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ReligiãoAngola

Angola: Medo da islamização ou pura xenofobia?

José Adalberto (Huambo)
4 de junho de 2022

Crescimento do Islão é visto por setores da sociedade civil como ameaça à segurança de Angola. Em entrevista à DW, presidente do Conselho Islâmico diz que receios são infundados. Jurista aponta tendências xenófobas.

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Muslime in Angola
Foto: Privat

As denúncias de tentativas de raptos de crianças por supostas cidadãs, alegadamente fiéis da religião islâmica, em Luanda, reacenderam em Angola uma velha polémica sobre o Islão e o terrorismo.

Num áudio que circulou recentemente nas redes sociais, ouvem-se vozes de cidadãs que se comunicavam em árabe e que supostamente tentavam atrair com doces e gelados os menores. Desconfia-se que o propósito seria transportar as crianças para um lugar um lugar incerto.

Uma das vozes mais críticas ao crescimento do Islão no país é o nacionalista e embaixador angolano Luís Neto Kiambata. Para ele, o Estado deve tomar medidas de segurança para que não aconteça Angola o que se passa na região de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

Ouvido pela DW África, o presidente do Conselho Islâmico de Angola (CONSIA), Altino Miguel da Conceição "sheikh Oumar", lamenta as declarações que associam o Islão ao terrorismo e recorda que Angola teve sempre boas relações com países que professam a religião, mesmo na fase da luta pela independência.

"A história contemporânea de Angola está cheia de exemplos de boas relações com países islâmicos, assumidamente islâmicos. Eu acredito que mesmo o nosso embaixador Neto Kiambata já passou por países muçulmanos, como Marrocos, Argélia e Tunísia", sublinha.

Tendências xenófobas

Para "sheik Oumar", não tem qualquer cabimento comparar a situação vigente na região de Cabo Delgado, em Moçambique, com a presença do Islão em Angola. "Cada realidade é uma realidade, não podemos aqui fazer uma comparação entre a realidade angolana e a realidade moçambicana", afirma.

David Já, jurista e membro de direção do Conselho Islâmico, considera que os pronunciamentos que associam o Islão a práticas que visam a subversão da ordem e segurança são descabidos e com tendências xenófobas. "O Islão não existe só em Angola, Angola não é extraterrestre. Angola é membro das Nações Unidas e da União Africana e a religião islâmica é uma religião secular, a religião não é sinónimo de terrorismo", frisa.

David Já defende que o Islão é uma religião de paz e considera um erro associá-la ao terrorismo: "A religião islâmica é uma religião de bem, que apregoa o bem fazer".

Em Angola, estima-se que existam cerca de 800 mil pessoas que professam o Islão e 119 mesquitas em todo o país.

"Como muçulmana, tenho o sentimento de não ser aceite"

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