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Angola: Isabel dos Santos nega acusações da PGR

Lusa
1 de janeiro de 2020

A empresária Isabel dos Santos afirmou que nunca foi notificada ou ouvida no inquérito que levou ao arresto das suas contas em Angola. E negou as acusações, classificando o processo como "politicamente motivado".

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Foto: picture alliance/dpa/TASS/M. Metzel

Em comunicado enviado na noite desta terça-feira (31.12) à agência de notícias Lusa, a empresária angolana afirma "que nunca foi notificada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ou citada pelo Tribunal Provincial de Luanda", desconhecendo o teor da acusação e que "não teve oportunidade de apresentar defesa". 

"Este despacho sentença é resultado de um julgamento de uma providência cautelar, que ocorreu sem conhecimento das partes, de forma aparentemente arbitrária e politicamente motivado. Não compreendendo nem se podendo conformar com este enquadramento num Estado de Direito democrático como é Angola, Isabel dos Santos pretende opor-se a cada uma destas alegações em sede e tempo próprio nos termos estabelecidos na lei angolana", lê-se no comunicado de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.

Em causa está a medida cautelar do Tribunal Provincial de Luanda, que decretou o arresto preventivo de contas bancárias pessoais da empresária angolana Isabel dos Santos, do marido, Sindika Dokolo, e do português Mário da Silva, além de nove empresas nas quais detêm participações sociais.

Recuperação de ativos

Um comunicado de segunda-feira da PGR de Angola refere que o Serviço Nacional de Recuperação de Ativos intentou uma providência cautelar de arresto no Tribunal Provincial de Luanda contra os três empresários.

Kombobild Isabel dos Santos und Sindika Dokolo
Isabel dos Santos e o seu marido Sindika Dokolo

De acordo com a PGR, Isabel dos Santos, Sindika Dokolo e Mário Silva celebraram negócios com o Estado angolano através das empresas Sodiam, empresa pública de venda de diamantes, e com a Sonangol, petrolífera estatal. O arresto consiste numa apreensão judicial de bens e funda-se no receio de perda da garantia patrimonial face ao crédito não pago.

No comunicado de hoje, Isabel dos Santos afirma desconhecer "quando teve lugar a audiência de testemunhas referida no despacho sentença, a sua identidade ou quaisquer outros supostos elementos de prova trazidos ao processo".

"Não existe racional ou justificação para o valor apresentado no despacho sentença de 1.136.966.825,56 dólares [mais de mil milhões de euros] valor no qual supostamente o Estado foi lesado", acrescenta, sobre a reivindicação dada como provada e que consta da ação contra as alegadas ações dos três requeridos, por negócios em que envolveram as empresas Sodiam, empresa pública de venda de diamantes, e com a Sonangol, petrolífera estatal.

Além das contas dos três requeridos em Angola, foram ainda arrestadas as participações de Isabel dos Santos em várias empresas angolanas, como a Unitel, Zap, BFA, Contidis.

A empresária afirma no comunicado desta terça-feira que os "factos dados como provados para fundamentar" a decisão de arrestar os seus bens "padecem de evidentes falsidades, imprecisões e omissões".

Afrika Angola Zap TV in Luanda
ZAP é uma das empresas de Isabel dos Santos arrestadas pela Justiça angolanaFoto: DW/P. Borralho

Transferência milionária

Entre as várias acusações que para o tribunal ficaram provadas consta a de que Isabel dos Santos, por intermédio do seu sócio Leopoldino Fragoso do Nascimento "está a tentar transferir alguns dos seus negócios para a Rússia, tendo a PJ portuguesa intercetado uma transferência no valor de 10 milhões de euros que se destinava à Rússia".

No comunicado, Isabel dos Santos afirma tratar-se de uma informação "falsa e forjada", bem como "é também falsa a afirmação da intervenção da Polícia Judiciária portuguesa", garantindo Isabel dos Santos que não tem "ligação a este assunto e desconhecendo o mesmo".

"Novamente devendo a PGR, se estiver de boa fé, informar sobre os detalhes da suposta instrução bancária de Isabel dos Santos relativamente a uma conta do General Leopoldino do Nascimento e informação sobre a intervenção da Polícia Judiciária portuguesa", afirma a empresária angolana, ao mesmo tempo que assegura que "é falsa" a afirmação de que "está a ocultar património obtido à custa do Estado transferindo para outras entidades".

A empresária angolana afirma que, conforme "comunicado várias vezes publicamente e comprovado" pela documentação legal das sociedades, "não é, e nunca foi, sócia ou beneficiária" da empresa Geni, do General Leopoldino Fragoso do Nascimento, que detém entre outras participações 25% da operadora de telecomunicações móveis angolana Unitel.

"É igualmente falsa a informação de que Isabel dos Santos tentou vender participação na Unitel a um suposto cidadão árabe, devendo então a PGR, caso esteja de boa fé, informar o público o nome do cidadão árabe contactado e pormenores das datas de reunião e outras diligências realizadas", sublinha.

Angola Ex-Präsident Jose Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos, ex-Presidente angolanoFoto: picture-alliance/Lusa/P. Novais

Venda de diamantes

A decisão do Tribunal Provincial de Luanda de arrestar os bens da empresária Isabel dos Santos realça ainda o papel crucial desempenhado pelo ex-presidente da República José Eduardo dos Santos no negócio de diamantes da filha e seu marido, Sindaka Dokolo.

No despacho-sentença é dito que em audiência de produção de prova, ouvidas as testemunhas, resultou provado, entre outros factos, que, em agosto de 2010, o executivo angolano decidiu comercializar diamantes angolanos no exterior  e "oferecer o negócio a Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, sua filha e genro".

Entretanto, Isabel dos Santos afirma que não é e nunca foi sócia ou beneficiária das empresas De Grisogono (joalharia suíça de luxo detida em partes iguais por Sindika Dokolo e pela Sodiam) e Vitoria, e que por isso "nunca estabeleceu nenhuma parceria" com a diamantífera estatal angolana, que para o tribunal de Luanda terá sido prejudicada por esta parceria.

"É falsa a afirmação de que o Presidente José Eduardo dos Santos terá orientado a Sodiam para a venda de diamantes a preços inferiores aos praticados no mercado. Tal como é falsa e forjada a afirmação de que as empresas Iaxhon, Relactant, Odissey, Nemesis vendiam diamantes no exterior do País, sem que o Estado angolano tivesse qualquer visibilidade", garante Isabel dos Santos.