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Analista alemão duvida que RENAMO possa ter a mesma força

Johannes Beck / Guilherme Correia da Silva23 de outubro de 2013

Ao anunciar o fim do Acordo Geral de Paz de 1992, a RENAMO mostra estar pronta para um confronto armado contra o Governo da FRELIMO. O analista alemão Rainer Tump explica o crescente clima de tensão entre os partidos.

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Foto: DW/J. Beck

Durante a guerra civil em Moçambique, o chamado "Tete-Run", o Corredor de Tete, entre o Malawi e o porto da Beira tornou-se lendário. Esta estrada era tida como extremamente perigosa, pois os rebeldes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) atacavam com frequência os automóveis e camiões que por lá passavam.

Agora, após 21 anos de paz, o perigo pode voltar às estradas. Isto porque a RENAMO pôs fim ao Acordo Geral de Paz que assinou com o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em 1992.

Agudizaram-se as tensões entre Governo da FRELIMO e RENAMO

20 Jahre Frieden in Mosambik
Moçambicanos a festejar o acordo de paz assinado por Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, em 1992Foto: ALEXANDER JOE/AFP/Getty Images

Nos últimos meses, agudizaram-se as tensões entre o maior partido da oposição moçambicana e o executivo da FRELIMO. Segundo o conselheiro alemão em assuntos de desenvolvimento, Rainer Tump, "nos últimos anos, a RENAMO tem vindo a pôr-se cada vez mais na defensiva, porque não conseguiu ser bem sucedida nem em eleições nacionais, nem em eleições autárquicas. Foi sobretudo por isso que o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, se retirou", reitera o analista.

Em sinal de protesto, Dhlakama ocupou a antiga base da RENAMO em Santunjira, Gorongosa, no centro do país. Foi a partir daí que criticou a preponderância da FRELIMO no aparelho de Estado e pediu para participar mais nas decisões políticas.

Rainer Tump acompanha há décadas a situação em Moçambique, foi durante algum tempo diretor da organização não-governamental Comité Coordenador Moçambique-Alemanha, o KKM, e este ano já esteve várias vezes no país. Nas suas viagens, ficou surpreendido com a maneira como a população civil olhava para as ações da RENAMO, por vezes bastante violentas.

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Camião na EN 102 em Changara - a estrada faz parte do chamado "Tete-Run"Foto: DW/Johannes Beck

Populares compreendem ações da RENAMO, diz Tump

Conta que "as pessoas começavam sempre por dizer: 'sim, o que a RENAMO está a fazer não é nada bom, mas entendemos por que o fazem. A RENAMO está a ser encostada à parede pelo Governo. A RENAMO não tem qualquer hipótese, pois é muitas vezes vítima de fraudes eleitorais'. Ou seja, há uma grande compreensão. E penso que o Presidente moçambicano tem grandes culpas nesta situação", afirma Tump.

Mosambik Führer der Oppositionspartei RENAMO Afonso Dhlakama 2008
Afonso Dhlakama, líder do maior partido da oposição, RENAMOFoto: picture-alliance/dpa

Segundo o analista alemão, o domínio da FRELIMO no aparelho de Estado aumentou significativamente desde que o Presidente Armando Guebuza foi empossado em 2005.

Rainer Tump acredita que, no passado, a RENAMO saiu várias vezes prejudicada das eleições. Para ele, a comunidade internacional devia ter atuado, pelo menos, na segunda volta das presidenciais de 1999. Conta que nesse período, "houve uma manipulação maciça dos resultados eleitorais". Consideraram-se inválidos centenas de milhares de votos em bastiões da RENAMO e face a isto, "a comunidade internacional devia ter pedido uma verificação", diz o analista.

Analista alemão duvida que RENAMO possa ter a mesma força

"Alguns países escandinavos ainda o chegaram a fazer, mas outros, como a Alemanha, não apoiaram suficientemente a iniciativa. Assim, a FRELIMO ficou a saber que podia fazer isso porque estava num país economicamente emergente. 'A comunidade internacional quer estabilidade, por isso podemos continuar a manipular os votos'", explica Tump.

Rainer Tump duvida que, a nível militar, a RENAMO possa voltar a ter a força que tinha durante a guerra civil. No conflito, em que morreram cerca de 900 mil pessoas, os rebeldes da RENAMO foram apoiados pelos regimes de 'apartheid' da Rodésia (hoje Zimbabué) e da África do Sul.

Economia crescente

Atualmente, Moçambique é uma das economias que mais cresce no mundo – tem uma taxa de crescimento anual de cerca de 7%. O conflito com a RENAMO poderia trazer consequências nefastas para os negócios. Sobretudo no que diz respeito à indústria do carvão.

Kohlemine Minas Moatize
Mina de carvão em Moatize da companhia britânica Beacon Hill Resources PLCFoto: DW/J. Beck

Na província de Tete, empresas como a brasileira Vale ou a britânica Rio Tinto, investiram vários mil milhões de dólares na exploração de recursos naturais.

Para exportar carvão, estão dependentes da Linha ferroviária de Sena e das estradas que passam pelos bastiões da RENAMO, na província de Sofala. Por isso, Rainer Tump prevê dois cenários: "Ou a RENAMO ficou tão enfraquecida e divida com a tomada da sua base que não vai conseguir reagrupar-se a nível militar. Ou então, atacará fortemente as ligações na província de Sofala, o que fará com que as grandes empresas mineradoras comecem a ter problemas".

Tendo em conta a queda dos preços do carvão a nível mundial, transportar carvão na estrada de "Tete-Run" e nas linhas ferroviárias ameaçadas pelos rebeldes poderia tornar-se demasiado perigoso e demasiado caro. E devido ao maior risco do país, os bancos poderiam começar a exigir mais seguranças e juros mais altos para os seus empréstimos ao setor mineiro em Moçambique, alerta Rainer Tump.

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Mapa das vias de exportação do carvão de TeteFoto: DW
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