Angola: Zonas de diamantes sem água e luz para populações
22 de agosto de 2017O dia começa cedo na vila do Cuango. O local fica a mais de 500 quilómetros da capital angolana. Já ao amanhecer, os habitantes andam de um lado para o outro, atarefados, na luta pelo ganha-pão. A exploração informal de diamantes, o pequeno comércio e uma tímida agricultura familiar são algumas das fontes de sustento dos habitantes locais.
Esta é uma região de exploração de diamantes, mas as pedras preciosas não brilham na vida da população como brilham para os que lucram com o negócio. Os moradores queixam-se de várias dificuldades - incluindo a escassez de água potável.
A falta de escolas é outra queixa dos moradores. Muitos alunos têm de percorrer dezenas de quilómetros a pé para aprender o "ABC", explica o professor Figueiras Caiala, de 50 anos. "As escolas são poucas e os alunos são muitos. Eles vêm longe para estudar nessas escolas."
"Escuridão"
O pôr-do-sol traz consigo a escuridão. Não há distribuição elétrica na zona e o barulho dos geradores toma conta das ruas e das residências. Emma Mzumba é uma cidadã da República Democrática do Congo que gere uma pensão. Os hóspedes ficam às escuras já a partir das 22 horas: Emma precisa de poupar o combustível do gerador para o dia seguinte.
"Aqui consumimos apenas energia de gerador e cada um tem o seu. Estamos muito tempo sem energia do Governo, só utilizamos gerador", diz.
De Cuango a Cafunfo são 80 quilómetros. Não há estradas asfaltadas, apenas uma picada. Cafunfo é outra região diamantífera com problemas semelhantes aos do Cuango, diz o morador Domingos Filipe: "Não tem estrada, nem água e luz."
Nos estabelecimentos formais e informais de comercialização de diamantes lê-se a palavra "Boss", escrita em letras garrafais nas paredes. O termo refere-se aos empresários que compram pedras preciosas.
Em regra, são cidadãos de nacionalidade estrangeira que adquirem os diamantes a troco de dinheiro, ou de bens e serviços. Por exemplo, carros ou motorizadas. Já as lojas de diamantes ficam junto a um bairro de lata onde vivem, sobretudo, jovens.
Produção diamantífera
As autoridades governamentais não comentam as condições de vida da população. Soba Mamuxico, que vive em Cafunfo desde 1988, aponta o dedo às empresas diamantíferas. Segundo ele, essas empresas estão a expropriar terrenos de camponeses sem pagar indemnizações justas.
"Estão a dar cerca de 20 mil, 30 mil. Eu disse não - o que Governo faz está mal. O Governo está a estragar as lavras, a matar o povo, ou dar-lhe a vida?", questiona, acrescentando que "as empresas que exploram diamantes destroem as lavras e a água para beber."
As empresas não comentaram o assunto.
Angola vai às urnas esta quarta-feira (23.08). Em campanha eleitoral, partidos como a CASA-CE, a FNLA e a APN, já visitaram a região. Todos eles fizeram promessas e deixaram uma mensagem de esperança.
O leste de Angola é tradicionalmente uma praça política do Partido de Renovação Social - PRS. Se ganhar, Benedito Daniel, o candidato do partido à Presidência da República, promete reservar 50% do valor da exploração diamantífera para resolver os problemas da população local.
"Esses diamantes que os outros 'bosses' estão a comprar, levam para as suas terras. Nós não proibimos que eles comprem, mas seria necessário que algo ficasse também para os angolanos", disse o candidato.
Os diamantes são o segundo maior produto de exportação angolana e renderam cerca de 920 milhões de euros em 2016, segundo informações do Ministério da Geologia e Minas do país.