Angola: Um país hipotecado?
27 de agosto de 2018A lista de Estados onde Angola foi pedir empréstimos é extensa. No rol, estão países como a China, a Rússia ou o Brasil, mas não só.
Ainda na semana passada, o Governo angolano assinou um acordo de financiamento de 431 milhões de euros com o banco alemão Commerzbank. Ao mesmo tempo, foi anunciado que Angola pediu ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de 3,9 mil milhões de euros.
O Governo diz que os créditos servirão de "alavanca" ao investimento privado e, por isso, tem recebido elogios. Mas Agostinho Sicato, diretor do Centro de Debates e Estudos Académicos de Angola (CDEAA), critica o facto de Luanda não divulgar o valor total da dívida do país.
"Num país como Angola, desde que a guerra terminou, nunca foi explicada qual é a dívida real do Estado, qual é a dívida externa que temos, com quem é que nos endividámos e onde é que param os dinheiros", diz. "Nenhum angolano sabe quanto é que o país deve e a quem deve. Os próprios deputados não sabem. Passam aí a fazer 'show off' todas as semanas no Parlamento, e nem sequer sabem em concreto qual é a dívida do Estado."
China: o maior credor
Acredita-se, porém, que a China é o país com quem Angola tem mais dívida. Em maio deste ano, o jornal angolano Expansão noticiou que, até dezembro de 2017, cada angolano devia à China 754 dólares. A dívida total de Angola à China rondaria os 21,4 mil milhões de dólares.Na semana passada, o embaixador da China em Angola, Cui Aimin, disse em Luanda que a dívida que o Estado angolano contraiu ao seu país "é controlável, sustentável e não é muito má", mas não adiantou valores.
O economista Josué Chilundulu defende mais diálogo por parte do Executivo. "O Governo tem que dizer até onde vai o limite do seu endividamento. O Governo tem que dizer porque que se está a socorrer destes investimentos e tem que informar a população qual é a sua agenda de desenvolvimento real", afirmou.
"Estamos a hipotecar o país"
O analista angolano Agostinho Sicato teme que, com o acumular do endividamento, os cidadãos saiam prejudicados. "Estes países com quem nos endividámos, quando não soubermos como lhes pagar, vão apropriar-se dos cidadãos e das suas próprias terras", sublinhou. "Na verdade, estamos a hipotecar o país."
Em declarações à DW África em Luanda, o ativista Benedito Jeremias pede ao Presidente angolano, João Lourenço, que tenha cuidado nas negociações com o FMI, marcadas para outubro.
"É preciso que o Presidente João Lourenço use a inteligência, que negocie bem essas dívidas, que encontre ganhos nessas parcerias para que encontremos, também no futuro, facilidades no pagamento desses dinheiros", disse o ativista angolano.
"É necessário que o presidente João Lourenço no exercício das suas funções procure se ater aos princípios da transparência, aos princípios da ética na gestão dos patrimónios público", alerta Benedito Jeremias.