Angola: Trabalhadores da EPAL acusam ministro de corrupção
16 de maio de 2019Os grevistas exigem um aumento salarial na ordem dos 50% contra os 200 da primeira exigência. Ou seja, querem um salário base de cem mil kwanzas (mais de 300 euros) em detrimento dos 40 mil (mais de 100 euros). Para além do salário, também querem ver melhoradas as condições de trabalho e seguro de saúde.
A greve foi decretada a 28 de março deste ano. Volvidos quase dois meses de paralisação, os trabalhadores e a entidade patronal não se entendem. Em conferência de imprensa esta quinta-feira (16.05.), António Martins 1º secretário da comissão sindical da Empresa Pública de Água de Luanda (EPAL) fez saber que as negociações estão paralisadas há duas semanas e que por enquanto não há solução à vista.
O sindicalista apelou à intervenção das entidades superiores param por termo ao diferendo. "Estamos a apelar a todas as pessoas e instituições públicas para que nos ajudem a dirimir esse conflito."
Durante a conferência de imprensa, António Martins denunciou a existência de mais de 50 contas bancárias na empresa pública para o depósito das receitas que são arrecadadas.
Indícios de corrupção e ilegalidades
A DW África questionou ao sindicalista se isso indiciava a existência de corrupção na empresa. "Acredito que sim porque durante o tempo em que a empresa funcionava de forma normal, ela tinha menos conta bancária. Mas no momento em que se verificou a existência de muitas contas bancárias passa a verificar muitos incumprimentos relativamente ao pagamento de salários e outras despesas”.Esta não é a única suposta ilegalidades da empresa.
Os trabalhadores da EPAL dizem ter provas sobre garimpo de água feito pelo ministro de Energia e Águas. Ou seja, o governante possui "girafas" (mecanismos para abastecimento das cisternas) localizadas em Cacuaco, zona norte de Luanda e no Benfica, a região sul da capital angolana.
"Temos provas sobre "girafas" que estão na posse do senhor ministro de Energia e Águas porque enquanto sindicalistas temos feito inspeções, temos visitado as demais locais da empresa. (Aliás), foi o próprio sobrinho a dizer: "isso é do ministro”.
No negócio de água também estão envolvidas altas patentes das Forças Armadas Angolanas (FAA). Apesar de não estarem identificadas, os trabalhadores afirmam: "há generais no garimpo de água em Luanda".
"Não temos identificado os nomes dos generais, mas é uma situação aberta em que os chefes na empresa dizem: "esta e aquela girafa deve ter um atendimento especial porque são dos generais", dizem.
Desde o início da greve, os populares em Luanda consomem água imprópria. António Martins descarta ser consequência da paralisação, mas aponta a falta de produtos químicos para o seu tratamento.
"Nessa altura não há produtos químicos e ainda que os trabalhadores estivessem lá a exercer a sua atividade sem produtos químicos ficaria difícil resolver essa situação. Mas se a entidade empregadora os adquirisse com a presença dos trabalhadores nenhum obstáculo venceria a ação humana”.
A DW África tentou sem sucesso ouvir a direção da EPAL e o ministro de Energia e Águas sobre a greve e estas denúncias.