinada nas escolas favorece o MPLA, partido no poder, em detrimento de outras formações políticas e "daquilo que seria a verdade histórica".
Cláudio Fortuna acredita, no entanto, que a História real do país começará a ser bem contada nos próximos tempos: "A médio ou longo prazo, esse cenário poderá mudar na medida em que há algumas iniciativas peregrinas de investigadores, historiadores e nacionalistas no sentido de repor a verdade."
Mas "ainda há um pendor maior para o lado do MPLA", conclui.