Ambientalista ganha Prémio Alemão para África 2024
16 de outubro de 2024"Cresci numa cidade verde. Adorava subir às árvores, mesmo quando era pequena", conta Yvonne Aki-Sawyerr à DW. Essas memórias da capital da Serra Leoa, Freetown, e a visão de restaurar a cidade à sua antiga glória, foram fatores que a levaram a decidir candidatar-se a presidente da Câmara.
"Quando se vê que está tudo a ser destruído - além dos problemas de saneamento na altura - foi esse o gatilho", recorda a carismática ambientalista.
Desde que Aki-Sawyerr assumiu o cargo, há seis anos, a cidade, que havia sido atingida por décadas de guerra civil, já foi transformada num lugar onde vale a pena viver - a habitação, o abastecimento de água e a recolha de resíduos melhoraram significativamente.
"Compromisso inabalável"
De acordo com a Fundação Alemã para África (DAS), Aki-Sawyerr, de 56 anos, está a implementar a sua "visão de uma capital habitável, justa e sustentável", tendo reconhecido o seu empenho "inabalável" no desenvolvimento urbano sustentável e na participação local com o Prémio Alemão para África 2024.
A Presidente do Bundestag, Bärbel Bas, entregou o prémio em Berlim, nesta quarta-feira, 16 de outubro. Além de Aki-Sawyerr, mais de duas dezenas de candidatos foram avaliados pelo júri independente de 20 membros.
Desde 1993, a Fundação Alemã para África distingue esforços extraordinários em prol da democracia, da paz, das questões sociais, dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável, da investigação, da arte e da cultura no continente africano. A fundação apartidária afirma que a presidente da Câmara de Freetown está bastante mais empenhada na defesa do meio ambiente do que o seu cargo exigiria.
Yvonne Aki-Sawyerr sabe o que quer - e age de acordo com a sua convicção: A cidade verde da sua infância deve permanecer habitável para as gerações futuras.
Depois de estudar na Serra Leoa e no Reino Unido, iniciou uma carreira promissora no setor financeiro, trabalhando como perita financeira e auditora em Londres durante mais de 25 anos.
No entanto, quando o seu país foi abalado pela crise do Ébola em 2014, regressou a Freetown, uma cidade portuária com mais de um milhão de habitantes, como gestora de crises.
A cidade das árvores
Nessa altura, derrotou cinco candidatos masculinos com o seu plano de quatro anos "Transform Freetown" (Transformar Freetown, em português) e tornou-se a primeira mulher a governar a cidade.
Aki-Saywerr orientou o seu gabinete para resolver os problemas catastróficos dos resíduos e para plantar árvores nas colinas desflorestadas de Freetown. A cidade vai agora oferecer cerca de 25 mil árvores para serem plantadas, diz Aki-Sawyerr.
Seja o que for que a presidente da Câmara faça, os residentes estão envolvidos. Este estilo de gestão orientado para os cidadãos valeu a Aki-Sawyerr reconhecimento local e internacional.
Ainda há muito a fazer: "O crescimento da população, a falta de planeamento urbano, os desafios na obtenção de licenças de planeamento, tudo isto significa que, apesar de cinco anos de trabalho árduo, ainda temos um longo caminho a percorrer", diz Aki-Sawyerr à DW.
Mas o orgulho pelo que foi alcançado também transparece: "Há duas coisas que eu diria definitivamente que serão recordadas como o meu legado enquanto presidente da Câmara de Freetown. Uma é - e isto não é assim tão surpreendente - Freetown, a cidade das árvores. O nosso objetivo era plantar um milhão de árvores. O segundo é o tratamento das águas residuais".
No início de 2020, Aki-Sawyerr lançou a iniciativa "Freetown The Treetown" (Freetown, a cidade das árvores, em português) com o ambicioso objetivo de plantar um milhão de árvores em Freetown no prazo de dois anos.
Atualmente, já quase atingiu esse objetivo, com 977 mil árvores plantadas. As muitas árvores novas estão também a baixar a temperatura na cidade e a aumentar a sua resistência às inundações.
Mais qualidade de vida
No topo da lista estão projetos com benefícios diretos. As lamas de depuração são transformadas em briquetes isentos de CO2. A cidade recebeu uma estação de tratamento de águas residuais e foram instalados 160 tanques de armazenamento de água e sistemas de recolha de águas pluviais. Os resíduos das casas de banho são transformados em composto, biogás e briquetes de aquecimento, relata Aki-Sawyerr à DW.
Em 2021, tornou-se a primeira responsável pelo aquecimento de Freetown e, dois anos mais tarde, iniciou o primeiro plano de ação climática da cidade, que se debate regularmente com graves inundações e ondas calor. Outros projetos inovadores incluem quiosques de água alimentados a energia solar que dão acesso a água potável.
Aki-Sawyerr é rápida a enfatizar que o seu objetivo não é apenas resolver problemas ambientais, mas acredita que é importante reconhecer como os problemas ambientais estão a piorar a vida dos residentes de Freetown.
"As alterações climáticas continuam. As temperaturas estão a aumentar, o nível do mar está a subir e os fenómenos meteorológicos extremos estão a tornar-se mais frequentes", diz Aki-Sawyerr, acrescentando que o trabalho futuro deve ser feito no interesse da população de Freetown: "Não precisa de ter um nome, só tem de ser feito".
No entanto, a transformação de Freetown já está indissociavelmente ligada ao seu nome.
Em 2023, não só foi escolhida como presidente da Câmara para um segundo mandato, como também se tornou co-presidente do C40 Cities, um movimento que está agora a dirigir juntamente com o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan. O C40 é uma rede global de quase 100 presidentes de câmara das principais cidades do mundo que trabalham em conjunto para combater a crise climática.
Adenike Hamilton e Nikolas Fischer contribuíram para este artigo