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Angola: Jovens bebem cada vez mais álcool

José Adalberto (Huambo)
27 de agosto de 2019

A dependência do álcool é sobretudo devido à falta de emprego e apoio familiar, muitos não conseguem deixar o vício. Este problema faz com que muitos jovens em Angola não consigam ter uma vida estável.

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Symbolbild Bier Alster Alsterwasser Radler Bayern Bierglas
Foto: Fotolia/Oleg Zhukov

O álcool é um problema que afeta muitos jovens angolanos. Na cidade do Huambo, no centro sul de Angola, os jovens dizem que bebem para esquecer os problemas, a falta de apoio da família ou o desemprego. Muitos deles tentam deixar o vício do álcool, mas fracassam. 

Um dos casos que a DW África encontrou foi de um jovem de 20 anos, órfão da guerra, numa esquina das ruas do Huambo. Ele diz que bebe para esquecer a falta de amparo familiar: "Consumo álcool para esquecer o sofrimento que sinto, porque não tenho ninguém que me possa ajudar", afirmou este jovem.

Não há números atuais sobre o consumo de álcool em Angola. Mas, nas ruas do Huambo, há cada vez mais jovens e adolescentes a consumir álcool. Cerveja, bebidas caseiras ou whisky em pacote - o importante, segundo afirmam, é sentirem-se estimulados. Outro jovem, de 23 anos, diz que quer libertar-se do vício do álcool, que o persegue desde a adolescência. Mas, segundo ele, a falta de emprego e as más amizades empurram-no para o álcool."Não é minha vontade consumir álcool, porque até tenho estado a fazer esforços para deixar, mas não consigo largar porque sinto tristeza quando não consumo bebida. Mas, se tivesse emprego, ajudaria a deixar o álcool", relatou este jovem anónimo.

Angola Stadtbild Hauptplatz in Huambo
HuamboFoto: Getty Images/AFP/G. Guercia

Problema global

O álcool em excesso é um problema de saúde pública, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de três milhões de pessoas morrem todos os anos em todo o mundo por uso abusivo de álcool. Em Angola, dados da OMS referentes a 2016 mostram que mais de metade dos homens e rapazes, maiores de 15 anos tiveram episódios de consumo excessivo. Nas mulheres, a percentagem é muito mais baixa, de 23%. Muitas pessoas morreram em acidentes de viação ou de cirrose hepática, devido ao álcool.

O médico João Menezes diz que, no seu consultório, houve um aumento do número de jovens pacientes com complicações relacionadas com o álcool."Uma das principais complicações é a perda das funções cognitivas. O paciente vai apresentando delírios ocasionais, e isso é consequência do álcool, que afeta diretamente o sistema nervoso", explicou o médico.O consumo excessivo de álcool pode também levar a outros problemas. "Aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo e pode provocar transtornos no aparelho circulatório e situações hemorrágicas. Quanto ao cérebro, que é um dos órgãos vitais, como se modifica a fluidez das membranas neuronais, o funcionamento do sistema nervoso fica deteriorado, devido ao consumo de álcool”, salientou João Menezes.

Jovens vítimas do álcool no Huambo

Vidas destruídas

Além disso, se consumido em excesso, o álcool pode frustrar sonhos, destruir carreiras e famílias. O sociólogo Adilson Luassa é membro da organização não governamental, Vida Saudável, e tem alertado para os problemas do consumo excessivo de álcool por parte dos jovens e adolescentes. 

"O que está na base desses males são questões que se prendem com o desemprego, a desestruturação familiar e também alguma falta de acompanhamento dos pais aos filhos, o que podemos apontar como desleixo familiar, fruto da desestruturação", afirmou Adilson Luassa.

Adilson Luassa entende, por isso, que o Governo deve acabar com o problema do álcool pela raiz.

"Era importante que o Ministério que cuida dos assuntos da família e promoção da mulher criasse políticas públicas com incidência direta nas famílias mais vulneráveis, para minimizarmos a fome e a pobreza no seio das famílias", acrescentou Luassa.