Angola: Congresso pode reavivar partido histórico FNLA
5 de maio de 2021A subcomissão do quinto congresso ordinário da Frente Nacional para a Liberação de Angola (FNLA) está a avaliar as oito pré-candidaturas à presidência do histórico partido angolano, oficializadas na última semana.
Entre os candidatos, destacam-se o atual presidente Lucas Ngonda, cuja liderança é contestada por várias alas, e Carlito Roberto, filho do falecido líder e fundador do partido – Holden Roberto.
Os outros candidatos à liderança são Álvaro Manuel, Fernando Pedro Gomes, Laiz Eduardo, Tristão Ernesto, Joveth de Sousa e Fernando José Fula "Tozé", antigo secretário nacional da JFNLA, braço juvenil da organização.
O porta-voz da comissão preparatória do congresso, Mfinda Leonardo Matubakana, diz que algumas candidaturas poderão não passar, por não cumprirem com os requisitos previstos nos estatutos do partido. "Há regulamentos para a apresentação de candidaturas a este nível. Então, já estamos a trabalhar. Já é patente que alguns deles ficarão pelo caminho e outros poderão concorrer ao cadeirão da presidência do partido", disse Matubakana.
Reerguer a FNLA
Alguns dos candidatos que falaram à DW garantem ter condições para disputar a liderança comandada há longos anos por Lucas Ngonda. Nsansi Ya Ndele, diretor de campanha de Carlitos Roberto, diz que o filho do fundador do partido poderá reerguer a organização que está à beira da extinção.
"A situação atual do partido não é propícia para encarar os desafios. Isto é o que levou o Carlitos Roberto a decidir candidatar-se ao cargo de presidente da FNLA. Queremos apaziguar os espíritos dos militantes desavindos há décadas", sublinhou o diretor de campanha do filho de Holden Roberto.
Rejuvenescer a organização liderada por Lucas Ngonda, de 81 anos, é um dos grandes objetivos da candidatura de Joveth de Sousa, membro do Bureau Político e ex-líder juvenil da FNLA.
"Temos assistido a um partido a envelhecer, um partido inoperante, um partido que não consegue dar respostas da capacidade de um partido histórico como é. Razão pela qual, no âmbito da renovação do partido, decidimos avançar com a candidatura jovem, uma liderança de jovens dirigida para jovens e sem descurar a necessidade de associarmos os mais velhos dentro do nosso projeto, no sentido de termos um partido que compete com outras formações políticas em igualdade de circunstância", argumentou o candidato.
Transição e unidade
Lucas Ngonda, atual presidente, disse em conferência de imprensa, realizada na passada quinta-feira (29.04), que concorre a pedido da sociedade civil e promete cumprir um mandato de transição até 2022. Ngonda diz que, nesse período, o partido realizaria um congresso extraordinário para eleger o cabeça de lista e os candidatos a deputados às eleições gerais.
Sobre a unidade no partido, Lucas Ngonda promete mudar a forma de atuação.
"Ao longo de todas as discussões efetuadas nestes últimos anos, o problema da unidade da FNLA não foi tratado como problema fundamental, mas sim foi relegado para um plano secundário", disse o político.
Colocar fim no conflito interno
Mas as intenções do líder da FNLA não convencem muitos dos militantes, como é o caso de Joveth de Sousa. O político diz que Lucas Ngonda já fez o seu papel no partido. "O presidente não foi obrigado por nenhum estrato da sociedade civil nem dos militantes. Nenhum órgão obrigou o presidente a recandidatar-se. É vontade própria de permanecer na liderança até à morte. É a natureza dos nossos líderes africanos. Precisamos de mudar este paradigma", criticou.
O porta-voz do partido, Mfinda Matubakana, afirma que a reconciliação na FNLA não depende somente da eleição de uma nova liderança, mas sim da boa-fé dos seus membros. "A mensagem que deixo aos militantes, amigos e simpatizantes e à grande família da FNLA é no sentido de salvarmos esta obra adormecida há mais de 20 anos", vincou.
Nsansi Ya Ndele apela aos militantes que participem em massa, em junho, na eleição de um novo líder da FNLA a fim de evitar o desaparecimento do partido. "Não podemos deixar sempre o partido em vias de extinção. Portanto, participemos todos em massa nas assembleias eletivas", conclui.