Caminho de Ferro de Benguela: melhor integração económica
18 de fevereiro de 2015
Com a inauguração (14.02) da estação do Luau, a linha ferroviária de Benguela volta a ligar os dois extremos de Angola, litoral e interior, até à fronteira com a República Democrática do Congo. O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, deslocou-se à província do Moxico para a inauguração e esteve na companhia dos seus homólogos da República Democrática do Congo (RDC), Joseph Kabila, e da Zâmbia, Edgar Chagwa Lungu.
Tanto a Zâmbia como a RDC são dois países do interior do continente africano que voltam assim a ter uma forma de exportar, por via marítima - através do designado "corredor do Lobito" - os minérios extraídos nas regiões de Copperbelt (Zâmbia) e de Katanga (RDC).
Paralisado há 32 anos devido ao recém-terminado conflito armado, o regresso do comboio à fronteira dos três países, é para o governo angolano um grande contributo para impulsionar o desenvolvimento do corredor do Lobito, através dos Caminhos de Ferro de Benguela (CFB) facilitando desta forma a cooperação económica na região da SADC em termos de integração regional das economias.
Integração regional das economias da SADC
Mas, numa recente conferência internacional realizada na cidade portuária do Lobito, o economista e professor da Universidade Católica de Angola, Carlos Rosado de Carvalho, mostrou-se céptico quanto à integração regional das economias da SADC, num curto espaço de tempo, apesar de Angola, Zâmbia e RDC já estarem ligados pela linha férrea através dos Caminhos de Ferro de Benguela.
Para o economista Rosado de Carvalho a África tem um problema no que concerne à integração regional. “Os países mais desenvolvidos a nível mundial nomeadamente os da Europa desenvolveram-se através das trocas e este processo foi facilitado pela integração regional. E não vai haver comércio regional se não houver estradas e caminhos de ferro. Portanto, desse ponto de vista temos uma localização privilegiada. Agora, precisamos é saber aproveitar todo este potencial e não fazer o contrário como sugerem alguns investimentos não atualizados”.
Débil operacionalidade dos CFB
O cetismo do também diretor do semanário económico "Expansão", quanto às vantagens do comércio livre e internacional na região através dos Caminhos de Ferro de Benguela (CFB) é ainda agudizado, pela débil operacionalidade das linhas férreas que a nível interno é quase nula.
Depois de destacar que os caminhos de ferro em Angola foram apresentados como a oitava maravilha do mundo, Carlos Rosado de Carvalho acrescentou “era Luanda/Malanje, era o de Benguela e o do Namibe. Mas passados todos estes anos e com o dinheiro que foi gasto que benefícios os caminhos de ferro trouxeram a não ser a construção de estações que ninguém frequenta? Não sou eu que estou a dizer mas é a realidade. E como os comboios não circulam deve haver algum problema”.
O empreendimento público mas de concretização totalmente chinesa, foi concluído em 2014 e esteve em testes até agora, com a partida do designado "comboio inaugural", que aconteceu na terça-feira passada (17.02), com a partida do Lobito, numa viagem de 30 horas percorrendo mais de 1.300 quilómetros, transportando os primeiros 250 passageiros.
Reabilitação da rede ferroviária de Angola levou dez anos
A reabilitação da rede ferroviária angolana, destruída pela guerra civil, custou, entre 2005 e 2015, mais de três mil milhões de euros, segundo o ministro dos Transportes de Angola, Augusto da Silva Tomás.
Só a reabilitação da linha dos Caminhos de Ferro de Benguela, agora totalmente concluída, custou quase 1,8 mil milhões de euros, cruzando quatro províncias angolanas e uma área com sete milhões de habitantes.
O sistema ferroviário angolano está alicerçado nos portos de Luanda, Lobito e Namibe, criando desta forma uma rede intermodal para servir também o transporte de mercadorias.