Angola: membros da FNLA pedem renovação na liderança
29 de março de 2018Os militantes da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) acusam a presidência do partido de não prestar contas e impedir a integração de jovens na direção da formação política.
Jovete de Sousa, membro do comité central do partido histórico em Angola, revelou que a organização enfrenta sérios problemas. Em sua opinião, a juventude não é valorizada pelos membros mais antigos, que justificam a permanência no partido por terem participado no processo da independência do país. O desabafo foi feito na base de um novo conflito no seio da FNLA.
Os jovens e o braço feminino da FNLA estão agastados com a forma como o partido está a ser dirigido. Os militantes exigem a convocação de um congresso para fevereiro do próximo ano e acusam o presidente da formação, Lucas Ngonda, de ter adulterado o comunicado final da última reunião do comité central do partido.
Presidente do partido recusa decisão da maioria
No início deste mês, o comité central do partido, fundado por Holden Roberto, realizou uma reunião que não foi conclusiva, pois cerca de 130 membros abandonaram os trabalhos depois que o presidente recusou a decisão da maioria, que defendia a destituição do secretário-geral, Pedro Mukumbi Dala, e a revisão das eleições no partido.Jovete de Sousa (na foto), que fala em nome de outros militantes descontentes, afirma que o secretário-geral, Pedro Mukumbi Dala, não está a cumprir com o estatuto do partido. "Mais de 130 membros do comité central fizeram um abaixo-assinado contra o executivo, dirigido pelo secretário-geral Pedro Mukumbi Dala. Remetemos esta assinatura ao presidente. Mas o presidente Lucas Ngonda refutou o pedido do Comité Central, que é o órgão que elege e destitui o secretário-geral. Então, o destituímos. Mas o presidente continua a negar a decisão do comité central”, disse.
Em resposta à posição de Ngonda em não atender a petição, os militantes do partido decidiram organizar uma manifestação e uma vigília na sede da organização, que terminou depois de ser dispersada pela polícia. Também houve detenções de militantes, que já estão em liberdade. No entanto, segundo o membro do Comité Central da FNLA, Jovete de Sousa, os dirigentes que criticam a liderança de Ngonda estão a ser impedidos de entrar nas instalações do partido.
Quebra do estatuto
Nesta semana vazou um documento que revela um possível pacto entre Lucas Ngonda e o partido no poder em Angola, MPLA. Uma carta de 2003, assinada pelo diretor de gabinete do então Presidente da Assembleia Nacional, Roberto de Almeida, informava que o grupo do MPLA se revia na ala de Lucas Ngonda.
"Informar ao Sr. Dr. Lucas Ngonda que nós na Assembleia Nacional assim como o Presidente da República nos revemos na ala liderada por ele e quanto aquele financiamento virá diretamente da Casa Civil do Presidente da República", lê-se no documento que a DW África teve acesso.O ex-secretário da Juventude do chamado partido dos irmãos, Jovete de Sousa, diz ainda que o presidente não quer convocar o congresso ordinário, sem passar pelo congresso extraordinário, cuja finalidade é por um lado, expulsar mais militantes e por outro, modificar os estatutos do partido.
"Segundo os nossos estatutos, o congresso é convocado um ano antes da sua realização. É o período em que se criam as comissões preparatórias para a realização da reunião magna partidária. Estamos no período da convocação do congresso que deve acontecer em fevereiro do próximo ano. Mas o presidente não o faz, porque quer convocar um congresso extraordinário para alterar os estatutos do partido e esta intenção está eivada de má-fé”, conclui.
Renovação no partido
De acordo com Jovete de Sousa, já é tempo de Lucas Ngonda deixar a liderança da FNLA. "É preciso injetar sangue novo na liderança do partido e nas esferas da liderança do mesmo. Todos os partidos estão a renovar-se e portanto a FNLA não pode continuar presa no espaço e no tempo”, reclama. Em sua opinião, os jovens não têm chances de fazer uma carreira política na FNLA por não terem participado na luta de libertação.
"Hoje a juventude da FNLA não emerge. Quantos jovens o partido tem na Assembleia Nacional a representar o partido? Quando se cria uma lista de candidatos a deputados, os jovens são sempre remetidos para as últimas posições”, critica.
As críticas à liderança amontoam-se, dentre elas o possível recebimento de dinheiro vindo do Estado e a falta de prestação de contas aos membros do partido. "O secretário-geral assumiu as funções em 2015. Em 2016 não apresentou os relatórios das contas do partido, e até agora, 2018, também não nos apresentou os relatórios. Apelamos ao Tribunal de Contas para que faça uma sindicância a direção do partido para saber onde vai o dinheiro que a FNLA recebe do OGE (Orçamento Geral do Estado)”, relata Jovete de Sousa.
A DW África tentou durante uma semana contactar o presidente do partido, Lucas Ngonda, mas não obteve resposta. O secretário-geral da mesma formação política também recusa prestar declarações à imprensa.