Falta transparência na atribuição de créditos aos jovens
12 de abril de 2023O governador da província do Cuando Cubango, José Martins, tem afirmado repetidamente que "a atribuição de créditos à juventude da província é um dos ganhos dos 21 anos de paz em Angola".
"O Programa de Reconversão da Economia Informal (PREI), por intermédio do Fundo Ativo de Capital de Risco Angolano (FACRA) e do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA), continua a atender às preocupações da juventude, concedendo microcréditos a muitos agentes nas áreas do comércio, agricultura, escoamento de produtos e turismo", adiantou Martins.
Mas vários jovens queixam-se que a preferência partidária - neste caso, pelo partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) - é um dos principiais critérios utilizados para a atribuição de créditos.
"Nem todos têm a mesma sorte"
"É mais do que visível, basta nós vermos as pessoas que beneficiam do crédito, já dá para entender que há influência partidária. Isto é mau", comenta Agostinho Soma, empreendedor na área da informática, em Menongue.
Em entrevista à DW África, Soma diz que não entende porque é que, mesmo com os documentos necessários e inclusive com um empreendimento físico e em atividade, não lhe é concedido qualquer crédito.
"Reunimos todos os requisitos necessários para aprovação, assinámos todos os documentos, mas, na hora H, ficámos surpreendidos". Nem todos tiveram a mesma sorte, "alguns foram beneficiados e outros não", lamenta.
O empreendedor acredita que a influência do MPLA é o critério fundamental para beneficiar de créditos: "Não é compreensível que todos nós sigamos os mesmos passos, pagamos os impostos necessários, fizemos tudo, sem diferença, mas no momento da entrega e de receberem financiamento, só alguns recebem".
Soma diz que já concorreu a três financiamentos anunciados pelo Governo e parceiros - o último do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário - e não recebeu nenhum.
Créditos apenas para a elite
Agel Sassoma, outro jovem empresário, também já solicitou financiamento, sem sucesso. Afirma que o crédito tem sido atribuído a uma pequena elite do partido que sustenta o Governo angolano.
"Temos acompanhado, nestes últimos tempos, algumas atribuições, como a do dia 8 de março, por exemplo: foram atribuídas algumas motorizadas para mulheres, mas foram direcionadas simplesmente a mulheres pertencentes ao partido no poder, o MPLA".
Para evitar situações do género, Sassoma sugere entregar a gestão do financiamento a privados.
"Com este comportamento, nós nunca alcançaremos desenvolvimento, nem social, nem económico. Há pessoas fora do partido que têm uma visão muito mais ampla, que poderiam desenvolver a província com este financiamento, mas, por falta de transparência, a nossa província continua na mesma."
A maioria das pessoas que recebem estes financiamentos não utiliza o capital para a criação de emprego e combater a pobreza, acrescenta Sassoma. O dinheiro serve apenas "para encher os seus bolsos", diz.
"Uma forma de corrupção"
Segundo o economista Elias Mulimba, 90℅ dos créditos na província costumam surgir nos períodos eleitorais com a finalidade de incentivar o voto.
"Este ato de dar créditos a algumas pessoas que têm filiação partidária, e a outras não, é perverso. Estamos perante uma forma de corrupção. O Estado deve ser sério ao tomar as medidas económicas, deve pautar-se pela certeza de investimentos e o retorno financeiro", refere Mulimba.