"Isabel dos Santos quer calar Ana Gomes"
20 de dezembro de 2019A ex-eurodeputada Ana Gomes participou de audiência de alegações finais no âmbito do processo de natureza cível interposto contra ela pela empresária angolana Isabel dos Santos, nesta quinta-feira (19.12), no Tribunal de Sintra, em Portugal. Gomes responde por “difamação” ao ter referido no Twitter que a empresária angolana estaria a usar Portugal para lavagem de dinheiro.
Na saída da audiência, a diplomata portuguesa manteve o que disse no tribunal na primeira sessão de julgamento na última terça-feira. Ela alega que Isabel dos Santos e “outros cleptocratas angolanos” utilizam a banca portuguesa para “branquear fundos desviados de Angola, lesando o povo angolano”.
"O que me motiva é não pactuar com a cumplicidade que existe em Portugal relativamente ao roubo despudorado do povo angolano. Mantenho o que disse e sujeito-me naturalmente àquilo que vier a ser decidido pelo Tribunal", disse.
Gomes afirmou que está convicta de suas alegações e que todas as provas fornecidas em juízo são baseadas nas diversas comunicações que fez para autoridades europeias e nacionais.
Cúmplices em Portugal
Na ocasião das denúncias feitas a órgãos internacionais, a ex-eurodeputada pediu o "escrutínio face às informações que eram públicas dos processos utilizados pela mulher mais rica de África, pedindo empréstimos para, obviamente, lavar dinheiro através de Portugal", disse Ana Gomes à DW.
A diplomata portuguesa disse esperar que a justiça reconheça não apenas o exercício da sua liberdade de expressão, mas também o seu direito à cidadania. Gomes salientou que os alegados esquemas de branqueamento de capitais contam com "cumplicidades tremendas de portugueses, incluindo instituições portuguesas".
A ex-eurodeputada desafia Isabel dos Santos a ingressar com um processo-crime contra a sua pessoa, porque se chegaria, alegadamente, "à substância da fatualidade de que eu apresentei provas. Eu tornarei pública a minha contestação com todos os elementos", disse.
O advogado de Ana Gomes disse que a imagem de Isabel dos Santos em Angola é de uma "predadora dos bens públicos". Referindo-se aos vários negócios da empresária, Francisco Teixeira da Mota afirmou que a filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos vai ter "mais dissabores com a mudança do poder em Angola".
“Mão cheia de nada”
Em declarações à agência de notícias Lusa nesta semana, Isabel dos Santos afirmou que a realização do julgamento do processo que interpôs contra a ex-eurodeputada Ana Gomes "já por si é uma vitória" e que pretende "limpar" em tribunal o seu nome de "sucessivas calúnias".
A empresária diz que a eurodeputada gozou de imunidade parlamentar por muito tempo e que anteriormente não foi possível tomar nenhuma atitude em relação "às falsas acusações e mentiras por ela proferidas". Ao Ana Gomes deixar de ser eurodeputada, Isabel dos Santos diz que surgiu pela primeira vez a possibilidade de ir à Justiça reclamar pelo seu "bom nome".
O advogado de defesa de Isabel dos Santos, Carlos Cruz, disse não haver nenhum processo de instituição internacional - entre as quais da União Europeia - contra a empresária. Cruz diz que as intenções de Ana Gomes estão provadas em sua conta no Twitter.
Cruz fez referência às cartas de Ana Gomes às instituições europeias, salientando que estas não apresentavam qualquer vestígio de ato ilícito envolvendo Isabel dos Santos. "Não há provas, há apenas um conjunto de correspondências de Ana Gomes que se traduzem numa mão cheia de nada" - afirmou em Tribunal.
O advogado destacou que Ana Gomes estava no direito de exercício de liberdade de expressão ao escrever no Twitter que "a empresária é corrupta e usa o Banco EuroBic para lavar dinheiro". Para ele, no entanto, as declarações se tratam de "desabafos e excessos".