Ana Gomes "não está sozinha nesta luta", dizem angolanos
20 de dezembro de 2019Numa nota enviada à imprensa, a FoA frisa ter a "obrigação moral" de estar ao lado de Ana Gomes pela "sua longa luta por uma Angola democrática” e pelo "seu exemplo de integridade". Para além de apoiar Ana Gomes, o grupo exige que a filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos explique publicamente a origem da sua riqueza
A posição da FoA é expressa numa nota que é subscrita por mais de 30 artistas, ativistas, jornalistas e profissinais de outras áreas.
Ana Gomes está a ser julgada num tribunal de Sintra, Portugal, na sequência de uma queixa movida por Isabel dos Santos, filha do antigo chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos. A empresária diz que foi difamada de forma reiterada por Ana Gomes. A ex-eurodeputada acusou a angolana de branquear capitais e enriquecer de forma ilícita.
A DW África entrevistou Rafael Morais, membro da FoA.
DW África: Esta campanha é uma forma de retribuir o apoio que a ex-eurodeputada Ana Gomes deu a Angola na luta contra a corrupção?
Rafael Morais (RM): Não é só isso. O povo angolano tem acompanhado a posição da Ana Gomes em relação a casos relacionados com países em África, como Moçambique, Angola e não só. Achamos que ela é uma senhora que trabalha em prol do bem do povo africano e, em particular, do povo angolano.
Nesta base achamos que a acusação feita contra ela por Isabel dos Santos não tem praticamente nenhuma relevância, porque sabemos que Isabel dos Santos ficou rica graças ao seu pai que foi Presidente da República de Angola. Ela foi uma das grandes beneficiárias e acreditamos que se o seu pai não tivesse sido Presidente da República talvez ela hoje estivesse com fome como os outros cidadãos angolanos.
DW África: Neste momento em que há um processo na justica, pretendem apoiar Ana Gomes de alguma forma mais concreto, como por exemplo em tribunal?
RM: A Friends of Angola (FoA) é uma voz solidária. Acredito que ela já tem advogados que seguem o caso. Acompanhamos a posição dela, até porque ela já veio a Angola algumas vezes e nunca teve nenhum receio de se pronunciar sobre a situação em que o povo angolano se encontra. É mais uma voz solidária, porque ela não está sozinha nesta luta e nós estamos todos com ela na posição que ela defende.
DW África: O que é que a FoA tem feito para exigir que Isabel dos Santos justifique a origem da sua riqueza?
RM: Foi a sociedade civil angolana que pressionou, de uma forma geral, para que houvesse mudanças em Angola, como a retirada do Presidente José Eduardo dos Santos. Foi a sociedade civil que pressionou para afastar todos aqueles que têm delapidado o erário público. A sociedade angolana tem pressionado diretamente o Estado angolano para afastar todas as ações maléficas que lesam o cidadão angolano e que continuam a colocar o povo angolano na pobreza extrema. É esse o trabalho que estamos a fazer e que vamos continuar a fazer.
DW África: Acha que Isabel dos Santos processou Ana Gomes porque acredita que foi realmente injustiçada e difamada ou é um gesto que visa limpar a sua imagem?
RM: Sim, acho que é um gesto que visa limpar a sua imagem lá fora. Na verdade, o que Ana Gomes fez foi um favor ao povo angolano. Isabel dos Santos fez muita asneira em Angola e parece-me que até tem um processo aqui, que ainda não respondeu. Isabel dos Santos nunca vai conseguir limpar a imagem dela, do meu ponto de vista. Só se ela voltar para Angola e pedir desculpas.
Ela tem muitas empresas e empregou muita gente, mas foi tudo graças ao que pertence ao povo angolano. Isabel dos Santos e José Eduardo dos Santos não têm pais ricos para serem herdeiros de riqueza. Todos os ricos angolanos só se tornaram ricos depois de estarem no poder. Aliás, a maior parte dos empresários em Angola são aqueles que estão no poder. Acho que Isabel dos Santos está a lutar para limpar a imagem dela lá fora.