"Só teme a opinião do povo quem tem medo da derrota"
18 de maio de 2022A cerca de três meses das eleições em Angola, o presidente da UNITA, o maior partido de oposição, chegou hoje (18.05) a Bruxelas, para encontros com representantes das várias instituições da União Europeia.
Em entrevista exclusiva com a DW África, Adalberto Costa Júnior, que é também coordenador-geral da Frente Patriótica Unida (FPU), uma aliança da oposição de que fazem parte a UNITA, o Bloco Democrático (BD), e o projeto político PRA JÁ Servir Angola, diz que está confiante num resultado eleitoral que permita uma alternância nas próximas eleições, previstas para a segunda quinzena de agosto.
Começámos por perguntar a Adalberto Costa Júnior quais os objetivos dos périplos internacionais que têm acontecido nos últimos tempos, incluindo a presente visita de dois dias a Bruxelas.
Adalberto Costa Júnior: Os mesmos [objetivos] que me têm feito andar um pouco por todos os países na procura de apoios ao processo eleitoral de Angola. E, acima de tudo, a tentativa de ter em Angola uma delegação de observação internacional nas eleições.
DW África: Qual a importância de ter observadores do ocidente, como os Estados Unidos ou a União Europeia? Não confia nos observadores africanos?
ACJ: Todos os processos eleitorais têm uma abertura à observação internacional. Sem a limitação aos amigos, aqueles que fazem aquilo que se pede que se façam. Posso-lhe dizer que nos atos eleitorais, o Governo angolano quis apenas os seus amigos a controlar e a chefiar as delegações de observação.
DW África: O registo eleitoral que terminou há pouco tempo em Angola tem merecido muitas críticas da UNITA. Porquê?
ACJ: A lei do registo oficioso obriga à publicação das listas dos cadernos eleitorais provisórios. Para que possam ser sujeitos a fiscalização e correção de erros. Estes últimos têm sido regulares. Nas últimas eleições, a deslocalização dos eleitores envolveu milhares de angolanos. Chegado o dia das eleições, muitas pessoas perceberam que os seus nomes não constavam nas listas dos municípios onde se tinham inscrito. O Governo angolano demonstrou má-fé ao não publicar estas listas eleitorais.
DW África: O que pensa da tentativa do Governo angolano de limitar as atividades dos institutos que fazem as sondagens políticas?
ACJ: As sociedades modernas e democráticas não devem temer a opinião dos cidadãos. As sondagens são elementos técnicos que todos utilizam e que demonstram a intenção de voto. O que acontece em Angola é que o MPLA levou ao Parlamento uma proposta que impede a legalização de empresas que fazem sondagens. Só tem medo da opinião do povo quem não tem garantias de que possa ganhar.
DW África: Outra questão que a UNITA levantou foi o caso da contratação de uma empresa, a INDRA, que fornece o material para a realização das eleições. Porquê?
ACJ: O problema é que esta empresa nunca agiu com a transparência exigida num processo eleitoral. No passado foi publicada a existência de um determinado número de boletins de votos. Mais tarde descobriu-se que tinham duplicado o número que tinham assumido. Onde foram usados os boletins não declarados? Outro caso: nas eleições, a empresa em causa imprimiu boletins educativos que traziam uma cruz sobre o MPLA, para se votar naquele partido. É uma absoluta ilegalidade.
DW África: Em Angola há quem duvide que a UNITA e os seus parceiros políticos tenham capacidade de governar devido à inexperiência no poder político…
ACJ: É para rir! Sendo assim, é melhor ficar com aquele que em 46 anos, não conseguiu criar estabilidade e infraestruturas e adiou as eleições autárquicas. Este Governo fez tudo para ir para casa descansar.
DW África: O que é que nos pode dizer sobre A Frente Patriótica Unida? tem pernas para andar?
ACJ: Foi uma vontade que se transformou em realidade. Chamo a atenção de que foi ameaçada no próprio dia em que foi criada [5 de outubro de 2021]. Nesse dia, as televisões anunciaram a anulação do congresso da UNITA para tentar inviabilizar a frente. É sinal que ameaça o regime.
DW África: O que é que o Adalberto Costa Júnior faria se fosse eleito Presidente de Angola?
ACJ: Serei o primeiro Presidente que, ao tomar posse, assumirá a totalidade da nação, sem excluir ninguém. Irá despir a camisola partidária para assumir a nação num seu todo.