Angola lança diretrizes da Política Nacional de Habitação
11 de fevereiro de 2020O Governo de Angola apresentou no Fórum Mundial Urbano, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, as diretrizes preliminares da primeira Política Nacional de Habitação do país. A iniciativa surge em meio ao dramático défice de habitações nas zonas urbanas e intensas disputas de terras nas províncias.
A Política Nacional de Habitação (PNH) foi elaborada em parceria com o Programa da ONU para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) e tem como objetivo garantir moradias condignas e acessíveis à toda população.
O défice habitacional aumentou nos últimos anos, sobretudo entre os grupos populacionais que vivem em situações de vulnerabilidade. Segundo a diretora Nacional de Habitação, Ana Pereira, o principal desafio para o setor é a estabilidade económica, porque o país dispõe de amplas áreas que podem receber construções.
Participação popular
"Estamos já a elaborar alguns planos, mas a capacidade financeira tanto do país, quanto do cidadão é o maior desafio no momento. Como articular, como chamar a banca para o nosso lado? Isso [também] toca a legislação”, diz a diretora.
Ana Pereira apresentou nesta segunda-feira (10.02) - durante a conferência global que decorre ao longo dessa semana nos Emirados Árabes - os passos iniciais da Política Nacional de Habitação, que tem como principal objectivo, segundo suas palavras, "garantir habitação condigna e acessível a todos”.
Segundo as autoridades do Governo, a elaboração da PNH angolana contou com a abertura de espaços de participação. Houve consultas públicas no âmbito do Governo central, dos governos provinciais e municipais, da sociedade civil e das empresas privadas.
O projeto envolve as 18 províncias, mas será mais aprofundado nas províncias do Huambo, Luanda, Moxico e Zaire.
Zonar rurais serão abrangidas
O Programa Nacional de Urbanismo e Habitação, lançado há mais de dez anos, concentrou o financiamento privado na construção de habitações para a classe média angolana em vez de construir habitações sociais.
"Quando foi elaborado o Programa Nacional de Urbanismo e Habitação, nós estávamos a falar de um milhão de unidades habitacionais necessárias para garantir a estabilidade. De lá para cá, a população cresceu. Agora temos cerca de 28 milhões de habitantes e o que nós construímos não comporta isto”, esclarece Pereira.
A PNH prevê a revisão da Lei de Terras e da Lei de Fomento Habitacional. O chefe do conselho técnico da Representação Regional para a África do ONU-Habitat, Thomas Ramalho, explica que o princípio maestro da política de habitação de Angola se refere ao seu artigo constitucional.
"O que a gente fez a partir da Constituição de 2010 foi tentar extrair quais seriam os elementos interessantes para se formular uma política, implementando a Constituição na prática, em termos de seus direitos ligados às questões fundiárias, urbanas e de habitação. A Constituição de Angola fala em direito à moradia e à qualidade de vida, que é a maneira como interpretamos hoje em dia”, explica.
A implementação da política pública
As primeiras eleições autárquicas em Angola devem ocorrer neste ano. Ana Pereira sublinha que a implementação da PNH vai depender da articulação dos novos autarcas.
"A ideia é desconcentrar a implementação e toda a dinâmica da promoção habitacional. Ou seja, os autarcas e as autarquias vão ter o poder de gerir a terra e de promover habitação. O imposto habitacional IPU vai ser descentralizado para a autarquia. Com esse valor, o autarca pode fazer algum investimento.”
Fernando Eduardo Manuel, administrador municipal de Viana, na província de Luanda, acredita que a descentralização de competências vai ser positiva. A expectativa de Manuel é que, com as autarquias, haja autonomia das decisões locais na execução da política habitacional.
"Com as autarquias estará mais desenvolvido, mais reafirmado uma competência que têm agora as administrações municipais - considerando os direitos fundiários, que é uma dificuldade que se tinha, sobretudo, na busca do financiamento e na constituição das garantias que os bancos exigem”, explica o administrador.