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Abastecimento de gás em falha no sul de Angola

José Adalberto (Huambo) | Lusa
29 de setembro de 2017

Moradores do Huambo queixam-se da falta de gás que precisam para poder cozinhar. A escassez está a fazer disprar os preços. Sem explicação oficial, fala-se em redução da produção a partir do Lobito.

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Brasilien Sonagas LKW wartet auf Gasversorgung
Camião à espera de abastecimento de gás em Huambo.Foto: DW/J. Adalberto

Longas filas nas agências e agentes revendedores de gás de cozinha na cidade de Huambo, em Angola. Este é o cenário que se regista ao andar pelas ruas desde o início de agosto, quando a região do planalto central começou a ter o seu abastecimento de gás butano parcialmente limitado.

O fornecimento do gás é feito a partir de Lobito, na província de Benguela. As razões reais da escassez do produto ainda são desconhecidas, mas especula-se que a capacidade de produção da Sonagás, que pertence à petrolífera estatal Sonangol, tenha sido diminuída.

A falta do produto está a causar vários constrangimentos aos moradores da cidade, para além de propiciar o aumento abusivo do preço produto no mercado paralelo.

Brasilien Sonagas Hauptsitz
Sonagás, responsável pela produção de gás natural e integrante da petrolífera estatal SonangolFoto: DW/J. Adalberto

Por toda parte que se ande, a população reclama que a Sonagás, empresa responsável pela produção e distribuição do produto, não se pronuncia a respeito do problema. A reportagem da DW África decidiu fazer uma ronda nos vários postos da cidade e pôde constatar o sufoco das pessoas para encontrar gás de cozinha.

Guilherme Torres contou que, há uma semana, a botija está vazia em sua casa. "Estou à procura de gás. Está difícil, já passei em vários postos e a explicação é sempre a mesma: teremos mais tarde", afirma.

João Sampaio passou por vários pontos da cidade na expectativa de conseguir o tão almejado gás: "Já passei na Santa Teresa, não encontrei; fui à baixa da cidade e nada. Somente agora, depois de horas, encontrei gás; mas não é o apropriado para o nosso consumo. Está mesmo muito difícil".

Lucro acima de tudo

A aflição de muitas famílias para obter gás butano está a ser aproveitada pelos comerciantes informais, que elevaram o valor do produto. Uma botija de 12 quilos normalmente é vendida a 1.200 kwanzas (seis euros). Com a escassez, ela passou a ser comercializada a 2.000 kwanzas (10 euros).

Angola/Gás - MP3-Mono

"O gás foi vendido a 2.000 kwanzas, mas antes custava 1.200 kwanzas", denunciou João Sampaio. Para garantir que não falte comida à mesa, muitos cidadãos recorrem ao carvão vegetal e à lenha. Mas o carvão também sofreu um incremento. Um saco de dois quilos era antes comercializado a 50 kwanzas (26 cêntimos de euro); agora ele está saindo por 100 kwanzas (52 cêntimos de euro). Guilherme Torres apela aos responsáveis que normalizem a situação: "Estamos a cozinhar com carvão. Precisamos mesmo de gás. Nunca tivemos este problema antes".

A DW África tentou obter informação na sede da Sonagás, no Huambo, mas obteve a resposta que ninguém está autorizado a falar sobre o assunto. Segundo uma fonte ligada à Sonagás, a restrição que se regista no fornecimento do produto deve-se à baixa nos níveis de produção a partir do Lobito. O que se dá exatamente no momento em que Angola planeia exportar gás butano para São Tomé e Príncipe.

Apetite renovado

Do outro lado, a Economist Intelligence Unit (EIU) considera que o acordo assinado entre a empresa de gás Angola LNG e a distribuidora Glencore mostra um "apetite renovado" pelo setor e que os projetos estão a recuperar anos de estagnação.

Segundo uma análise feita pelos peritos da Unidade de Análise Económica da revista The Economist, a que a agência Lusa teve acesso, "estes contratos sublinham o apetite renovado por acordos de nova produção com as principais empresas do setor".

Bildergalerie Angola Rohstoffe
Unidade de produção de gás natural no Soyo, AngolaFoto: DW/R. Krieger

A EIU não conseguiu levantar os detalhes do acordo, mas informou que os parâmetros são similares aos negócios feitos nos últimos dois anos com a britânica Vitol e a germânica RWE Supply and Trading.

A fábrica do Soyo, na província angolana do Zaire, já produziu cerca de 3,5 milhões de toneladas, em comparação com 0,77 milhões do ano passado. E, mesmo assim, está abaixo da capacidade instalada de 5,2 milhões de toneladas por ano.

A central do Soyo é um empreendimento detido em conjunto pela Sonangol (com 22,8%) e outras petrolíferas internacionais, como a Chevron (com 36,4%) a Eni, a Total e a BP, cada uma com uma quota de 13,6%.

Os analistas da Economist lembram que a abertura da central do Soyo, em 2013, mais de um ano depois do previsto, fez a fábrica funcionar por menos de 12 meses. Suas portas foram fechadas durante dois anos, depois de vários incêndios com origem na parte elétrica, falhas nos tubos de distribuição ['pipelines'] e problemas no processamento de gás.

 Os especialistas afirmam que durantes esses anos "o mercado mudou". Devido ao desenvolvimento do gás e do petróleo de xisto na maior economia do mundo, os Estados Unidos, a procura dos consumidores por combustíveis estrangeiros diminuiu. O resultado foi que a ideia inicial de exportar gás natural liquefeito (LNG, nas siglas em inglês) para os Estados Unidos acabou caindo por terra.