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Fundação 27 de Maio exige monumento às vítimas

13 de março de 2019

Fundação aplaude Governo angolano, que admite pagar reparações às vítimas da purga de 27 de Maio de 1977. E exige um monumento em homenagem aos angolanos mortos no combate ao chamado "fraccionismo" dentro do MPLA.

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Capa do livro "Purga em Angola", dos historiadores Dalila Mateus e Álvaro Mateus

José Fragoso, vice-presidente da Fundação 27 de Maio, louva a iniciativa do Governo angolano, que anunciou, na semana passada, que pondera pagar reparações às vítimas dos acontecimentos à volta do 27 de Maio de 1977.

O ministro angolano da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, disse, citado pelo Jornal de Angola, que foi elaborado "um estudo para reparar os danos sofridos pelas vítimas de repressão, pelos deficits de governação e por perseguição política, entre os quais as vítimas do '27 de Maio', dos massacres da guerrilha e outras vítimas da guerra".

O anúncio do governante peca apenas por tardio, comenta José Fragoso, também vítima da repressão: "Nós tínhamos consciência de que, tarde ou cedo, o passivo do 27 de Maio seria resolvido, ainda que não fosse na nossa vigência. Mas é bom que esse passivo seja resolvido enquanto nós, sobreviventes, ainda estamos vivos."

Agostinho Neto
Primeiro Presidente da República de Angola, António Agostinho NetoFoto: casacomum.org/Documentos Dalila Mateus

Monumento às vítimas do 27 de Maio

O ministro angolano da Justiça e dos Direitos Humanos já tinha reconhecido em novembro passado que, na altura, o Governo cometeu "excessos" depois dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977, que o então Presidente Agostinho Neto classificou como tentativa de golpe de Estado.

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) perseguiu então apoiantes do seu ex-ministro do Interior Nito Alves, os chamados "fraccionistas", que o partido no poder acusou de estar por trás da tentativa. Estima-se que, em 1977 e nos anos seguintes, dezenas de milhares de pessoas foram torturadas e mortas sem julgamento.

A Fundação 27 de Maio reúne-se daqui a dois meses, para determinar o montante que vai pedir ao Governo em prol das vítimas do massacre de 1977. Para já, exige a construção de um monumento em homenagem aos angolanos mortos no combate ao chamado "fraccionismo" dentro do MPLA.  

Fundação 27 de Maio exige monumento às vítimas

"Este é o ponto fundamental, a construção de um memorial, porque ninguém parte deste mundo sem deixar uma campa", afirma José Fragoso.

Comissão e reconciliação

Para além do memorial, o vice-presidente da fundação também defende a criação de uma comissão para se esclarecer o que realmente aconteceu a 27 de Maio de 1977 e nos dias seguintes.

"Nós somos defensores da criação de uma comissão idónea, composta de preferência por pessoas ligadas à Igreja, com uma idoneidade reconhecida", diz.

José Fragoso apela ao partido no poder, o MPLA, que "tenha a coragem" de se reconciliar com a sua própria história. O anúncio de que o Governo angolano está disponível para pagar indemnizações às vítimas do 27 de Maio é um bom sinal.

"Há muitos passivos… Para além do 27 de Maio, existem outros, como a sexta-feira sangrenta - uma série de atrocidades que o MPLA cometeu ao longo dos seus 44 anos de governação", conclui.

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