Alemanha incentiva investimentos em África
31 de outubro de 2018O presidente da Afrika-Verein, a associação de empresas alemãs com negócios no continente africano, não acredita no que acaba de ouvir. "Senhora chanceler, acaba de me pôr no desemprego como representante associativo", disse ironicamente Stefan Liebing, num discurso durante a cimeira de investimento "G20 Compact with Africa", na segunda-feira (29.10).
Liebing tem sido um crítico feroz da estratégia da Alemanha para África. Na sua perspetiva, tem-se feito pouco pelas empresas alemãs. Mas agora o presidente da Afrika-Verein elogia a chanceler Angela Merkel. As palavras de Merkel na abertura da cimeira são "praticamente históricas", comenta.
Merkel: "Queremos ser mais rápidos"
O discurso de Merkel quase poderia ter saído de um documento estratégico da Afrika-Verein. A chanceler alemã disse que, com a cimeira "G20 Compact with Africa", Berlim quer dar um sinal de que "nós, europeus, temos um grande interesse na melhoria das perspetivas económicas em África. Para isso é preciso investimentos públicos, mas sobretudo investimentos privados", afirmou Merkel.
Na cimeira, que teve lugar na capital alemã, estiveram presentes, entre outros, os presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, do Ruanda, Paul Kagame e da Guiné, Alpha Condé. 11 países participam na iniciativa "G20 Compact with Africa", criada em 2017: Benim, Costa do Marfim, Egito, Etiópia, Gana, Guiné, Marrocos, Ruanda, Senegal, Togo e Tunísia.
Na segunda-feira, a organização do "G20 Compact with Africa" anunciou a criação de um fundo específico para apoiar os investimentos de pequenas e médias empresas no continente africano. O Governo alemão disse ainda que está a estudar a possibilidade de apoiar empresas privadas alemãs que queiram apostar na formação profissional de jovens africanos. Além disso, a Alemanha e os países africanos do "G20 Compact with Africa" deverão assinar convenções para evitar a dupla tributação.
"Eu sei que é importante ser célere", disse Merkel, dirigindo-se aos líderes africanos presentes na cimeira. "A vossa população espera respostas e resultados rapidamente. Por isso, vamos esforçar-nos para ser mais rápidos", prometeu a chanceler.
Rapidez é a palavra-chave. A conferência de investimento é uma mostra de negócios. Os líderes africanos louvam a iniciativa. "Partilhamos da impaciência da chanceler Merkel de querer ver resultados mensuráveis e palpáveis", diz o Presidente ruandês Paul Kagame.
Os países que participam na iniciativa comprometem-se a fazer reformas políticas e económicas. Em troca, os parceiros ocidentais oferecem ajuda na procura de investidores e conhecimentos técnicos especializados.
"A parceria entre África e os países do G20 tem um imenso potencial de transformar as vidas dos cidadãos e os negócios das empresas e organizações aqui representadas", referiu o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Ao mesmo tempo, os empresários alemães mostram-se entusiasmados com as muitas oportunidades de investimento em África. Em frente às câmaras, durante a cimeira, foram assinados compromissos de investimento milionários.
Críticas à falta de "standards"
O intuito da cimeira é mostrar que a iniciativa "Compact with Africa" funciona. Mas a realidade não acompanha a velocidade dos discursos. Os países que participam na iniciativa têm feito reformas, mas os investimentos pouco crescem e o número de empresários alemães no país aumenta muito devagar. Os analistas acreditam que só daqui a alguns anos é que se poderão começar a ver frutos desta iniciativa.
Os críticos questionam também se as medidas do Governo alemão ajudarão, de facto, a combater a pobreza em África. Stephan Exo-Kreischer, presidente da organização de desenvolvimento ONE, uma associação de várias ONG alemãs, concorda, de um modo geral, com o novo conceito de cooperação. Mas, em entrevista à DW África, pede que se respeitem os direitos humanos e os "standards" ecológicos e sociais.
"Investimentos privados de estrangeiros e nacionais são importantes e devem ser incrementados. No entanto, esses investimentos deveriam contribuir para um crescimento económico sustentável e duradouro nas regiões, ou seja, devem beneficiar as populações", ressalva Exo-Kreischer.
São, em particular, os países mais pobres que ficam de fora dos investimentos, porque não são suficientemente atrativos para as empresas, acrescenta.
No entanto, para a Afrika-Verein, esta segunda-feira foi um dia bom. Christoph Kannengießer não acredita que a cimeira traga resultados de um dia para o outro. "Otimismo é bom, mas temos de permanecer realistas", comenta o diretor-geral da associação. Ainda assim, é importante que se sublinhe o interesse da Alemanha em investir em África, conclui.